O desaquecimento da economia mundial, agravado pela pandemia de coronavírus, fará com que o comércio exterior brasileiro fique US$ 49,7 bilhões menor do que no ano passado. Segundo projeção divulgada nesta segunda-feira pelo Ministério da Economia, a soma de exportações com importações no Brasil será de US$ 353 bilhões em 2020, o menor valor desde 2016, quando o fluxo comercial do país ficou em US$ 322,8 bilhões.
Para a área econômica do governo, a balança comercial terá um superávit de US$ 46,6 bilhões este ano, valor inferior aos US$ 48 bilhões contabilizados em 2019. Os técnicos apostam que as exportações somarão US$ 199,4 bilhões em 2020, com queda de 11,4% ante o ano anterior, e as importações ficarão em US$ 153,2 bilhões, valor 13,6% abaixo do período de comparação.
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Os cálculos levaram em conta os números obtidos até abril deste ano. O secretário de Comércio Exterior, Lucas Ferraz, explicou que a previsão considera variáveis como importações mundiais, taxa de câmbio real, atividade econômica brasileira, produção industrial e o comportamento do próprio comercio exterior brasileiro. Assim, os dados considerados também refletem os efeitos da pandemia até o momento.
- É, sim, possível que as exportações e importações caiam ainda mais que o projetado, a depender da duração da crise. Contudo, dada as características da nossa pauta exportadora e o bom desempenho relativo do continente asiático, acreditamos que as exportações cairão menos que as importações, tornando o saldo comercial não muito longe do projetado atualmente - afirmou.
Como reflexo desse cenário, as exportações de produtos industrializados caíram quase 20% em abril, em relação ao mesmo mês do ano passado. As maiores quedas ocorreram com automóveis (78,8%), aeronaves (85,4%), autopeças (63,6%) e siderúrgicos (72,3%).
Essas reduções se refletiram nas encomendas feitas pelos principais importadores de produtos manufaturados do Brasil. As vendas para a América do Sul caíram 44,1%, sendo que para a Argentina a queda foi de 46%. Os embarques para os Estados Unidos tiveram um decréscimo de 31,7%.
De acordo com Lucas Ferraz, a queda das vendas para os EUA é reflexo direto do grande recuo da economia americana. Houve uma redução de 4,8% somente no primeiro trimestre naquele país.
- Além do fato de que nossa pauta bilateral apresenta forte concentração em manufaturados e semimanufaturados, cujos fluxos globais estão em queda mundial, em função do impacto negativo desta crise sobretudo para as cadeias globais de valor - disse o secretário de Comércio Exterior.
Quanto à América do Sul, Ferraz afirmou que as exportações caíram, principalmente, por conta da queda nas vendas do setor automotivo e de petróleo bruto. Além da desaceleração econômica causada pela pandemia, que tem afetado países exportadores de commodities em geral, como é o caso da maioria dos países da região, as encomendas de veículos vinham e continuam sendo afetadas pela crise econômica da Argentina, principal destino das exportações automotivas do Brasil.
- Já a exportação de petróleo tem sido afetada pela queda abrupta nos preços internacionais, resultado do forte excedente de oferta mundial - acrescentou.
Por outro lado, as exportações para a Ásia aumentaram 28,65%. No caso da China, principal parceiro comercial do Brasil, as exportações cresceram 29,5%. Já os embarques para a Europa tiveram um pequeno acréscimo de 0,21%.
O fraco desempenho nas vendas de manufaturados ao exterior contribuiu para uma redução de 0,3% das exportações de abril. O resultado só não foi pior, porque os produtos agropecuários apresentaram um crescimento de 59,7% ante abril de 2019. Já a indústria extrativa, com ênfase para petróleo, diminuiu os embarques em 5,7%.
Ainda segundo o Ministério da Economia, houve uma queda de 10,3% das importações em abril, com destaque para automóveis, autopeças, equipamentos de telecomunicações e minérios. Com uma queda nas compras externas maior à verificada nas vendas externas, a balança comercial brasileira apresentou um saldo positivo de US$ 6,7 bilhões.
O superávit de abril corresponde à diferença entre US$18,3 bilhões em exportações e US$ 11,6 bilhões em importações. Apesar de um acréscimo de US$ 1,1 bilhão no saldo, em relação ao mesmo mês de 2019, houve uma queda de 4,5% na corrente de comércio.
Já no primeiro quadrimestre de 2020, houve um superávit acumulado de US$ 12,3 bilhões, valor US$ 2,4 bilhões abaixo do verificado no mesmo período do ano passado. As exportações somaram US$ 67,8 bilhões e as importações, US$ 55,6 bilhões. A corrente de comércio, contudo, permaneceu praticamente inalterada, de US$ 123,4 bilhões, montante 2,2% abaixo do verificado nos quatro primeiros meses de 2019.
Lucas Ferraz lembrou que, com uma economia global em recessão e uma demanda mundial em forte declínio, a Organização Mundial do Comércio (OMC) prevê que as trocas comerciais caiam, no mínimo, 13% este ano. Segundo ele, apesar desse cenário adverso, a exportação brasileira apresentou aumento de volume de 1,1% no quadrimestre.
- A queda registrada no valor exportado decorreu do recuo de 2,6% nos preços comercializados, reflexo da queda da atividade econômica mundial. O mesmo fator também afeta os preços dos bens importados, que apresentaram queda de 6,2%, enquanto que os volumes importados cresceram 3,1%.
Para o secretário, os dados da balança sugerem que os contornos da crise mundial ficaram mais claros a partir deste mês de abril, com um recuo das importações mais acentuado que os das exportações. Contudo, a queda quadrimestral da corrente de comércio, de 2,2%, deverá ser bem menos acentuada do que no resto do mundo, sobretudo pelo desempenho positivo das exportações.
Fonte: O Globo