A cadeia de café estava à espera do frio deste fim de semana e dos efeitos dele sobre as lavouras de café.
Geou em várias regiões cafeeiras, mas o estrago, ainda sendo apurado, não foi tão intenso como se temia.
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Os agrônomos de regiões afetadas, como as do Paraná, de São Paulo e de Minas Gerais, foram ao campo para avaliar os efeitos da geada.
A constatação inicial foi o suficiente para uma redução nos preços do café na Bolsa de Nova York. O contrato de setembro, comercializado a US$ 1,111 na sexta-feira (5), recuou para US$ 1,064 por libra-peso nesta segunda-feira (8).
Gil Barabach, consultor de café da Safras & Mercado, diz que a resposta de quanto vai ser a safra fica por conta dos agrônomos. O tamanho dela, porém, não é a única variante que afeta os preços.
O risco da geada passou, mas o país ainda tem metade da safra 2019/20 para ser colhida e não se sabe o quanto a próxima (2020/21) foi afetada.
Os preços, contudo, não dependem apenas do volume da safra, mas também da qualidade do produto, do rendimento e do dólar.
Se o dólar ficar valorizado, incentiva as vendas e aumenta a oferta do produto, derrubando os preços. Se cair, pode agir de forma contrária.
“Por enquanto, o cenário está favorável para quem compra, mas pode mudar e dar suporte aos preços internos e externos”, diz Barabach.
A estimativa da produção brasileira da Safras & Mercado, antes do início da safra, era de 58,9 milhões de sacas. A concretização desse volume vai depender do efeito do frio e do rendimento da safra, segundo o consultor.
Para Eduardo Carvalhaes, do Escritório Carvalhaes, de Santos (SP), “a geada bateu na trave”. Como Barabach, ele avalia que não dá para prever preços futuros apenas pela geada. A alta já vinha ocorrendo antes do frio, por causa da colheita adiantada, da qualidade do café e dos grãos menores.
Mas a definição da produção brasileira será importante para o mercado mundial. O Brasil vem avançando no exterior, ocupando espaços de outros produtores, diz Carvalhaes.
”É só ver os números que acabam de ser divulgados pelo Cecafé [Conselho dos Exportadores de Café do Brasil]”, diz ele. A instituição divulgou nesta segunda-feira que as exportações atingiram o recorde de 41,1 milhões de sacas na safra 2018/19 (julho do ano passado a junho deste ano), 35% mais do que na anterior.
As vendas acumuladas de janeiro a junho também foram recordes, somando 20 milhões de sacas. As receitas, no entanto, não tiveram o mesmo ritmo de desempenho, somando US$ 5,3 bilhões nos últimos 12 meses, com evolução de apenas 9,3%.
O preço médio da saca caiu para US$ 131, com redução de 18,7% em relação ao da safra anterior.
O bom, segundo Carvalhaes, é que o país está aumentando a venda de cafés de melhor qualidade. O ruim é que quem paga essa conta —a da queda de preços— é o produtor.
Diferenciado
As exportações de café considerado de melhor qualidade somaram 3,9 milhões de sacas no primeiro semestre, 19% das vendas totais feitas pelo Brasil. As receitas atingiram US$ 611 milhões, 24% do valor total, segundo dados do Cecafé.
Fonte: Folha SP