Se as projeções dos geógrafos estiverem corretas, o Brasil terá uma população de 219 milhões de pessoas em 2040 - e, a partir daí, fato inédito, o ritmo começará a declinar. A emissão de gases-estufa do país, contudo, corre o risco de aumentar. A razão disso é a mudança no perfil dos brasileiros e de seus hábitos.
A tendência é que o crescimento da população continue a ocorrer nos centros urbanos - e pessoas que vivem em cidades têm hábitos de consumo que provocam mais emissão de gases-estufa do que as populações rurais. A mudança do perfil etário, com os brasileiros envelhecendo e tendo menos filhos, complica o quadro. "Um adulto emite muito mais do que uma criança", afirma o pesquisador Ricardo Ojima, coordenador pela Unicamp do Núcleo de Pesquisas de Redes na área de mudanças climáticas e urbanização. Ou seja, a população brasileira tende a envelhecer, consumir mais e produzir menos. Essa combinação significa risco de emitir mais gases-estufa.
Entre 1950 e 1980, cerca de 60% do aumento de emissões no mundo vieram de países que contribuíram com apenas 12% do crescimento populacional, disse Ojima, durante palestra em São Paulo. " Países da África, por exemplo, têm população grande, mas consomem muito menos que os desenvolvidos", disse. "Isso muda, se entrarem no mercado, claro."
O setor de seguros tem observado de perto o que dizem os estudiosos em mudança climática. Apenas um furacão, o Karl, da temporada de 2010 no Atlântico Norte, provocou prejuízos de US$ 5,6 bilhões. A estação de furacões poderá ser acima da média em 2011. O Centro Nacional de Furacões, no Atlântico Norte, prevê entre 12 e 18 tempestades fortes e 6 a 10 furacões, metade deles considerados de grande porte.
A estação de tornados nos EUA, em 2011, provocou 523 mortes, a mais grave da história. As perdas estimadas, em abril, somam US$ 10 bilhões e as de maio, entre US$ 4 bilhões e US$ 6 bilhões.
O terremoto e o tsunami no Japão, embora sejam fenômenos naturais que não têm a ver com a mudança do clima, causaram mais de 20 mil mortes e desaparecimentos, e perdas econômicas que superam US$ 350 bilhões. "É o desastre natural mais caro do mundo", observou John Arpel, presidente da Allianz Risk Transfer Holanda, um especialista na área de gerenciamento de riscos.
Com a mudança do clima, o setor sofistica a sua atuação. Arpel conta que investidores na Alemanha, na França e na Itália já procuram seguros para falta de vento nas turbinas eólicas e pouco sol para as placas fotovoltaicas que produzem energia solar.
O pesquisador brasileiro alertou para a urgência de políticas públicas no país que facilitem a adaptação às novas condições impostas pela mudança do clima. Fazendo uma brincadeira com a plateia, Ojima pediu que todos cruzassem os braços. Depois, pediu aos que colocam o direito sobre o esquerdo, que trocassem a ordem, sugerindo o mesmo aos outros.
"Fica um pouco desconfortável, mas é possível", continuou. "Adaptação à mudança do clima é isso", prosseguiu. "Temos que nos antecipar aos fenômenos, procurar mecanismos de adaptação que sejam pró-ativos e não apenas emergenciais", recomendou. "Sustentabilidade é uma utopia. Trata-se de uma busca constante que devemos ter."
fONTE:vALOR Econômico/Daniela Chiaretti | De São Paulo
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