Há certa apreensão, mas com manutenção de planos de investimentos. É assim que a Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo interpreta os dados da pesquisa de conjuntura dos meses de agosto e setembro, realizada com cerca de 35 empresas alemãs.
O levantamento mostra que 35% dos pesquisados consideram que o ambiente daqui a seis meses ainda se manterá "favorável" para investimentos. Outros 40% consideram que o quadro estará "mediano". Os dados da pesquisa sinalizam apreensão para o ambiente de negócios no Brasil. Na pesquisa anterior, de junho e julho, 54,5 % dos pesquisados consideravam "favorável" o cenário da época para investimentos e 27,3% avaliavam como "mediano".
Weber Porto, presidente da entidade, diz que os investidores estão mantendo seus projetos para o Brasil, apesar de certa preocupação em relação aos eventuais impactos da crise na zona do euro no mercado doméstico. Para ele, a preocupação com a crise global não deverá retardar o fluxo de investimento planejado.
Ele lembra que a expectativa dos investidores é que o Brasil mantenha o crescimento em 2011 e nos próximos anos, embora em ritmo abaixo dos 7,5% do ano passado. "Muitas empresas deixaram de investir, ou reduziram o ritmo de investimento, em 2008, em razão da crise, e depois deixaram de aproveitar o forte crescimento do mercado brasileiro."
Para ele, agora há uma nova oportunidade. O Brasil está entre os países emergentes, diz, e, além do potencial grande de crescimento de renda e de seu impacto sobre o consumo, há também eventos importantes que devem gerar dinamismo ao mercado doméstico, como a Copa do Mundo e a Olimpíada.
A mesma pequisa conjuntural de agosto e setembro aponta que a maior preocupação das empresas alemãs instaladas no Brasil é a falta de mão de obra qualificada. O item, que teve 25,5% dos votos no último levantamento, costumava ser o quarto item de preocupação nas sondagens anteriores.
Para Ingo Plöger, diretor de relacionamento bilateral da Câmara Brasil-Alemanha, a preocupação das empresas com a falta de mão de obra qualificada é um indicador não só do crescimento do mercado doméstico como também da perspectiva das companhias alemãs de continuar investindo. Segundo o diretor, o problema passou a tornar-se mais significativo nos últimos dois anos.
A preocupação com a mão de obra desbancou a tradicional campeã da classificação, a carga tributária e trabalhista, que ficou em segundo, com 15,7% dos votos. No caso dos investidores alemães, diz Plöger, um facilitador de investimentos, principalmente em pesquisa, desenvolvimento e inovação, seria a assinatura de um acordo para evitar dupla tributação entre o Brasil e a Alemanha. Segundo ele, vários investimentos alemães acabam entrando por terceiros países, que mantêm acordos tributários com o Brasil.
O terceiro maior problema apontado é a infraestrutura, com 10% dos votos. Plöger lembra que o aumento da corrente de comércio total do Brasil intensificou gargalos, principalmente em portos e aeroportos, que aumentaram o tempo necessário para o desembaraço de mercadorias.
Apesar das preocupações, diz Plöger, o Brasil ainda é visto como um mercado promissor para os alemães. Segundo dados da entidade, há no Brasil 1,2 mil empresas alemãs. O volume acumulado de investimentos e reinvestimentos alemães no país é estimado em US$ 25 bilhões.
Fonte:Valor Econômico/Por Marta Watanabe | De São Paulo
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