Empresas de logística e transportes estão ampliando suas estruturas de distribuição neste ano, prevendo um crescimento forte do comércio eletrônico. Executivos do setor trabalham com a perspectiva de melhora no cenário econômico e de aumento das vendas feitas no mercado on-line, que neste ano conta com a ampliação dos serviços da Amazon no país.
Previsão da Ebit | Nielsen indica que o comércio eletrônico deve movimentar R$ 61,2 bilhões em vendas neste ano, uma alta de 15% em relação a 2018. No ano passado, o aumento foi de 12%, para R$ 53,2 bilhões. A entrada de novos consumidores e o avanço das compras pelos smartphones poderão elevar em 12% os pedidos neste ano, para 137 milhões de unidades. O tíquete médio deve crescer 3%, para R$ 447. Há mais consumidores migrando do varejo físico para o on-line, segundo Ana Szasz, líder comercial da Ebit|Nielsen.
PUBLICIDADE
O comércio on-line ainda é uma parcela pequena do varejo. Representou no ano passado 4,34% das vendas do varejo restrito, que exclui veículos e material de construção. Essa fatia cresceu 0,24 ponto percentual em relação a 2017, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e a Ebit.
Mas as empresas enxergam grande potencial no comércio feito pela internet, que pode crescer mais rapidamente se a qualidade das ruas, estradas e rodovias melhorar - o produto é comprado pela internet, mas a entrega é feita por moto, van e caminhões. Philippe Minerbo, diretor da Cosin Consulting, afirmou que a expectativa é que o novo governo ajude a acelerar as obras viárias necessárias.
"O Brasil é um país com potencial. Nos Estados Unidos, as vendas on-line são 10% do varejo, mas na China são 25%. Creio que a melhora da estrutura [viária] ajudará a chegarmos ao patamar americano em até cinco anos", diz Gianfranco Sgro, vice-presidente global de armazenagem da suíça Kuehne + Nagel.
A Loggi, que atende empresas como Dafiti, B2W, Mercado Livre e Amazon, planeja fazer 60 milhões de entregas até 2020. No ano passado fez 36 milhões. Fundada em 2013 por Arthur Debert e Fabien Mendez, a startup atingiu o equilíbrio financeiro em agosto de 2018. Três meses depois, recebeu R$ 400 milhões da multinacional japonesa SoftBank (ver Softbank lança fundo de US$ 5 bi para AL).
A Loggi tem dois centros de distribuição em São Paulo, o segundo inaugurado em outubro de 2018. Grégoire Balasko, diretor financeiro da Loggi, disse que planeja abrir um terceiro centro em São Paulo, mas a data para isso ainda não está definida. Ele estuda outras regiões, mas não indicou quais.
Neste ano, parte do investimento da Loggi será em automação, que ajudará no processo de receber os pedidos das varejistas e distribuir as mercadorias em 15 regiões metropolitanas. No ano passado, a empresa operava em cinco regiões. A Loggi, que possui 12 mil entregadores cadastrados com motos e vans, também atende as capitais do Norte e do Nordeste.
O volume maior de entregas feitas pela Loggi é de produtos como livros, cosméticos e roupa, mas vem crescendo a demanda de restaurantes como McDonald's, Pizza Hut e Madero. Estas três redes, quando vendem refeições por seus respectivos aplicativos, acionam a Loggi para fazer a entrega, ou outros entregadores, dependendo de onde está o consumidor.
No setor de refeições on-line, a disputa é acirrada. O consumidor pode pedir e receber comida, por exemplo, pelos aplicativos iFood, Rappi e Uber Eats. A espanhola Glovo não aguentou a concorrência e, depois de um ano no país, fechou as portas nesta semana.
A JadLog, com faturamento de R$ 480 milhões, teve mais da metade dos negócios provenientes do comércio eletrônico em 2018. Controlada pela europeia DPDgroup, a empresa tem a meta de crescer 40% neste ano e dobrar o investimento para atender o varejo. O aporte em automação, novos serviços, renovação e ampliação da frota de veículos própria será de R$ 20 milhões. A empresa tem 240 caminhões e carretas, além de 2,5 mil utilitários, sendo 1,5 mil próprios e o restante de terceiros.
Bruno Tortorello, presidente da JadLog, ampliará o serviço de retirada das compras on-line em pontos comerciais. Hoje são 3 mil locais de retirada, mas até o fim de 2020 serão 8 mil. "Queremos estar no máximo a dez minutos a pé dos consumidores".
A Total Express, com faturamento de R$ 420 milhões no ano passado, também pretende ampliar o serviço oferecido ao varejo de retirada de mercadorias nas lojas. A empresa tem frota própria, e planeja aumentar a atuação com motoristas terceirizados neste ano.
Controlada pelo Grupo Abril, em recuperação judicial desde o ano passado, a Total tem a meta de neste semestre ampliar o serviço de entrega expressa, pelo qual o produto chega ao cliente em questão de horas, para 50 novas cidades. O serviço já existe em 23.
Ariel Herszenhorn, diretor-geral da Total, prevê que as vendas devem crescer entre 25% e 30% neste ano, ritmo semelhante ao de 2018. Segundo ele, a companhia, que vinha com prejuízos desde 2014, voltou ao lucro no ano passado.
Na UPS, o varejo on-line tem peso na operação, diz a presidente Nadir Moreno. A receita global da empresa de frete, logística e entregas rápidas cresceu 7,9% em 2018, para US$ 71,9 bilhões. A receita no país não é revelada, mas a executiva disse que avançou dois dígitos.
A DHL Express vê nos varejistas virtuais um dos alicerces do plano de dobrar o tamanho da operação brasileira em termos de volume de entregas e receita nos próximos dois anos. As encomendas desse segmento já são 30% dos negócios da companhia no país. Para atingir o objetivo, a alemã planeja aumentar em torno de 35% a frota própria até o fim do ano, atualmente composta por 270 veículos. A empresa também acabou de ampliar, em fevereiro deste ano, sua estrutura no terminal de cargas do Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP).
Fonte: Valor