Varejo e indústria começam a implementar sistemas de logística reversa para recolher lixo eletrônico e eletrodomésticos ao final de sua vida útil
Três meses após a sanção presidencial da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que está em fase de regulamentação, o mercado já se movimenta para colocar em andamento a chamada logística reversa, que é o recolhimento de bens, como eletrodomésticos e eletrônicos, ao final de sua vida útil. Em todo o Brasil surgem iniciativas para ajudar o consumidor a descartar esse tipo de resíduo corretamente.
Um exemplo, no interior de São Paulo, é a rede de varejo Cybelar, que desde o início do mês passou a oferecer a seus clientes a possibilidade de “comprar” o descarte futuro dos produtos eletrônicos.
Ao adquirir uma TV, geladeira ou celular, o cliente da rede é informado de que pode comprar o futuro descarte do produto que está comprando ou do equipamento que está em casa. O serviço varia de R$ 6,90, no caso do descarte de um celular, e pode chegar a R$ 130 – a retirada de uma geladeira da casa do consumidor.
“A receptividade ao serviço tem sido surpreendentemente boa”, afirma Ubirajara Pasquotto, diretor da Cybelar. O serviço começou a ser oferecido desde o início do mês e, desde então, 1 em cada 10 produtos está sendo vendido com o descarte programado. A maioria – 59,8% – das vendas foi para o descarte de celulares.
Segundo Pasquotto, o consumidor brasileiro está disposto a pagar pelo serviço, pois isso representa conveniência e uma consciência mais tranquila. “Há três anos buscávamos soluções para o descarte desse tipo de resíduo. A indústria ainda olha a logística reversa como um custo. Mas se isso não for feito, todos pagamos as consequências” diz.
Especialização. O caminho para assegurar ao consumidor um descarte ambientalmente correto das quinquilharias eletrônicas e das geladeiras velhas passa pela parceria com outra empresa, a Descarte Certo, especializada em gestão da coleta, manejo de resíduos e reciclagem dos componentes dos eletroeletrônicos. Por meio do site da empresa, tanto consumidores quanto empresas podem comprar o descarte dos equipamentos que já não são úteis.
“Criamos diferentes modelos de negócios. Qualquer pessoa pode se cadastrar no site e agendar a coleta dos aparelhos em sua casa”, conta Lucio Di Domenico, fundador da Descarte Certo.
Além da retirada em domicílio, a empresa se responsabiliza pelas etapas seguintes – a desmontagem e reciclagem dos componentes, a cargo de empresas como a Oxil, de Paulínia (SP), especializada nesse tipo de serviço. Segundo Domenico, o processo é rigoroso e garante que nenhum resíduo vá parar no lugar errado.
Garantias. Independentemente da obrigatoriedade que será estabelecida pela Lei Nacional de Resíduos, o mercado já se mobiliza para oferecer a logística reversa porque percebeu que é uma maneira de oferecer um serviço ao consumidor. “Há 20 anos se comprava produtos sem garantia, hoje isso é impensável. Imaginei que seria impensável, no futuro próximo, vender produtos sem a garantia do descarte correto”, conta Domenico.
Ele acredita que as redes varejistas – além da Cybelar, a Descarte Certo também vende o serviço de descarte programado a clientes do Carrefour – irão liderar o processo de fazer com que o lixo eletrônico volte à cadeia produtiva como uma matéria-prima: “Outras redes já nos procuraram e em breve o serviço estará disponível em mais lojas. Esse tipo de serviço será valorizado pelo consumidor.”
Lina Pimentel, advogada especializada em direito ambiental do escritório Mattos Filho, acha mais provável que empresas se organizem em entidades para promover a gestão conjunta desses resíduos, diminuindo os custos do processo. “O que não é correto é que esse ônus seja repassado apenas ao consumidor”, diz. Em São Paulo, afirma, a regulamentação da lei estadual de resíduos está caminhando de forma mais rápida e deve impor metas reais de reciclagem às indústrias.
ONDE DESCARTAR
Descarte Certo
No site http://www.descartecerto.com.br/ é possível dar destino aos eletroeletrônicos. O serviço inclui a retirada do equipamento em casa e custa entre R$ 6,90 e R$ 130.
E-lixo Maps
O projeto, da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, permite visualizar os postos de coleta de lixo eletrônico em São Paulo. No site http://www.e-lixo/. org, basta colocar o CEP e encontrar o local mais próximo para levar os aparelhos.
USP
Possui o Centro de Descarte e Reúso de Resíduos de Informática (Cedir). É preciso agendar a entrega pelo email consulta@usp.br.
Geladeira e computador voltam para a indústria
Enquanto a regulamentação da lei de resíduos sólidos não sai, as empresas já buscam modelos para recolher geladeiras ou computadores antigos e reciclar seus componentes.
A fabricante de eletrodomésticos Whirlpool, dona das marcas Brastemp e Consul, criou uma divisão em sua fábrica em Joinville (SC) para desmontar refrigeradores e aparelhos de purificação de água que emprega 25 pessoas. Embora a empresa não possua ainda um canal de recolhimento de geladeiras antigas nas casas dos consumidores, a “matéria-prima” chega via concessionárias de energia elétrica que possuem programas de troca de equipamentos antigos.
De acordo com Vanderlei Niehues, gerente-geral de sustentabilidade da Whirlpool, desde 2005 foram recuperados em torno de 3 mil toneladas de componentes, como aço, plásticos e gases de refrigeração. Ele observa que, com a regulamentação da lei de resíduos, esses volumes tendem a crescer. “Será preciso ampliar parcerias com o varejo ou criar centros de coleta para estimular o consumidor a dar um fim correto a esses equipamentos antigos”, diz.
No caso de computadores, há empresas que se especializaram em recolher os equipamentos nas empresas e reciclar os componentes. A Ceva Logistics é uma delas – fechou contratos com grandes fabricantes de computadores para retirar os equipamentos em empresas. Por mês, são recolhidos 5 mil equipamentos de informática, especialmente computadores e impressoras.
Em um galpão localizado em Jundiaí, a empresa faz a desmontagem dos aparelhos. Muitos são recondicionados e voltam ao mercado. Outros vão para a etapa final de reciclagem, que é feita nos Estados Unidos, onde os metais nobres, como ouro e prata, são separados e reaproveitados.
Montanha. De acordo com Gustavo Paschoa, gerente de desenvolvimento de negócios da Ceva Logistics, prestar esse tipo de serviço já é um imperativo. “Só este ano serão comercializados 13,5 milhões de computadores no Brasil. Imagine a montanha de lixo eletrônico que teremos nos próximos anos”, diz.
Fonte:Andrea Vialli - O Estado de S. Paulo
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