Produção fraca, ampla capacidade ociosa, estoques elevados e falta de demanda ganhando terreno como um problema grave para um número expressivo de empresas. Nada animador, esse é retrato da Sondagem Industrial de dezembro de 2011 da Confederação Nacional da Indústria (CNI). A pesquisa evidencia que o setor terminou o ano passado numa situação difícil, apontando um começo de 2012 também complicado. A combinação de estoques altos e demanda fraca é um mau presságio para a produção no início deste ano.
Segundo a sondagem, a indústria terminou 2011 com um recuo na produção "mais intenso que o normal". O indicador recuou de 50,1 pontos em novembro para 42,1 pontos em dezembro. Ele varia de zero a cem, com valores abaixo de 50 pontos representando queda da produção em relação ao mês anterior.
Um ponto preocupante é a ascensão da falta de demanda como um dos principais problemas enfrentados pelas empresas consultadas pela CNI. No quarto trimestre de 2010, ela apareceu como o terceiro maior problema, atrás apenas da carga tributária elevada e da competição acirrada - no mesmo período de 2010, era apenas o sexto mais grave. "Nas grandes empresas, esse problema passou de 12% das respostas no quarto trimestre de 2010 para 28,5% no mesmo trimestre de 2011. Nas médias, o percentual passou de 17,2% para 30,9% e nas pequenas foi de 19,0% para 26,3%", ressalta o relatório da CNI.
A utilização de capacidade instalada efetiva em relação ao usual também decepcionou, ficando no menor nível desde junho de 2009. O indicador caiu de 45,2 pontos em novembro para 42,6 pontos em dezembro. Abaixo de 50, mostra uso da capacidade abaixo do usual para o mês. Em média, a indústria operou com 71% de sua capacidade em dezembro, quatro pontos percentuais abaixo do registrado no mês anterior.
Para completar, a maior parte dos setores da indústria de transformação terminou 2012 com estoques acima do desejado. De 26 segmentos pesquisados pela CNI, 18 registaram em dezembro estoques efetivos superiores ao planejado. "Mesmo reduzindo a produção, o setor não conseguiu se livrar do excedente de estoques", destaca o gerente da pesquisa da CNI, Renato da Fonseca. Em todo o ano passado, a indústria registrou inventários excessivos, sobretudo a partir de junho. Em dezembro, o indicador de estoques da CNI para a indústria geral ficou em 53 pontos, acima dos 52,8 pontos de novembro. Números acima de 50 indicam inventários efetivos acima do planejado. A situação é mais complicada no segmentos de calçados, têxteis, plástico, metalurgia básica, máquinas e materiais elétricos, outros equipamentos de transporte e móveis.
Para o economista Alexandre Andrade, da Votorantim Corretora, a dificuldade em ajustar estoques aponta para um cenário fraco para a produção industrial no primeiro trimestre. Uma retomada mais consistente tenderia a começar no segundo trimestre, ganhando mais força apenas na segunda metade do ano, acredita ele, que projeta um crescimento da indústria de 2%. "Mas essa estimativa tem um viés de baixa", afirma Andrade, que trabalha com uma expansão de apenas 0,5% para 2011 - o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ainda não divulgou o dado de dezembro.
O cenário traçado pela pesquisa da CNI para estoques é um pouco pior do que o da sondagem da indústria de transformação da Fundação Getulio Vargas (FGV). No levantamento da FGV, a situação em termos de inventários parecia um pouco mais equilibrada, embora setores importantes ainda mostrassem estoques ainda excessivos, caso do químico, o têxtil, o de móveis e o de celulose e papel.
Uma demanda inferior à estimada é um dos fatores que explicam a formação de estoques indesejados, acredita o economista Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria. Além disso, o fato de uma parcela mais expressiva da demanda ser atendida por produtos importados também explica o fenômeno, diz ele, lembrando ainda que o fraco desempenho das exportações também atrapalha parte da indústria.
Como Andrade, Bacciotti estima um avanço de apenas 2% da produção industrial em 2012. Por enquanto, ele se diz confortável com o número, mas ressalta que a "indústria vive um momento de grande incerteza". O cenário externo, por exemplo, pode prejudicar ainda mais o desempenho do setor, ressalta Bacciotti.
A pesquisa da CNI também aponta que o empresariado industrial está insatisfeito com a margem de lucro operacional. O índice ficou em 46,4 pontos, abaixo da linha divisória de 50 pontos. O mesmo foi registrado na avaliação de acesso ao crédito, situada em 44,6 pontos. "Mesmo as grandes empresas estão tendo dificuldade de acesso ao crédito", relata Fonseca.
Fonte:Valor Econômico/Sergio Lamucci e Thiago Resende | De São Paulo e de Brasília
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