De São Paulo - Bem tratado no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o setor produtor de álcool foi disputado na noite de segunda-feira pelos três principais pré-candidatos à Presidência da República na entrega de prêmio promovido pela Unica, uma das maiores entidades de classe de açúcar e de álcool do país. O empresariado do etanol glorifica Lula. O presidente é chamado de "garoto-propaganda" do etanol e de "caixeiro-viajante" do combustível. Nos anos Lula, o setor obteve mais financiamento dos bancos públicos, especialmente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), ganhou espaço na política externa do país, a produção foi recorde e os usineiros viraram "heróis" na voz do presidente petista.
O apoio à pré-candidata do presidente, Dilma Rousseff, portanto, tenderia a ser mais fácil, mas ninguém se arrisca diante dos resultados das últimas pesquisas, que mostram empate entre Dilma e o tucano José Serra. O setor é um contribuinte habitual de campanhas eleitorais. "Acho que a briga vai ser boa. O setor deve muito ao presidente Lula, mas o Serra sempre nos atendeu, fizemos um acordo com ele na área ambiental", disse José Roberto Della Coletta, dono de usina que leva seu sobrenome em Bariri, interior de São Paulo.
"O setor está dividido. Já ouvi que não tem como não ajudar o Lula, mas outros vão ajudar o Serra", afirmou o deputado federal Milton Monti (PR-SP), parlamentar que costuma defender demandas de usineiros. "Sou amigo de ambos", limita-se a dizer um usineiro de peso no país.
Para o presidente do Sindicato dos Fabricantes de Etanol de Goiás (Sifaeg), André Rocha, o setor tem gratidão a Lula, citando que mais de cem usinas novas foram instaladas a partir de 2006, com uma produção de álcool correspondente a um terço da produção nacional. Rocha lembra que o governo tucano de São Paulo reduziu o ICMS do combustível para 12%, na gestão de Geraldo Alckmin. "É inegável o quanto presidente Lula fez para o setor, mas não temos posição política", afirmou Luiz Custódio Costa Martins, presidente do Sindaçúcar e do Siamig, sindicatos que representam a indústria de açúcar e álcool de Minas Gerais. Dono de usina na zona da mata de mineira, Martins conta que antes de ser reeleito, em 2006, Lula reuniu-se com representantes do segmento e prometeu que o governo teria uma política integrada entre diferente órgãos do governo, como os ministérios de Minas e Energia, Relações Exteriores e Desenvolvimento. "Entre Lula e FHC não tem conversa", disse Custódio.
"O Lula controlou o PT. Agora, o receio é que a Dilma seja controlada pelo PT", disse o deputado federal Arnaldo Jardim (PPS-SP), outro braço dos produtores de etanol no Congresso. Aliado a Serra, o deputado do PPS se refere ao que chama de "insegurança jurídica" associada à Dilma, pois prevê mais invasões de terra e aumento do intervencionismo estatal na economia caso ela seja eleita.
Na pauta dos produtores, aparecem a mudança na legislação que fixa como reserva legal o equivalente a 20% da área plantada e a instituição de um padrão de álcool para que o combustível possa se tornar uma commodity. Parte dos usineiros também defende a fixação de uma banda de preços mínimos com a garantia do governo em caso de queda de cotação. Durante o evento, o presidente da Orpla (organização que reúne os fornecedores de cana), Ismael Perina, reclamou dos níveis baixos do preço, pediu juro zero para financiamento na compra de máquinas e equipamentos. Perina disse ser "intolerável a complacência" das autoridades com as invasões de terra e criticou os parâmetros para definir trabalho análogo ao escravo. Segundo o presidente da entidade, predomina "a subjetividade" nas fiscalizações do Ministério do Trabalho.
No discurso aos produtores, Serra prometeu repetir a iniciativa paulista de baixar o ICMS em todo o país. Dilma também falou em unificar a alíquota do imposto sobre o álcool nacionalmente. Marina se colocou a favor de impostos menores ao segmento, mas disse ser necessário "sair da propaganda" e "criar uma nova narrativa para os nossos produtos" com valores éticos, sociais e ambientais. (APG)
Fonte: Valor Econômico
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