Após as turbulências provocadas pelas disputas entre Washington e Pequim nos dois últimos anos, que favorecem Brasil, e dos problemas climáticos que afetaram os Estados Unidos na safra 2019/20, o mercado global de soja voltará a ficar mais equilibrado no ciclo 2020/21, que está em fase de plantio no Hemisfério Norte. Foi o que sinalizou o primeiro relatório de oferta e demanda de grãos do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) sobre a nova temporada, cuja semeadura começará em setembro no Cone Sul.
Nesse tabuleiro de poucos jogadores relevantes, Brasil, EUA e Argentina representam mais de 80% da produção e das exportações mundiais, e a China absorve 60% das importações. Qualquer problema nesses quatro países - ou entre eles -, portanto, tem consequências para os demais, como aconteceu em 2018 e 2019. Mas como arrefeceram as rusgas entre EUA e China, que assinaram em janeiro um armistício e hoje parecem dispostos a cumpri-lo, a tendência é de normalização.
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Segundo o USDA, a produção global de soja em grão deverá alcançar 362,8 milhões de toneladas em 2020/21, 7,9% mais que em 2019/20. A produção brasileira foi estimada em 131 milhões de toneladas, com crescimento de 5,6%, e a americana, sem as intempéries do ciclo passado, prevista em 112,3 milhões de toneladas, 16% maior.
Além da expectativa de ampliação das vendas para a China, os produtores americanos enfrentam no momento problemas no mercado de milho, já que a demanda para a fabricação de etanol está em baixa, o que incentiva uma migração maior para a soja. Ainda segundo o USDA, a colheita argentina crescerá 4,9%, para 53,5 milhões de toneladas.
Num cenário em que as importações da China foram calculadas em 96 milhões de toneladas, 4,3% acima de 2019/20 - esse avanço leva em conta a redução dos problemas causados pela peste suína africana e, consequentemente, um aumento da demanda chinesa para a fabricação de rações -, as exportações mundiais de soja foram projetadas pelo USDA em 161,9 milhões de toneladas, em alta de 5,1%.
Segundo o USDA, o Brasil continuará liderando os embarques, com 83 milhões de toneladas em 2020/21, mas esse volume é 1,2% menor que o estimado para 2019/20. Já as exportações dos EUA foram calculadas pelo órgão em 55,8 milhões de toneladas, 22,4% mais em igual comparação. Com a recuperação americana o USDA também previu queda de 18,8% nas vendas da Argentina ao exterior, para 6,5 milhões de toneladas.
Embora todo esse movimento já estivesse no radar dos traders, a confirmação de que o jogo começará a voltar ao normal motivou a alta das cotações da soja na bolsa de Chicago. Os contratos com vencimento em julho subiram 0,92% e fecharam a US$ 8,52 por bushel.
Os papéis do milho para entrega em julho também reagiram aos novos números do USDA - alta de 1,34%, para US$ 3,2225 por bushel, mas ainda por causa do cenário de curto prazo. No que tange às estimativas para 2020/21, o viés é baixista. Isso porque a previsão é de forte crescimento de estoques nos EUA (58%, para 84,3 milhões de toneladas), uma vez que a colheita deverá crescer (17%, para 406,3 milhões de toneladas), a demanda americana por etanol está em queda livre.
Também embalados pelo relatório do USDA, as cotações do trigo recuaram em Chicago, cerca de 1,5%, e as do algodão registraram ganhos expressivos na bolsa de Nova York, da ordem de 3%.
Fonte: Valor