Da redução do milho destinado à produção de etanol à menor oferta de carnes, a estiagem severa obriga os Estados Unidos a racionarem o uso de grãos, pelo menos até a próxima temporada. Autoridades do agronegócio daquele país já confirmam a redução no alojamento de aves e o abate de matrizes na suinocultura, crise que também afeta a bovinocultura, com a falta de pasto e o aumento do custo de produção devido à alta dos grãos.
Bill Northey, secretário de Agricultura de Iowa, o estado que mais produz milho e etanol no país, conta que o impacto maior neste momento está na destinação nacional de milho para o combustível. O corte pode ser de até 20%, o equivalente a um volume próximo de 20 milhões de toneladas. No ano passado, as usinas demandaram mais de 90 milhões de toneladas do cereal.
Para o Brasil, o desabastecimento nos Estados Unidos representa oportunidade de aumento nas exportações de milho, soja e inclusive de etanol. No acumulado de janeiro a julho deste ano, os embarques do cereal com destino aos portos da Costa Leste norte-americana mais que dobraram.
No final de semana, voltou a chover no Meio-Oeste dos Estados Unidos, mas não a tempo de reverter o quadro de quebra acentuada na produção. As precipitações verificadas desde domingo nos principais estados do Corn Belt devem aliviar um pouco a situação da soja, mas quase nada ou muito pouco podem fazer pelo milho. Na medida que a colheita avança, o cereal confirma um revés acima de 100 milhões de toneladas na comparação com o potencial produtivo, inicialmente estimado em 375 milhões de toneladas.
Na esperança de reverter parte das perdas na soja, Craig Hill, presidente do Iowa Farm Bureau, esperava chuva em sua propriedade na última sexta-feira. “Se chover esta noite, a soja tem condições de recompor até 10% de seu potencial produtivo. Já no milho a situação está consolidada, com quebra de praticamente 1/3 da produção”, disse Hill. A chuva só chegou domingo, com intensidade, e cobriu todo o território de Iowa e parte dos principais estados que compõe o chamado cinturão do milho. O depoimento de Hill traduz, com precisão, o momento da agricultura dos EUA e resume, de certa forma, o resultado da safra, com números que vão se confirmando conforme as colheitadeiras avançam.
Na avaliação do Iowa Farm Bureau, que congrega 154 mil membros, 50% dos agricultores, é praticamente impossível reverter o quadro de quebra de até 35% no milho. O presidente da entidade reforça, porém, que o cenário para soja é um pouco melhor. A oleaginosa ainda não completou a fase de enchimento de grãos e as chuvas dos últimos dias, assim como as precipitações esperadas para as próximas semanas, têm condições de reverter parte do prejuízo. O potencial comprometido na fase de florescimento, no entanto, é irreversível.
O rendimento do milho em Iowa, segundo Craig, recuou de 176 bushels em 2011 (11 mil quilos por hectare) para uma estimativa entre 110 a 120 bushels/acre em 2012 (6,9 mil a 7,5 mil kg/ha). A soja, numa avaliação anterior às chuvas do final de semana, de 52 bushel/acre (3,5 mil kg/ha) para 40 bushels/acre (2,7 mil kg/ha).
Impacto
Seca chegou em fase crítica e impediu o replantio das lavouras
O secretário de Agricultura de Iowa, Bill Northey, explica que a seca chegou numa fase crítica de desenvolvimento das lavouras e impediu tanto a recuperação das plantas quanto o replantio das áreas mais afetadas. Em outros anos de estiagens, não tão severas, o replantio contribuiu para amenizar o impacto da quebra. Desta vez, não foi possível lançar mão desse recurso, conta o secretário.
Dale Tutlle, produtor em Indianola, Iowa, lembra que essa é a pior seca dos últimos 35 anos. Com uma média de 180 bushels por acre (11,3 mil quilos por hectare) nas últimas temporadas, ele prevê para este ano no máximo 120 bu/acre (7,5 mil kg/ha). A soja deve recuar de 50 bushels (3,4 mil kg) para 30 bu/acre (2 mil kg/ha).
Nas regiões mais afetadas, o milho não alcança padrão de qualidade nem mesmo para a indústria de etanol. “Não vale a pena colher”, explica Matt McGinnis, que só vai colocar a colheitadeira em um de seus campos por conta do seguro. Para registrar o sinistro e receber o prêmio contratado, o agricultor precisa colher a área segurada.
Como houve áreas privilegiadas pelas chuvas, as médias ainda são desconhecidas. A expectativa agora, principalmente do mercado, é com o próximo relatório do Usda, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, em 12 de setembro. Até lá, com ou sem chuva, o mercado vai tentar antecipar os números.
Fonte: Gazeta do Povo (PR)
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