De São Paulo - Quando a americana Bunge decidiu vender os ativos de mineração de sua divisão de fertilizantes no Brasil para a Vale, no início do ano, uma das muitas perguntas que animaram os bastidores da surpreendente transação dizia respeito ao futuro do executivo Mário Alves Barbosa Neto, arquiteto da transformação da multinacional na líder do segmento no país.
Pois o presidente da Bunge Fertilizantes e da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), que esteve à frente das negociações com a Vale, foi o escolhido pela mineradora para presidir a Fosfertil, joia da coroa de um negócio que rendeu US$ 3,8 bilhões aos cofres da americana.
Com foco nos derivados de fosfato, a Fosfertil é a maior fabricante de matérias-primas para a produção de fertilizantes do país. Com faturamento de R$ 2,7 bilhões em 2009, tinha a Bunge como maior acionista até a venda para a Vale, em uma composição acionária que incluía as múltis Mosaic e Yara e as brasileiras Heringer e Fertipar.
A Vale já arrematou quase todas as fatias, por mais de US$ 4 bilhões, e Barbosa seguirá à frente do negócio que ajudou a inflar, conforme dados enviados pela Fosfertil à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O futuro de Vital Jorge Lopes, que ocupava interinamente a presidência da Fosfertil e é executivo da confiança de Barbosa desde os tempos de Bunge Fertilizantes, ainda é incerto, mas ele permanecerá na companhia pelo menos durante a atual etapa de transição.
Para o irmão menos badalado de Fabio Barbosa, presidente do Santander e da Febraban, é uma volta às origens. Afinal, quando foi contratado pelo CEO da Bunge, o brasileiro Alberto Weisser, em 1996, ele ocupava a presidência de uma Fosfertil recém-privatizada e dividida entre diversas companhias, entre as quais a Serrana, que já estava nas mãos da Bunge.
Weisser queria que Mário Barbosa - genro do fundador da tradicional Manah, Fernando Penteado Cardoso - se livrasse do negócio, mas ele convenceu o chefe a antes fortalecer a operação. Entre 1996 e 2000, marcas como Fertisul, IAP, Ouro Verde e a própria Manah passaram ao controle da Bunge. Todas com fatias na Fosfertil, que era o que Barbosa queria, uma vez que o Brasil dependia de importações. Daí vem a fama de executivo agressivo de Barbosa, que também tornou-se diretor da Vale, ontem estava em reuniões no Rio de Janeiro e não concedeu entrevista.
De lá para cá o mercado mudou, os investimentos na exploração de novas jazidas dispararam e, cada vez mais, são as mineradoras, estrangeiras inclusive, que lideram os investimentos globais na expansão da oferta de nutrientes, tanto os derivados do fosfato quanto de potássio e nitrogênio. Daí a decisão da Bunge, conforme afirmou Weisser ao Valor quando o negócio com a Vale foi anunciado. Algumas marcas do segmento, porém, permanecem. A dependência de importações é uma delas. Mário Barbosa é outra.
Fonte: Valor Econômico/FL
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