As exportações brasileiras de soja em grão, o carro-chefe do agronegócio do país, confirmaram as expectativas e permaneceram em elevado patamar no mês passado, puxados pela firme demanda da China, que lidera as importações globais da oleaginosa.
Levantamento realizado pela Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) com base nas cargas que efetivamente deixaram os portos apontou que os embarques somaram 14,3 milhões de toneladas em abril, maior volume já registrado para um único mês. O resultado representou um aumento de 55% em relação a abril de 2019.
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Nas contas da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia, o volume foi ainda maior. Segundo órgão, a média diária das exportações de soja em grão alcançou 815,4 mil toneladas em abril, que teve 20 dias úteis - ou seja, no total foram 16,3 milhões de toneladas. Ante o mesmo mês de 2019, a Secex apontou avanço de 73,4%.
A secretaria informou, ainda, que a receita diária das exportações atingiu US$ 273 milhões em abril, o que significa quase US$ 5,5 bilhões, montante 65% superior ao registrado um ano atrás.
Esse ritmo acelerado já era previsto pelo segmento e tem beneficiado produtores e tradings. Desde o ano passado, foi fechada uma grande quantidade de vendas antecipadas sobretudo por causa do câmbio favorável, e a colheita recorde este ano torna tranquilo o cumprimento desses contratos, firmados principalmente com compradores da China.
Algumas entregas previstas para os primeiros meses do ano tiveram que ser adiadas por medidas restritivas adotadas nos portos chineses para combater a disseminação do novo coronavírus, o que também inflou o fluxo em março e abril.
Analistas consultados pelo Valor nas últimas semanas também notaram que a China adiantou importações por temer problemas logísticos em seus principais fornecedores de soja - Brasil, Estados Unidos e Argentina -, o que se tornou outro trampolim para os saltos das exportações brasileiras em março, quando o volume já havia superado 13 milhões de toneladas, e abril.
Mas essa febre vai diminuir. Consultorias como FCStone e ARC Mercosul, por exemplo, já alertaram para um provável aumento da concorrência da soja americana no segundo semestre, quando entrará no mercado a colheita da safra 2020/21 do país, que firmou em janeiro com a China um armistício que, aparentemente, arrefeceu as disputas entre os dois gigantes.
A ARC Mercosul também mostrou, em relatório divulgado esta semana, que a soja dos EUA já está mais barata que a brasileira. Para entrega em junho, a tonelada do produto do Brasil vale US$ 341,80 no porto de Paranaguá (PR), enquanto no Golfo do México o valor é de US$ 336,20. Para julho, os valores são US$ 346,50 e US$ 339,30, respectivamente.
É por isso que as projeções para as exportações ao longo de todo este ano têm sido em geral mantidas - e o volume previsto é mais ou menos o mesmo de 2019. Segundo a Anec, os embarques poderão atingir entre 73 milhões e 74 milhões de toneladas. Nos cálculos da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), serão 73,6 milhões de toneladas.
A Abiove estima que o preço médio da tonelada exportada ficará em US$ 350, abaixo dos US$ 362 do ano passado, e assim prevê a receita dos embarques deste ano em US$ 25,7 bilhões, também o mesmo nível de 2019. Em abril, apontou a Secex, a tonelada de soja saiu do país por, em média, US$ 334,8, ante US$ 351,4 no mesmo mês do ano passado.
Fonte: Valor