Responsáveis por segurar o Produto Interno Bruto (PIB) estável no terceiro trimestre ao crescer 1,8% no período em relação aos três meses anteriores, as exportações de bens e serviços recuperaram peso na economia nacional neste ano. Enquanto no primeiro trimestre elas representaram 10,4% do PIB, no terceiro elas foram responsáveis por 12,75% dele, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ao mesmo tempo, as importações de bens e serviços também aumentaram seu espaço, subindo de 11,6% para 13% do PIB.
A recuperação em 2011, contudo, é tímida em relação ao peso já alcançado pelas exportações de bens e serviços - 16,4% de peso no PIB em 2004, quando a participação das importações foi de 12,5%. Para 2012, um novo ganho ainda é uma incógnita para os especialistas, dado o cenário de recessão esperado para a zona do euro.
O aumento do peso da exportação e importação registrado neste ano precisa ser relativizado, de acordo com a coordenadora de projetos do Centro de Estudos do Setor Externo da Fundação Getulio Vargas (Cesex-Ibre/FGV), Lia Valls Pereira. "As exportações cresceram, como era esperado, mas não de forma significativa, enquanto o PIB estagnou. Não há mudança estrutural acontecendo. É só reflexo da desaceleração da atividade como um todo", afirmou. Para Lia, o cenário futuro para as exportações brasileiras também não é muito animador.
Os dados de exportação e importação no PIB de 2011 foram influenciados pelo comportamento das vendas e das compras feitas pela indústria. Segundo levantamento da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o coeficiente de importação da indústria geral (o quanto as compras externas representam do consumo de bens industriais) estava em 21,6% no primeiro trimestre do ano. No terceiro trimestre, a fatia subiu para 23,4%. Na mesma comparação, o coeficiente de exportação da indústria geral (o quanto da indústria é vendido para o exterior) cresceu 2,7 pontos, chegando a 20,2%.
Para o vice-presidente da Associação dos Exportadores do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, o aumento das importações de produtos industriais ocorreu em virtude do real valorizado e do baixo preço dos produtos vindos de fora. "Ficou mais barato importar do que produzir para o mercado interno. Isso aconteceu em vários segmentos da indústria", afirma.
Por outro lado, a alta no preço das commodities em 2011 levou aos resultados favoráveis das exportações. "Não houve mudança significativa na quantidade produzida em relação ao ano passado, mas como está mais difícil competir no mercado interno, alguns setores focaram a produção para exportação", diz Castro. Até outubro, a indústria produziu apenas 0,6% mais que em igual período do ano passado.
Os dados da Fiesp mostram o movimento descrito por Castro. Na comparação do terceiro trimestre deste ano com o do ano passado, a produção para o mercado interno da indústria de transformação encolheu 0,5%, enquanto o consumo aparente a (soma da produção e da importação, excluindo a exportação) aumentou 0,6%, de acordo com levantamento da entidade. A importação também cresceu mais que a exportação: 4,9% contra 3,2%. Na mesma comparação, as exportações do setor siderúrgico cresceram 47,4%, a de máquinas e equipamentos, 26,7%, e a de ferro-gusa, 23,9%. Ao mesmo tempo, a produção industrial desses setores caiu 1,5%, 2,4% e 4,8%, respectivamente.
Dentro da indústria geral, os setores considerados de média e baixa tecnologia são os que estão conseguindo entrar no mercado externo. "Quem está se sobressaindo são plásticos, borracha, madeira e couro, que possuem baixo valor agregado", disse o economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) Rogério César de Souza.
O instituto fez um levantamento a partir de dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) que mostrou crescimento de 2% na exportação de produtos de alta tecnologia contra 12,8% de alta nas importações, na comparação entre o terceiro trimestre deste ano ante o mesmo período de 2010. Já no setor de baixa tecnologia, as importações (33,4%) seguiram mais altas que as exportações (16%). O único que inverteu a ordem foi o de média-baixa tecnologia, que registrou aumento de 43,5% nas exportações, contra 29,3% das importações.
O peso das exportações no PIB brasileiro não deve aumentar no ano que vem. A perspectiva de acirramento da crise na zona do euro, o baixo crescimento dos Estados Unidos e a desaceleração chinesa vão diminuir o apetite do mercado internacional pelos produtos nacionais.
"A situação está se agravando, então a cotação das commodities deve cair. Com isso, os sul-americanos, que compram as nossas manufaturas, ficam com menos divisas, pois também serão afetados", afirmou Castro. Em contrapartida, as importações devem manter seu atual peso no PIB, segundo Lia Valls Pereira. "Vai crescer acompanhando o ritmo geral, ou seja, em um passo menor. Até porque as importações estão ligadas ao consumo interno."
Fonte: Valor Econômico/Por Rodrigo Pedroso | De São Paulo
PUBLICIDADE