Sergio Lamucci, de São Paulo
As exportações brasileiras de minério de ferro podem ter um ganho superior a US$ 11 bilhões entre abril e dezembro deste ano na comparação com o mesmo período de 2009, considerando um reajuste de 114% para os preços do produto e a manutenção das cotações nesse nível até o fim de 2010.
No ano passado, o Brasil exportou US$ 9,9 bilhões de minério de ferro entre abril e dezembro, valor que pode subir para US$ 21,2 bilhões nos três últimos trimestres de 2010, na hipótese de prevalecer o aumento pretendido pela Vale, segundo a MCM Consultores. Nesse exercício, não se leva em conta uma possível alta do volume exportado. O forte reajuste do produto deve impedir uma queda mais forte do saldo comercial neste ano na comparação com 2009, quando ficou em US$ 25,4 bilhões.
Ao mesmo tempo, a alta do minério de ferro terá impacto desfavorável sobre a inflação: no caso dos Índices Gerais de Preços (IGPs), um aumento de 114% provoca uma elevação de 1,92 ponto percentual, sem contar os efeitos indiretos no atacado, sobre produtos siderúrgicos e de metal, e no varejo, principalmente sobre bens duráveis, como veículos.
Por enquanto, os analistas não alteraram oficialmente as suas projeções para a balança comercial e para a inflação. O economista Alexandre Gallotti, da Tendências Consultoria, observa que o novo sistema de definição de preços definido pela Vale, com mudanças trimestrais, traz muita incerteza para as previsões. A Tendências trabalhava com exportações de minério de US$ 22,4 bilhões em 2010, resultado de uma alta de 13% do volume e de um reajuste de preços de 80% a partir de abril. Se os preços subirem 114% e ficarem nesse nível até o fim do ano, as vendas externas atingirão US$ 26 bilhões em 2010, quase o dobro dos US$ 13,3 bilhões do ano passado, diz Gallotti. Mesmo assim, o mais provável é que a consultoria não eleve a sua projeção de saldo comercial do ano, de US$ 20 bilhões, já uma das mais otimistas. O ponto é que as importações têm crescido com força. Em vez de um aumento de 24%, como previsto anteriormente, é possível que as compras externas cresçam de 30% a 35% no ano, avalia a consultoria.
O economista Fábio Silveira, da RC Consultores, mostra ceticismo quanto à possibilidade de a Vale conseguir um aumento superior a 100%. "Será que os chineses vão aceitar um reajuste dessa magnitude?" Silveira, que previa exportações de US$ 16 bilhões neste ano, acha possível um número de US$ 18 bilhões ou, com muito otimismo, de US$ 20 bilhões. Ele diz que não pretende mudar a sua projeção para o saldo comercial, de US$ 5 bilhões, porque os preços da soja e do açúcar têm caído bastante e as importações seguem fortes.
Já o analista Antônio Madeira, da MCM, acha que o reajuste do minério pode ter um impacto favorável sobre a balança, mas acha prematuro fazer qualquer estimativa neste momento. A MCM projeta um superávit de US$ 12 bilhões.
Para a inflação, o aumento é uma má notícia. A economista Basiliki Litvac, também da MCM, já trabalhava com uma elevação de 25% do produto ao longo do ano, projetando um IGP de 6,9%. Caso o minério de ferro suba 114%, o indicador ficaria em 8,4%. "Mas isso é uma projeção que considera o repasse integral no mercado interno", alerta Basiliki, que não revisou oficialmente a sua previsão.
O economista Fábio Romão, da LCA Consultores, diz que os repasses do aumento do minério no mercado interno não costumam ser integrais. Uma alta de 114% do produto no front externo o levaria a elevar sua previsão para os IGPs de 7,5% para 8,5%, considerando os impactos diretos e indiretos sobre produtos siderúrgicos e de metal.
No varejo, as projeções são mais complicadas. Basiliki diz que os bens duráveis devem ter alguma alta, em função do provável aumento do aço. Além disso, tendem a subir itens corrigidos parcial ou integralmente pelos IGPs, como tarifas de energia e aluguéis.
O mercado já projeta um Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 5,1%, acima do centro da meta, de 4,5%.
Fonte: Valor
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