A quantidade de dólares de exportadores que ficaram depositados fora do Brasil triplicou em 2010 e há sinais de que parte desse dinheiro está sendo utilizada para aumentar a especulação, dentro do país, com a moeda.
Segundo analistas, empresas que costumam reclamar da desvalorização do dólar, que torna as vendas do Brasil para o exterior menos rentáveis, estão lucrando com a perda de valor da moeda.
Desde 2008, para reduzir a entrada de dólares e a pressão sobre o câmbio, o BC liberou o exportador da obrigação de trazer esse recurso para o mercado interno.
Dessa forma, essas empresas podem usar o dinheiro para fazer pagamentos, de importações ou dívidas, investimentos ou até aplicações no exterior.
Em 2010, a entrada de dinheiro no país por meio de exportações ficou 12,5% abaixo do valor efetivamente exportado. Essa diferença passou de US$ 8 bilhões em 2009 para US$ 24,7 bilhões.
José Augusto de Castro, vice-presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), diz que o aumento nas operações de comércio exterior, sozinho, não justifica uma elevação tão grande nesses depósitos.
BANCOS
Parte desses recursos, segundo ele, estaria sendo direcionada para aplicações no próprio país via bancos.
Nessa operação, a empresa deposita o dinheiro no banco no exterior. A instituição traz o recurso para o Brasil e vende os dólares (geralmente para o BC).
Pode repassar os reais ao mesmo exportador, como um empréstimo dentro do país, ou aplicá-los.
Empresas e bancos ganham com os juros maiores no Brasil e também com o câmbio, pois há expectativa de desfazer a operação com um dólar mais barato, situação em que a empresa precisará comprar menos dólares para pagar o empréstimo.
Além disso, futuramente, em um cenário de alta do dólar, o dinheiro que ficou lá fora voltaria via exportação, trocado por mais reais.
Há coincidência nos dados do BC. O valor que deixou de entrar em 2010 na exportação é quase o mesmo que veio via operação financeira.
"O dinheiro está vindo por outro caminho. Os exportadores descobriram uma forma de manter o dólar lá fora e rentabilizá-lo a juros brasileiros, dividindo com os bancos esse resultado", diz Sidnei Nehme, diretor da corretora de câmbio NGO.
TRIBUTAÇÃO
Esse movimento já foi percebido pelo governo, que aumentou a tributação sobre investimento estrangeiro em títulos públicos em 2010 e, na semana passada, adotou uma medida para forçar os bancos a reduzir a especulação com a moeda.
Desde 2008, houve aumento na abertura de contas e no volume de depósitos de empresas brasileiras no exterior, segundo Oswaldo Parreh dos Santos, gerente no Exterior do Banco do Brasil.
Segundo ele, o movimento está ligado ao aumento de despesas fora do país e à administração mais eficiente do caixa externo das empresas.
"As empresas trazem os recursos só quando necessário e de forma a manter os volumes de caixa na relação adequada às necessidades e às condições cambiais."
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Fonte: Folha de São Paulo/EDUARDO CUCOLO/DE BRASÍLIA