Os dados do fluxo cambial da primeira semana de julho, divulgados ontem pelo Banco Central (BC), justificam os mais recentes sinais de preocupação por parte do governo com a entrada de dólares. Depois de um mês com saída líquida de recursos, o saldo da movimentação de divisas voltou ao terreno positivo. Em seis pregões, entraram no país US$ 1,521 bilhão, entre os dias 1 e 8 de julho.
A maior parte dos dólares veio do fechamento de contratos de câmbio de exportadores, com resultado líquido de US$ 1,205 bilhão. Mas o segmento financeiro também ficou com saldo positivo na semana, de US$ 316 milhões, depois de três meses com fuga de capital por essa conta, que registra a movimentação de moeda estrangeira para aplicações em títulos e ações, além do investimento estrangeiro direto (IED).
A valorização do real, mesmo em um cenário de saída de recursos, como ocorreu em junho, se deve em grande medida a apostas dos investidores locais e estrangeiros nos mercados futuro e spot. Os bancos ampliaram fortemente as posições vendidas no segmento à vista (aposta na queda da cotação), que pularam de US$ 9,3 bilhões, em maio, para US$ 14,7 bilhões na semana passada. Os fundos internacionais pularam, no mesmo período, de uma posição vendida no mercado futuro de US$ 18,6 bilhões para US$ 21 bilhões.
O avanço foi tão forte que pela primeira vez os bancos superaram o limite do compulsório. Foi registrado pelo BC um total de R$ 55 milhões depositado compulsoriamente no dia 5 de julho. Essa posição recuou no dia 8 para US$ 11 milhões.
Como resposta, o BC apertou ainda mais o recolhimento compulsório sobre as posições vendidas dos bancos, cujo limite passou de US$ 3 bilhões para US$ 1 bilhão, ou o patrimônio de referência, o que for menor. A nova regra passa a valer sexta-feira, a partir da média diária dos cinco dias anteriores.
A medida do BC obriga que os bancos reduzam a posição vendida em cerca de US$ 5 bilhões, ou seja, comprem dólares no mercado à vista. Como na semana passada o BC retirou do mercado US$ 1,585 bilhão, praticamente todo o fluxo positivo que permanecia no país, é possível afirmar que as instituições financeiras só começaram esse trabalho na segunda-feira. Os fundos hedge, contraparte dos bancos na bolsa, também diminuíram as apostas na apreciação do real em quase US$ 3 bilhões.
A enxurrada de dólares, que desde o começo do ano soma US$ 41,355 bilhões, é considerada pelo governo a principal responsável pela apreciação excessiva do real frente ao dólar. Os recursos migram para países em desenvolvimento, como o Brasil, em decorrência das políticas econômicas dos países ricos, que ainda tentam se livrar dos efeitos da crise de 2008.
Essa tendência ainda deve se manter por um longo período, já que o Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, reafirmou essa política na tarde de terça-feira, ao sinalizar, na ata da última reunião do seu comitê de política monetária (Fomc), que manterá os juros em patamares baixos por um período ainda prolongado.
Fonte: Valor Econômico/Fernando Travaglini | De Brasília
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