Os exportadores do agronegócio brasileiro cobram uma maior participação do governo federal no debate de soluções para o “apagão” de contêineres que o setor encara em meio à pandemia de covid-19. Segundo apurou o Valor, há descontentamento com a falta de diálogo — e iniciativa — do Executivo nas discussões de um problema que está tirando a competitividade dos embarques, que têm grande peso na balança comercial do país.
As conversas se desenrolam, até o momento, dentro do Instituto Pensar Agro (IPA). Nos próximos dias, entidades do agro deverão enviar uma carta ao governo, em especial ao Ministério da Infraestrutura, com pedido de ajuda e algumas sugestões para lidar com a crise logística. “Nós aguardávamos um aceno oficial do governo, mas isso não ocorreu até agora. O setor está ávido para falar e ser ouvido”, disse ao Valor uma fonte a par do assunto.
PUBLICIDADE
Sugestões em debate
No cardápio de possibilidades ainda em debate, estão sugestões para melhorar a infraestrutura portuária, diminuir burocracia e taxas, incentivar a abertura de novas rotas marítimas e permitir a chegada de novos armadores — atualmente, 19 empresas dominam 97% do comércio por esse modal no país.
“O mais importante é que não precisa ser dinheiro do governo. Existem as PPPs [parcerias público-privada] e concessões para isso. Um exemplo é a infraestrutura do porto. Com a troca de frota, grandes navios não conseguem atracar, e precisamos dessa estrutura. É isso que queremos do governo, que ele pense no futuro, pois existirá um gargalo ali na frente”, afirma Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
Cenário complexo
De acordo com uma fonte próxima aos armadores, existe o reconhecimento de que houve dificuldade nas exportações durante o segundo trimestre do ano, mas que, desde então, os contratos estão sendo cumpridos. A visão é de que o cenário logístico é complexo e que nem mesmo os exportadores foram capazes de prever uma demanda tão aquecida neste ano.
“O contêiner refrigerado era soberano sobre a carga seca, e o armador tinha mais rentabilidade. Com a explosão da demanda, o frete da carga seca ficou maior que a do refrigerado. Os armadores estão ganhando dinheiro como nunca. Diante disso, os navios extras que os armadores possuem também já estão em uso, o que complica mais esse cenário”, diz.
Contêineres refrigerados
A escassez de contêineres na pandemia fica ainda mais aguda porque o Brasil importa um volume relativamente pequeno de alimentos refrigerados, como carnes e frutas, por exemplo. De acordo com a fonte, essa importação representa somente 15% da demanda brasileira de contêineres refrigerados para as exportações de alimentos – especialmente carnes.
O Centronave, entidade que reúne os principais armadores do país, argumenta, ainda, que seus associados aplicaram “toda e qualquer capacidade disponível” para atender aos embarques do país, como o adiamento da desativação de embarcações mais antigas e reparos antieconômicos nos contêineres danificados.
Longo prazo
Mas há pelo menos um consenso entre armadores e exportadores do agronegócio: não existe saída fácil, e talvez o governo possa ajudar pouco no momento. Mas, dizem, é importante que exista alguma ação, mesmo que seja pensando no pós-pandemia.
“É um problema fora da alçada do Brasil, mas precisamos de apoio do governo, alguma mobilização. Não existe solução de curto prazo, o que nós queremos é que o governo tome ciência dos impactos e que eles tenham a sensibilidade de entender os efeitos desse problema se nada for feito”, acrescenta Eduardo Heron Santos, diretor técnico do Conselho dos Exportadores de Café (Cecafé).
Fonte: Valor