Seguindo o modelo norueguês, o Brasil tenta converter sua riqueza mineral, do petróleo, em tecnologia e desenvolvimento para o país. O caminho adotado até aqui tem sido o de exigir conteúdo fabricado no Brasil ou nos vizinhos do Mercosul.
De maneira geral, a avaliação das empresas fabricantes de equipamentos desta cadeia sobre a condução do processo, nos últimos anos, é positiva. Para Sandy Taylor, presidente global da ABB para petróleo e gás, o Brasil segue uma estratégia natural e que já deu certo em outros países. "O Brasil pretende se especializar em águas profundas e, talvez, daqui a 10 anos possa se tornar um grande exportador dessa tecnologia; a ABB quer ser parte desse processo."
O executivo afirma, contudo, que há uma fina linha que separa o equilíbrio entre incentivar a produção local e perder competitividade. Taylor aponta como dificuldades os custos, que são maiores no país, como custos trabalhistas e de logística, e que acabam impactando o preço final dos equipamentos. Mas ele mantém o balanço otimista, enxerga que o governo federal tem encontrado equilíbrio e tem conseguido bons resultados.
O diretor de petróleo e gás da Abimaq (associação que representa os fabricantes nacionais de máquinas), Alberto Machado, acredita que a nacionalização é eficiente e que vem sendo adaptada para a realidade da cadeia de fornecedores no Brasil: "A mudança que a ANP fez de exigir gradualmente percentuais maiores de conteúdo local foi um passo importante, pois um produto novo [em termos de produção nacional] tem uma curva de aprendizagem da indústria".
Machado afirma, no entanto, que poderia haver um direcionamento mais claro de estratégia comercial. "Temos de eleger quais serão nossos nichos, quais são aqueles com mais potencial para acelerar o desenvolvimento tecnológico", afirma.
O presidente da Rolls Royce, hoje a principal fornecedora de turbogeradores para a Petrobras, Francisco Itzaina, aponta para a mesma questão. "É muito louvável o que se está fazendo com relação a conteúdo local, mas daria mais frutos se estivesse englobado a uma política de Estado", afirma. Itzaina diz que o mercado brasileiro podia se focar em áreas nas quais tem mais tradição. "O país poderia virar líder em calderaria e importar parte ou até tudo do lado de forjados, onde tem menos força", cita como exemplo.
Welter Benício, diretor da Siemens, diz que o fator chave para o Brasil se desenvolver no setor de petróleo e gás é o investimento em P&D (pesquisa e desenvolvimento). O ideal, avalia, seria mudar a mentalidade dos empresários: "Hoje, a oferta de fundos para inovação no setor é enorme, o que precisa é que as pequenas empresas entendam que é possível fazer desenvolvimento de maneira simples".
Benício diz que um processo que poderia avançar rapidamente, por exemplo, é o de revestimento. Ele afirma que, nessa área, há diversas empresas com conhecimento no país e que poderiam, sozinhas, inovar em termos tecnológicos. "Não precisa necessariamente esperar uma associação ou uma organização maior."
O diretor lembra que a Siemens está abrindo um laboratório de P&D no Parque Tecnológico da Ilha do Fundão, no Rio de Janeiro, em um investimento de US$ 50 milhões. Benício afirma que, até pelo volume de recursos já aportados no Brasil, as empresas têm todo interesse que a linha estratégica traçada pelo governo funcione. "Precisamos ter o cuidado de não deixar que o modelo naufrague sem atender ao requisito de conteúdo local, afinal nós queremos que o modelo sobreviva", afirmou.
Maurício Valadares, diretor da GE, que se empenha em um programa para desenvolver fornecedores locais, reforça essa expectativa das empresas de conseguir desenvolver um mercado de longo prazo, voltado também para a exportação. "Essa bolha de óleo e gás, aqui, um dia vai acabar e o Brasil precisa ser competitivo, se não vai ser só um voo de galinha".
Fonte: Valor
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