Vera Saavedra Durão, do Rio
Empresas fabricantes de ferro-gusa no país, importantes consumidoras de minério de ferro, estão na expectativa de ter que arcar com um reajuste total de preços para a matéria-prima de cerca de 150% para o minério de ferro fornecido pela Vale até junho. O Valor apurou que a mineradora comunicou siderúrgicas de ferro-gusa que reajustaria o minério de ferro na faixa de 58% em março. Sobre esse percentual, a companhia está formalizando um outro reajuste (ainda não conhecido), para ser praticado no período abril a junho. A Vale não quis comentar a informação.
Na prática, segundo avaliam analistas, se a segunda parcela do aumento for também de 58%, o preço do minério para o mercado doméstico poderá subir 149%, atingindo US$ 92,50 a tonelada, descontada a logística de porto (US$ 12 a tonelada) e de ferrovia (mais US$ 10). No ano passado, quando o mercado praticamente parou e houve queda de 28% no preço do minério, os guseiros pagaram US$ 37 pela tonelada do produto, tendo por base o preço de referência dos contratos anuais firmados com siderúrgicas estrangeiras (na faixa de US$ 55 a US$ 59 a tonelada no último trimestre) menos os custos de logística.
Se for confirmada a alta de quase 150% do minério, a matéria-prima vai participar com cerca de US$ 80 no custo total de produção do ferro-gusa - material usado principalmente por siderúrgicas com fornos elétricos, na composição com sucata para fabricação do aço.
As empresas do setor no país estão preocupadas com a possibilidade de perda de competitividade do gusa nacional no mercado internacional. "Um aumento muito elevado tem de ser repassado ao clientes", comentam consultores de siderurgia . Eles lembram que as empresas de ferro-gusa exportam principalmente para mercados desenvolvidos, como os Estados Unidos e a Europa, ainda em recuperação. O preço da tonelada do produto está na faixa de US$ 330 para o mercado americano.
Em 2009, por causa da crise financeira e econômica mundial, o Brasil exportou 2 milhões de toneladas de ferro-gusa ante o volume de 8 milhões de toneladas antes da crise. Para 2010, ainda não há previsões de vendas externas, mas o mercado já prenuncia uma retomada. A perspectiva é de que a demanda pelo gusa acompanhe a demanda pelo minério de ferro. O setor prevê que se a Vale está praticando aumentos substanciais é porque deve estar enxergando um aquecimento do mercado que os guseiros ainda não enxergaram.
O Brasil tem três polos produtores de ferro-gusa: o maior fica em Minas Gerais; os outros dois estão no Pará e no Maranhão.
O fato, porém, é que o reaquecimento do mercado de minério está trazendo mudanças profundas no sistema de preços do minério de ferro. A dúvida do setor de gusa é sobre a periodicidade dos reajustes de preço que vai vigorar este ano. A Vale comunicou às empresas que as duas parcelas de aumento vão vigorar até junho. Não se sabe se no segundo semestre pode ocorrer outros reajustes.
A BHP Billiton - terceira maior mineradora de ferro do mundo e rival australiana da Vale - defende reajuste periódicos com base em cotações de índices de bolsa de commodities. A Vale quer acabar com a diferença entre o preço de referência e o de mercado livre ("spot") hoje na faixa de 110%. E a mineradora já está usando o preço do minério no mercado spot chinês, hoje na casa de US$ 138 a US$ 140 a tonelada (descontado o frete) para fixar um percentual de aumento substancial para o minério nas negociações com as siderúrgicas.
No setor de gusa, desde 2008 o fornecimento de minério passou a ter como base um preço anual sem contrato firmado. A fórmula dos contratos de longo prazo não existe mais. Para se resguardar das oscilações do mercado, as empresas de gusa estão firmando contratos com seus clientes incluindo uma margem percentual de ganho. O que funciona como uma proteção (hedge) contra as incertezas. (fonte: Valor)
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