Especialistas ouvidos pelo Valor concordam que para dinamizar o comércio externo é necessário reforçar acordos e parcerias já existentes. Sobretudo, investir em frentes multilaterais, com EUA, União Europeia e Japão. Aprender com China e Taiwan - e com os americanos - a preparar equipes de negociação com representantes da indústria e de serviços.
"Há uma grande inabilidade e falta de estratégia por parte do Brasil em negociação de acordos comerciais" diz Roberto Giannetti da Fonseca, presidente da consultoria Brasilis/Kaduna e diretor da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). "O Brasil está bastante atrasado na integração econômica internacional e fora das cadeias produtivas globais, porque ficou durante quase 15 anos alijado das grandes negociações internacionais de acordos de livre comércio", diz Giannetti, ex-secretário executivo da Câmara do Comércio Exterior (Camex).
No seu entender, o país precisa de novas estratégias para recuperar esse atraso. "Temos que correr o risco e fazer uma abertura da economia brasileira mais acentuada e ganhar acesso a mercados importantes, desenvolvidos, onde poderemos vender produtos manufaturados de valor agregado", afirma. E prossegue: "É um trade off, ganhamos algumas posições e perdemos outras no mercado interno, mas é uma mudança de paradigma que temos que fazer. É uma opção pela integração econômica global".
Evaldo Alves, professor de economia internacional da Fundação Getulio Vargas (FGV/SP), diz que a ampliação dos acordos não pode esperar. "Vivemos em um mundo multilateral que caminha crescentemente para ser um mundo multilateralizado e com blocos", observa. "É uma tendência mundial nesse momento e será cada vez mais verdadeira nas próximas décadas, os governos fazendo acordos para facilitar o comércio e diminuir os preços dos produtos à medida que, dentro de um bloco, não há tarifa de importação", completa.
O Brasil, nos últimos anos, observa o professor, vem encolhendo sua participação no comércio internacional e diminuindo parcerias até com blocos tradicionais, como a União Europeia. "O sinal amarelo da necessidade de ampliar não só os acordos já existentes, mas também o número deles, tem levado o governo, nessa nova gestão, a mudar o foco e acelerar essas ampliações", diz.
No próximo dia 23, a presidente Dilma Rousseff deve anunciar o Plano Nacional de Exportação que tem por base um comércio mais livre e menos burocratizado. O Plano se sustenta em vários pilares, como acesso a mercados mediante acordos, facilitação do comércio, financiamento, seguro e garantias, melhora dos regimes tributários especiais e promoção comercial.
O Plano, no entanto, não se refere à participação do empresariado nos acordos e nas negociações, nem às limitações da indústria que reduzem a produtividade e, consequentemente, a competitividade. A China, diz Alves, adotou uma plataforma de produtividade, melhorando e ampliando a produção e ganhando competitividade para só então negociar seus acordos. "Não adianta querer ter uma inserção grande nos EUA ou União Europeia sem melhorar nossa produtividade e nossa extensão, ampliando nossos blocos", afirma.
Segundo o professor, "há décadas o Brasil representa apenas 1,2% do comércio internacional" e a saída desse patamar "não deve se limitar à diplomacia, mas à produtividade e consequente redução das tarifas". Para Alves, o país chega à mesa de negociação sem saber sequer a estrutura de formação de preço de cada produto. "O Brasil não pode negociar como um pedinte", afirma.
A situação em que o país se encontra não facilita outra postura. "Países em crise séria na economia e, sobretudo, crises agudas de competitividade, têm muita dificuldade de negociar acordos comerciais pela simples razão de que toda negociação comercial é um toma lá, dá cá", diz Rubens Ricupero, diretor da Faculdade de Economia Armando Álvares Penteado (Faap). Também não se pode pensar que os acordos agradam a todos e só produzem benefícios. "No curto e médio prazo, podem criar problemas muito sérios para alguns setores e mesmo provocar várias reações bastante vivas", observa Ricupero, ex-ministro da Fazenda.
Para os especialistas, há uma série de lições que o Brasil ainda não fez em matéria de comércio exterior. "Para negociar uma abertura, a primeira coisa é melhorar os juros, o custo do capital. E os juros estão indo para 14%", afirma. Outro ponto são os impostos, que encarecem toda a escala de produção. Capacidade de oferta, um setor produtivo forte e condições de competir, na visão de Ricupero, são essenciais. "Quando se tem as duas coisas se consegue exportar". Segundo Ricupero, China e Taiwan, grandes sucessos do comércio mundial recente, não tinham acordo com ninguém e conquistaram essa posição porque tinham preço baixo e qualidade.
Fonte: Valor Econômico/Rosangela Capozoli | Para o Valor, de São Paulo
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