Para o setor de locação de equipamentos, dois grandes entraves atingem a mineração, com reflexos para o segmento: escassez de mão de obra especializada e morosidade na aprovação de licenças ambientais. Ainda assim, o otimismo cresce. Prova disso são os investimentos previstos para o período até 2015, estimados em US$ 68,5 bilhões.
"O déficit profissional de mão de obra especializada na área de mineração é incalculável. Vai desde motoristas para dirigir os caminhões especiais nos arredores das minas a geólogos e engenheiros de minas. O Brasil forma cerca de 500 geólogos e 150 engenheiros de minas por ano. Em função da escassez, o país está tendo que 'importar' esses profissionais da Europa e da América Latina", afirma Onildo João Marini, secretário executivo da Agência para o Desenvolvimento Tecnológico da Indústria Mineral Brasileira (Adimb).
Segundo ele, a busca por mão de obra capacitada virou uma guerra dentro das empresas. Essas companhias, além de treinarem constantemente suas equipes, oferecem salários vantajosos para atrair profissionais de outras indústrias. Paralelamente, entidades ligadas ao setor estão tentando minorar o problema, investindo pesado em capacitação de mão de obra. "Algumas empresas estão tendo dificuldades para iniciar seus projetos, como a implantação de novas minas. Essa operação exige uma série de estudos e, por causa do pequeno número de profissionais, nem todas as empresas conseguem tocar seus projetos no tempo desejado", acrescenta Marini.
Na corrida contra esse entrave, empresas do setor como Usiminas, Vale, Companhia Siderurgia Nacional, Ferrous Resources do Brasil, ArcelorMittal, entre outras, decidiram investir em expansão operacional, formação de mão de obra e capacidade tecnológica. Para se ter uma ideia, no estado de Minas Gerais, as companhias que compõem o Consórcio Mínero-Metalúrgico de Formação e Qualificação Profissional deverão desembolsar cerca de R$ 36 bilhões até 2016 na formação de mão de obra.
"O objetivo do consórcio é minimizar a falta de profissionais capacitados, por meio de ações múltiplas das empresas junto às instituições de ensino e ao governo. Hoje, o consórcio é um interlocutor formal do segmento e tem sido uma ação inteligente e cooperativa para a solução do grande problema do apagão de profissionais qualificados", afirma a coordenadora Alba Valéria Santos.
O projeto tem participação do comitê de gestão de pessoas da Câmara Americana de Comércio Brasil-Estados Unidos (Amcham) de Belo Horizonte (MG). Para o período de 2011 a 2013, estima-se que as companhias participantes demandarão cerca de 2.890 profissionais de nível superior, 5.582 técnico e 10.382 de nível básico.
Para a capacitação de profissionais de nível superior, o consórcio fez parceria com a Secretaria de Ciência e Tecnologia, com o Polo Minero-Metalúrgico e com instituições federais de ensino superior, como a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e o Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet). Dessa forma, vem ampliando a oferta de vagas em cursos superiores, especializações e mestrados. Para a formação técnica e básica, o consórcio fez articulações com o governo federal e estadual para aumentar vagas nos cursos técnicos e de qualificação básica.
Para garantir seus projetos, a Vale selou parceria exclusiva com a Progen,- empresa de engenharia consultiva, gerenciamento e implantação de projetos, por cinco anos. "O contrato contempla os segmentos de mineração, metalurgia e infraestrutura portuária e ferroviária nas áreas de engenharia", afirma o presidente Eduardo Marella. Em função disso, a Progen, que encerrou 2010 com uma receita de R$ 260 milhões, projeta um faturamento de R$ 375 milhões para este ano.
"Além da atuação em projetos de enorme relevância, também houve a criação do centro de competência, com o objetivo de desenvolver a padronização de processos dos serviços de engenharia para a Vale", reforça. Marella não tem dúvidas de que o mercado deverá manter-se aquecido nos próximos anos. "Em 2012, a receita deverá saltar para R$ 450 milhões. O mercado de commodities é sólido e os projetos nessa área serão mantidos apesar da burocracia na obtenção de licença ambiental", prevê.
Os números do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea) apontam que o Brasil forma anualmente 30 mil engenheiros, quando a demanda é de 50 mil profissionais nessa área. Já a Índia forma anualmente 350 mil engenheiros, seguida da Coreia do Sul, com 180 mil, e da China, com 150 mil. Para se ter uma ideia do déficit de profissionais no país, enquanto para cada mil brasileiros há seis engenheiros, o número sobe para 18 na Índia, 15 na Rússia e 12 na China. "Várias minas ainda não entraram em produção por falta de mão de obra. Mas a questão ambiental também tranca a evolução da mineração e dificulta o início dos trabalhos. Há uma enorme morosidade na aprovação de novos projetos", completa Marini.
O atraso na aprovação de projetos não desestimula o setor de equipamentos e serviços a investir. "Nossos desembolsos serão de US$ 100 milhões entre o fim de 2011 e dezembro de 2013", afirma Alexandre Rennó, diretor de operações da unidade de negócios de mineração do Grupo Sotreq. A companhia opera na revenda de produtos, serviços e sistemas Caterpillar, além de comercializar e fornecer suporte técnico para equipamentos. Os carros chefes são o setor de peças, que responde por 55% do faturamento, e o de máquinas, com 30%. "O faturamento na área de mineração deverá crescer 21% em 2011", diz diz Rennó.
"Várias obras estão aguardando aprovação ambiental no Brasil", reforça José Otávio Zanin Junior, presidente da Brsz Locação de Britagem, sediada em São José dos Pinhais (PR). O empresário diz ter máquinas paradas em Canaã dos Carajás, no Pará, e na Bahia. "Investi R$ 4 milhões em equipamentos neste ano e para 2012 estão previstos mais R$ 2 milhões", afirma.
Luiz Carlos Vieira da Silva, sócio da Realterra Comércio e Locação de Tratores Ltda., assiste a um encolhimento de 30% no faturamento nos primeiros oito meses do ano em comparação a idêntico período de 2010. "Apesar do recuo, acredito que em 2012 o incremento deverá ficar na faixa também dos 30%". "Estamos em um ciclo aquecido de longa duração", resume Marini, da Adimb.
Fonte: Valor Econômico/ Rosângela Capozoli | Para o Valor, de São Paulo
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