O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, reforçou um conflito antigo com as siderúrgicas brasileiras, em palestra ontem no Congresso Brasileiro do Aço, ao criticar o valor cobrado pelo produto no Brasil. "Nem o preço do petróleo nem a taxa de câmbio explicam essa diferença entre o preço internacional e o preço brasileiro", disse.
Gabrielli fez o que ele mesmo chamou de "provocação" ao encerrar sua apresentação no congresso com um gráfico em que compara as evoluções do preço do aço no Brasil com a referência global, além da movimentação do petróleo tipo Brent e do câmbio.
"Com a demanda que nós temos, essa diferença de preço é um problema muito sério", disse, depois de afirmar que o consumo de aço da Petrobras - para construção de estruturas como plataformas, embarcações de apoio, sondas e tubos - deve ficar em 5,679 milhões de toneladas entre 2011 e 2015.
"O tamanho da nossa demanda é razoável. Não vamos afetar a capacidade dessa indústria pujante, mas somos um cliente que não pode ser desconsiderado", afirmou o presidente da estatal.
A importação de aço pela Transpetro, subsidiária da Petrobras, já foi motivo de vários embates com a siderúrgica brasileira, que defende o uso da produção interna.
Já os fabricantes mostraram-se muito preocupados com o excesso de aço no mundo e a concorrência internacional. Os empresários do setor siderúrgico brasileiro apresentaram ao presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, uma série de reivindicações para ampliar a produção e o consumo do produto no país.
Durante palestra no congresso, o diretor-presidente da Usiminas, Wilson Brumer, observou que, apesar do crescimento econômico dos últimos anos, o Brasil tem sérios problemas de competitividade.
Como exemplo, citou a guerra fiscal entre os Estados. "Isso inibe a produção local e permite que outros países entrem no Brasil sem passar pelas mesmas dificuldades que nós'', afirmou Brumer ao lembrar que o país sofre com a burocracia, tem gargalos na infraestrutura, câmbio apreciado, juros altos e enormes encargos sociais.
Segundo o presidente da Usiminas, o Estado brasileiro deve trabalhar em conjunto com a iniciativa privada para promover ações que assegurem para toda a indústria condições isonômicas de competitividade.
O presidente da ArcelorMittal Brasil, Benjamin Mario Baptista Filho, acredita que a principal razão para o baixo consumo de aço no pais está no fato de que a infraestrutura brasileira não consegue acompanhar o crescimento da economia.
O aumento da importação do produto, complementou, é apenas um efeito colateral da guerra fiscal. Para evitar uma maior perda de competitividade, Baptista Filho defendeu que o governo federal reforce os processos de defesa comercial e faça pesados investimentos em educação.
Apesar das dificuldades, o diretor executivo de marketing, vendas e estratégia da Vale, José Carlos Martins, está um pouco mais otimista e prevê um aumento da demanda pelo aço no Brasil e no exterior. Segundo ele, o mundo vive um processo significativo de urbanização que vai levar ao aumento da produção.
Fonte: Valor Econômico/Luciana Seabra e Fernando Taquari | De São Paulo
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