Na crise da indústria siderúrgica, com empresas altamente endividadas, a Gerdau saiu na frente entre as brasileiras na corrida de venda de ativos para amenizar sua alavancagem financeira. Na sexta-feira, o grupo anunciou que vendeu as operações de aços especiais na Espanha, que tinha desde 2006.
A Cia. Siderúrgica Nacional (CSN) e a Usiminas também anunciaram intenções semelhantes, dentro da mesma estratégia, mas até agora não fecharam nenhuma operação. No caso da CSN, com uma dívida líquida de R$ 26,6 bilhões e alavancagem próximo de 9 vezes em relação ao que gera de caixa, a empresa listou seis potenciais ativos - desde fábrica de latas de aço até participações em hidrelétrica e terminal portuário de contêineres. Há alguns dias informou que até fim de junho fará a primeira venda.
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A Usiminas, com uma grave crise financeira, teve de recorrer a um aumento de capital de R$ 1 bilhão dos acionistas enquanto negocia com bancos a rolagem da dívida. Em novembro, recontratou o Credit Suisse para se desfazer da Usiminas Mecânica (bens de capital). Há pouca coisa mais para vender.
O valor da operação de venda da antiga Sidenor, na Espanha, por € 155 milhões, incluindo dívidas (R$ 615 milhões), não é expressivo a ponto de resolver a situação da Gerdau, mas sinaliza disposição em equilibrar as finanças, avaliaram analistas de bancos. Sua alavancagem está na casa de quatro vezes ao se comparar a dívida líquida - de R$ 18,2 bilhões, no fim de março - sobre o resultado (Ebitda) anualizado.
Com várias unidades produtivas na Espanha, a Sidenor tem capacidade de fazer 1 milhão de toneladas ao ano. O comprador foi a Clerbil SL, grupo de investimento formado por executivos locais da própria empresa, tendo à frente seu presidente, José Jainaga. A Gerdau poderá receber mais € 45 milhões ao fim de cinco anos. Essa operação, segundo analistas, era o ativo de menor retorno em aço especial.
Esse negócio, conforme balanço do primeiro trimestre do grupo, foi responsável por 19,9% da receita da Gerdau e 17% do Ebitda, mas fechou com prejuízo de R$ 43,2 milhões. As margens operacionais vêm mostrando declínio a cada trimestre: de 12,1% no último de 2014 para 6,9% um ano depois. De janeiro a março, melhoraram: 8%.
O grupo continua no negócio, vendendo cerca de 80% ao segmento pesado do setor automotivo, com ativos nos EUA, Brasil e Índia. Suas demais divisões, centradas em aços longos, são o Brasil (inclui aço plano), América Latina e Estados Unidos/Canadá.
"Frente aos desafios globais da indústria do aço, estamos buscando gerar mais valor de mercado e ampliar a competitividade de nossas operações, mantendo o endividamento sob controle", disse André Gerdau, presidente, em nota. O grupo não concedeu entrevista.
Fonte: Valor Econômico/Ivo Ribeiro e Renato Rostás | De São Paulo