O governo prepara uma estratégia para melhor a imagem da política ambiental brasileira no exterior, pressionado por investidores e pela agenda do presidente dos EUA, Joe Biden.
Segundo integrantes da equipe econômica, isso pode ser feito com ações diretas para frear o desmatamento, estímulos econômicos à preservação e melhorias na comunicação.
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Já a área diplomática defende explorar aspectos positivos, como a matriz energética limpa do Brasil.
Fontes da área econômica destacam que o maior comprador de produtos agropecuários do país, a China, adota uma política de não intervir em assuntos internos de outros países.
Além disso, a pandemia elevou a demanda por exportações brasileiras, principalmente de alimentos. A visão é que os outros países estão mais dependentes do Brasil nessa área.
Há também a avaliação de que o país tem histórico de preservação ambiental que deveria ser levado em conta por atores estrangeiros.
Entre os aspectos positivos, o Itamaraty destaca que o Brasil tem a matriz energética mais limpa dos países do G-20, que reúne as 20 maiores economias do mundo.
A área diplomática do governo afirma que o Brasil pode fazer ainda mais em energia sustentável, citando as fontes eólica e solar, além dos biocombustíveis.
Pressão dos EUA
O problema é que os recordes de queimadas e desmatamento na Amazônia e no Pantanal registrados no atual governo levaram o país a ser cobrado por líderes internacionais. A posição do Executivo costuma ser de rebater cobranças e acusações.
Para o professor de Relações Internacionais da Faap Vinícius Vieira, a retórica do presidente Jair Bolsonaro pesa bastante na imagem negativa do país no exterior.
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Ele ressalta que a agenda verde é um dos eixos do governo Biden, o que vai demandar do Brasil a sinalização de que está disposto a abrir negociações e revisar suas posições.
— Não faria sentido ter esses incentivos, energias renováveis, veículos elétricos, se na política externa os EUA continuarem a ter um posicionamento explicitamente alinhado a governos como o brasileiro, que nos últimos dois anos descuidou bastante da agenda ambiental — diz Vieira.
No Ministério da Economia, a ideia é mostrar que o governo está desenhando políticas que unem desenvolvimento econômico e conservação.
Um dos projetos que deve sair do papel neste início de ano é a criação da Cédula de Produtor Rural (CPR) verde, um mecanismo de crédito que anteciparia recursos ao produtor rural em troca da conservação das áreas naturais.
O secretário-adjunto de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, José Angelo Mazzillo Júnior, defende ainda investir em monitoramento, como rede de satélites, além de implementar e expandir o Cadastro Ambiental Rural e a regularização fundiária:
— A imagem não tem que melhorar porque a gente vai fazer discurso bonito, tem que melhorar porque os fatos comprovam.
Para Cristina Inoue, doutora em Desenvolvimento Sustentável e professora da Universidade de Brasília (UnB), é urgente ter uma visão estratégica e de longo prazo sobre a conservação ambiental:
— Não adianta criar uma Comissão da Amazônia e falar: vou resolver isso. Não é assim. Você resolve com a valorização do conhecimento científico e tradicional, planejamento e articulação entre os atores das diversas esferas e níveis governamentais, do setor privado e da sociedade civil.
Vinícius Vieira, da Faap, alerta que, se o governo quiser reduzir os danos à imagem do país lá fora, será necessário mandar sinais de preocupação com o meio ambiente.
O professor ressalta que a substituição dos ministros do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, seriam sinalizações imediatas:
— Ricardo Salles internacionalmente ficou muito identificado com a agenda de destruição da Amazônia. Justa ou injustamente, é sempre algo para nós discutirmos, mas o fato é que essa é a imagem e o Ernesto Araújo tem uma imagem muito negativa em outras áreas da política externa. A substituição desses dois ministros seria uma condição essencial para que essa reversão do quadro, mostrar que temos um histórico forte e estamos dispostos a honrar esse histórico dos últimos 30 anos na questão ambiental.
Fonte: O Globo