São Paulo (AE) - O governo voltou a estudar zerar as tarifas de importação de aço, para conter o impacto da alta do preço do produto na inflação. Depois de elevar os preços entre 10% e 15% em abril, as siderúrgicas negociam com os clientes um novo reajuste de 10% para junho ou julho.
A justificativa é o aumento do preço do minério de ferro promovido pela Vale. A mineradora dobrou os preços do produto em abril e vai aplicar mais um aumento de 35% a partir de julho. O aço é um insumo importante para a produção de bens como carros, eletrodomésticos e para a construção civil.
Segundo uma alta fonte do governo Lula, setores da administração vão tentar incluir o tema na próxima reunião da Câmara de Comércio Exterior (Camex), que deve ocorrer na primeira quinzena deste mês. A avaliação do governo é que as siderúrgicas teriam espaço para absorver parte dos reajustes do minério.
O governo está preocupado com a inflação. A média dos analistas ouvidos pelo boletim Focus do Banco Central projeta que o Índice de Preços ao Consumidor Ampliado (IPCA) vai subir 5,7% este ano, acima da meta de 4,5%. A disparada da inflação levou o BC a iniciar um ciclo de aumento de juros.
Não é a primeira vez que o governo ameaça zerar as tarifas de importação de aço. No início de abril, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse em público que “desaconselhava” os produtores de aço a elevar os preços. “Se houver aumento dos preços, vou diminuir a tarifa de importação do aço”, disse.
Governo restabeleceu tarifas em 2009
As tarifas de importação de sete tipos de aço estiveram zeradas por bastante tempo. O governo restabeleceu as taxas em junho de 2009, porque o setor siderúrgico temia uma “invasão” de aço importado, por causa do excesso de capacidade global provocado pela crise. A siderurgia brasileira também foi afetada pela turbulência e chegou a paralisar alto-fornos.
Os fabricantes de carros, eletrodomésticos e a construção civil reclamam que as cotações de aço estão em queda no mercado externo, enquanto sobem localmente. O preço da tonelada da bobina quente, por exemplo, caiu de US$ 750 em abril para US$ 640 hoje no exterior, mas ainda está acima dos US$ 500 de outubro de 2009.
Para o presidente executivo do Instituto Aço Brasil (IABr), Marco Polo Lopes, nem mesmo a redução da alíquota de importação interromperia as negociações para um novo reajuste do preço do aço. Com mais um aumento do minério e a subida do carvão, ele diz que as siderúrgicas só têm o repasse como saída.
As siderúrgicas defendem que o impacto do aumento do aço na indústria de produtos finais, como automóveis, e na construção civil não chega a 2%. “O aço não é inflacionário”, diz Lopes. Ele argumenta que minério e carvão representam quase 50% do custo do aço, mas não têm o mesmo impacto na cadeia. O IABr calcula que o peso do aço no carro popular é de 8,28% do valor de venda. Num edifício de 8 andares, representaria 4%. Já nos eletrodomésticos, pode chegar a 18%.
Segundo uma fonte do governo federal, a Secretaria de Acompanhamento Econômico (SAE), do Ministério da Fazenda está acompanhando os reajustes de perto e deve apresentar um relatório informando se o impacto inflacionário é forte o suficiente para justificar a redução das tarifas de importação.
Segundo dados do IABr, as compras externas de aço do Brasil no primeiro quadrimestre chegaram a 1,8 milhão de toneladas, alta de 156% em relação a igual período de 2009. Em valores, somaram US$ 1,6 bilhão. O pico foi em março, com 573 mil toneladas, bem acima da média mensal de 200 mil de 2009. Em abril, foram 500 mil. Para Lopes, os números são baixos, diante da demanda interna de 25 milhões de toneladas prevista para este ano, e estão em queda. A maior parte do aço importado, diz, não foi para a indústria, mas para estoques de distribuidores.
Uma fonte ligada às montadoras explica que a logística de importação de aço é complicada. Mas que o fim das tarifas de importação significaria uma “janela” de negociação para o setor, que deixaria de “estar preso a apenas um fornecedor”. A Volkswagen anunciou que vai importar 30% do aço que consome. Outras montadoras também avaliam importar o insumo.
Fonte: Tribuna do Norte (RN) Natal
PUBLICIDADE