O surpreendente aumento na demanda e nos preços de commodities, especialmente do minério de ferro, e a retomada vigorosa do crescimento nos mercados emergentes, principalmente na América Latina, levaram o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) a rever a meta de exportações deste ano, para US$ 195 bilhões. Os técnicos, em conversas reservadas, dizem esperar até um valor superior a esse, 8% acima da meta de US$ 180 bilhões decidida em junho, e 16% acima da meta de US$ 168 bilhões, que foi mantida durante o primeiro semestre.
"É um número razoável", avaliou o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, ao comentar a previsão do ministério. "Estávamos calculando algo entre US$ 195 bilhões a US$ 197 bilhões, principalmente em função das exportações de minério, que aumentaram mais que o previsto, em preço e quantidade".
As vendas de produtos básicos, como minérios, café e carne, aos mercados da América Latina, União Europeia, Estados Unidos e Oriente Médio representaram mais de 40% do aumento das exportações brasileiras entre janeiro e setembro deste ano, em comparação com os primeiros nove meses de 2009. "O problema é que o número resulta do crescimento no mercado de commodities, não de uma programação feita pelo Brasil para as exportações", lamenta Castro.
O secretário de Comércio Exterior, Welber Barral, argumenta que as vendas de produtos manufaturados também tiveram peso importante, especialmente as exportações desses produtos para a América Latina, responsáveis por pouco mais de 23% do crescimento das vendas brasileiras ao exterior entre janeiro a setembro deste ano, em comparação com o ano passado. As vendas a esses mercados foram as que mais cresceram no período, 29,7%, pouco acima das vendas aos asiáticos, que tiveram aumento de 29,4%.
"A exportação de manufaturados cresce também em quantidade", notou Barral. "Aumentou a venda de máquinas e equipamentos para a América Latina". Em termos absolutos, os maiores aumentos nas vendas de manufaturados ao mercado latino-americano ocorreram nas exportações de automóveis, que saltaram de US$ 3,9 bilhões para US$ 7,4 bilhões na comparação dos nove primeiros meses de 2009, e de máquinas, que foram de US$ 2,4 bilhões para US$ 4,2 bilhões. "O mérito é do exportador brasileiro, por ter se mantido competitivo, inclusive porque é prejudicado pela taxa de câmbio", comentou Barral.
O resultado das exportações deve elevar o saldo no comércio exterior, já acumulado em US$ 15 bilhões neste ano, para até US$ 18 bilhões, nas estimativas da AEB. Barral, que não quis prever resultados para o saldo de comércio, ironizou, porém, as previsões mais pessimistas feitas no início do ano, sobre o desempenho das exportações. "Quando divulgamos a meta de US$ 168 bilhões vários analistas duvidaram. Eu ia dar aqui a um deles o prêmio 'chuteira de ouro' mas minha assessora não deixa", brincou.
Entre janeiro e outubro, as exportações brasileiras mantiveram uma média diária de US$ 782,2 milhões, 29,3% acima do desempenho do mesmo período de 2009. O ministério prevê uma pequena queda nesse resultado até o fim do ano, o que levará a média diária das exportações a quase US$ 777 milhões em 2010, 26,9% acima do registrado no ano passado.
Fonte: Valor Econômico/Sergio Leo | De Brasília
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