A escalada da guerra comercial entre Estados Unidos e China abre espaço para o crescimento nas exportações de 34 produtos brasileiros ao mercado americano.
As transações podem avançar em até US$ 4,25 bilhões dos US$ 250 bilhões de bens chineses taxados pelo governo do republicano Donald Trump.
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Hoje, o Brasil exporta US$ 1 bilhão desses mesmos produtos, ou seja, haveria oportunidade de o país elevar as vendas em pelo menos US$ 3 bilhões com a disputa entre as potências econômicas.
A Folha teve acesso a uma análise desenvolvida a pedido do governo brasileiro por pesquisadores associados ao think tank americano Atlantic Council em parceria com a Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos).
Nela, estimam-se impacto e oportunidade do ingresso de produtos do Brasil nos EUA após a nova sobretaxa à importação da China.
Inicialmente a lista tinha 134 itens, reduzida para os produtos considerados, de fato, com potencial competitivo no mercado externo.
Ferro, aço, plástico, madeira, calçados, têxteis, além de alimentos como pera e frutas secas, compõem o mapa que será distribuído pelo governo aos principais exportadores brasileiros.
No mês passado, Trump oficializou o aumento de tarifas de 10% para 25% sobre US$ 200 bilhões em produtos chineses —US$ 50 bilhões já estavam sendo taxados desde o ano passado— e afirmou que as conversas com Pequim seguiam em busca de consenso para um acordo comercial.
Sem muitos avanços nas tratativas, o dirigente chinês, Xi Jinping, anunciou que as sobretaxas contra os EUA subiriam para algo entre 20% e 25% no início de junho.
Em 2018, o Brasil exportou US$ 28,7 bilhões para os EUA, ou seja, se atingir os US$ 4,25 bilhões, poderia incrementar em até 15% suas vendas aos americanos.
No estudo em posse do governo brasileiro foram calculados preço s unitários de importação para mais de 5.000 grupos de produtos do Brasil, da China e de outros 68 países que importam para os Estados Unidos.
No primeiro levantamento, foram levados em conta preço médio dos importados da China —antes e depois da aplicação da sobretaxa americana— e o preço médio brasileiro menor do que o dos concorrentes, chegando-se aos 134 produtos.
Depois, foram filtrados os itens com maior potencial de entrada nos EUA, com critérios como os já vendidos pelo Brasil, a demanda do mercado americano e especialidades brasileiras.
O impacto da decisão de Trump de sobretaxar os produtos chineses foi inicialmente negativo no mercado, que depois amenizou as perdas ao absorver a análise de que essa era uma estratégia dos EUA para acelerar as tratativas com os chineses.
Uma delegação de Pequim foi à capital americana em maio para tentar fechar um acordo comercial que envolva, entre outros pontos, a proteção à propriedade intelectual, a redução das tarifas e a lista negativa de investimentos na China —para empresas dos EUA atuarem em solo chinês. Mas a viagem acabou sem consenso.
Em relação ao impacto sobre os produtos do Brasil, especialistas têm a avaliação desde o início de que o setor agrícola, com soja, milho e trigo, deveria ser observado com atenção.
Enquanto as tarifas estiverem altas, o apetite da China para comprar dos Estados Unidos é cada vez menor, o que beneficia o exportador brasileiro.
Por outro lado, os chineses devem usar exatamente esse tipo de bens como moeda de troca para conseguir mais vantagens com os americanos e, com o acordo fechado, o Brasil poderia perder mercado para Washington.
OS PRODUTOS BENEFICIADOS
Ferro e aço
Partes para aviões ou helicópteros
Sacos, bolsas e cartuchos, de outros plásticos
Pneus novos de borracha dos tipos utilizados em automóveis de passageiros
Motores elétricos de corrente alternada, polifásicos, de potência > 750 W e <= 75 kW
Ácidos monocarboxílicos aromáticos, seus anidridos, halogenetos, peróxidos, perácidos e derivados
Eixos e rodas e suas partes, de veículos para vias férreas
Motores elétricos de corrente alternada, polifásicos, de potência <= 750 W
Madeira compensada ou folheada, e madeiras estratificadas semelhantes, de bambu
Concentrados de proteínas e substâncias protéicas texturizadas
Gálio, germânio, háfnio, índio, nióbio, rênio e vanádio, em formas brutas; desperdícios e resíduos; pós
Catalisador em suporte, tendo como substância ativa um metal precioso ou um composto de metal precioso
Buta-1, 3-dieno e isopreno não saturados
Peras e outras frutas secas
Aldeídos acíclicos não contendo outras funções oxigenadas
Ésteres do ácido acrílico
Tubos de borracha vulcanizada não endurecida, reforçados ou associados apenas com metal, sem acessórios
Resíduos e desperdícios de platina ou de metais folheados ou chapeados de platina
Molas helicoidais de ferro ou aço
Ésteres do ácido metacrílico
Óxidos e hidróxidos de vanádio
Cilindros de laminadores, de metais
Aparelhos de raio X, de radiofotografia ou de radioterapia, para outros usos
Madeira compensada, constituída por folhas de madeira (exceto bambu), cada uma das quais de espessura não superior a 6 mm, com pelo menos uma face de madeira tropicais
Ferramentas intercambiáveis de tornear, de metais comuns
Escovas de carvão, para usos elétricos
Nozes de macadâmia, sem casca, frescas ou secas
Placas, folhas ou tiras, de mica aglomerada ou reconstituída
Fios de algodão, para venda a retalho, contendo => 85% em peso de algodão
Outros aditivos preparados, para óleos minerais ou para outros líquidos com fins semelhantes
Papéis e cartões, não revestidos, contendo <= 10% de fibras obtidas por processo mecânico ou químico-mecânico, de peso > 150 g/m2, em rolos ou folhas
Pastas carbonadas para eletrodos e pastas semelhantes para revestimento interior de fornos
Iodetos e oxiiodetos
Pneus recauchutados, dos tipos utilizados em automóveis de passageiros (incluídos os veículos de uso misto e automóveis de corrida)
Fonte: Folha