As importações do país cresceram significativamente no primeiro trimestre na comparação com o mesmo período do ano anterior. As importações de mercadorias "made in China", porém, cresceram muito mais, favorecidas pela maior capacidade de consumo das famílias com menor renda. Os desembarques de produtos chineses tiveram no período elevação de 45,5% em valor, bem acima da média, de 36%. As importações dos Estados Unidos aumentaram apenas 6,23%.
A compra de produtos chineses foi puxada principalmente por máquinas e insumos para a indústria eletrônica, como partes de aparelhos de transmissão e circuitos integrados. O aquecimento do setor automotivo também impulsionou as importações de outros países, como Argentina, que vendeu ao Brasil 41,93% a mais no trimestre. Também puxada pelos automóveis, os desembarques com origem na Coreia do Sul cresceram 80,2%.
A pauta de importação do Brasil de produtos chineses fez toda a diferença, diz André Sacconato, da Tendências Consultoria. "É um reflexo da mudança da estrutura brasileira de classes." Os bens importados da China, acredita, atendem à alta demanda das famílias de renda mais baixa que tiveram aumento no poder de compra. Isso, segundo ele, acontece tanto para os bens de consumo quanto para o fornecimento de insumos industriais.
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"Os principais itens exportados pela China ao Brasil são componentes para a indústria eletroeletrônica e de informática, altamente demandada pelo mercado interno", diz Lia Valls, professora da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Existe, na verdade, uma tendência de aumento da corrente de comércio entre Brasil e China, aponta Fernanda Feil, da Rosenberg & Associados. Por isso, ao mesmo tempo em que o Brasil eleva as exportações de commodities para o parceiro asiático, a China também vende mais ao Brasil em produtos manufaturados "A China tem aproveitado o mercado brasileiro. Ela já tem preço em função de competitividade e atualmente suas exportações estão favorecidas com a desvalorização da moeda chinesa."
A alta dos desembarques com origem da China não deve se restringir ao primeiro trimestre. Fernanda acredita que as importações do país asiático devem continuar aumentando em nível acima da média em 2010. A estimativa da Rosenberg é que as importações totais do país cresçam 32,8% no ano, na comparação com 2009. As exportações devem ter elevação de 17,4%.
Mesmo com o avanço das importações da China, Sacconato acredita que o Brasil passe a ter superávit com o país asiático. A compra de produtos chineses deve continuar forte, acredita, em função da perspectiva de crescimento da economia brasileira, estimada pela Tendências entre 5,5% e 6% para 2010. "A China, porém, deve crescer mais: cerca de 9,5%, o que vai alavancar as exportações das commodities brasileiras."
No primeiro trimestre o Brasil ficou com déficit de US$ 607,6 milhões na balança comercial com a China, mas Sacconato acredita que isso se reverterá nos próximos meses, mais provavelmente a partir de maio. "Haverá escoamento da safra agrícola, enquanto que as exportações de minério de ferro e de celulose contarão com alta de preços."
Fernanda aponta a tendência de elevação de preços das commodities agrícolas e metálicas. A Rosenberg estima para este ano crescimento de 10% no preço médio de commodities agrícolas em relação a 2009. Para as commodities metálicas, a expectativa de aumento é de 15%.
Na balança com os Estados Unidos, porém, acredita Sacconato, da Tendências, deve pesar bastante a expectativa de crescimento relativamente baixo do mercado americano, estimado em 2,4%. No primeiro trimestre o Brasil ficou com déficit de US$ 1,43 bilhão na balança com os americanos. O quadro, acredita, Sacconato, não deve se transformar muito até o fim deste ano, já que as exportações brasileiras para os Estados Unidos dependem de uma reação maior daquele mercado. "É bem possível que em 2010 tenhamos um pequeno déficit ou talvez um superávit muito baixo com os Estados Unidos."
Fonte: Valor Econômico/Marta Watanabe, de São Paulo
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