De olho na abertura da indústria brasileira de gás natural, a Shell vê espaço para importar moléculas de países vizinhos para atender o mercado nacional e, assim, se consolidar como um grande fornecedor de gás no país. O presidente da companhia no Brasil, André Araujo, disse que a empresa pode não só vender o gás produzido por ela no pré-sal, como também tem "interesse em aproveitar as oportunidades" do gás produzido na Bolívia e, no futuro, até mesmo da Argentina.
Esta semana, a Shell avançou para a terceira fase da chamada pública coordenada pelas distribuidoras de gás canalizado do Centro-Sul e entrou para a fase de negociações finais diretas com as concessionárias MSGás (MS), Gas Brasiliano (SP), Compagas (PR), SCGás (SC) e Sulgás (RS). A petroleira competirá com a Petrobras, a francesa Total, a boliviana YPFB, entre outros três produtores, por contratos de fornecimento de gás para a partir de 2020, por meio do Gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol).
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"Estamos olhando todas as opções. A Shell é um grande 'player' mundial em gás e tem interesse em aproveitar as oportunidades. Isso serve para gás oriundo da Bolívia. E eventualmente, futuramente, da Argentina, do nosso próprio gás do Brasil ou GNL [gás natural liquefeito]", disse Araujo após participar do Seminário de Gás Natural do Instituto Brasileiro de Petróleo.
No fim do ano passado, a Shell assinou memorando de entendimentos com a YPFB para importar 4 milhões de metros cúbicos diários de gás até 2022 e 10 milhões de m3 /dia a partir dessa data. A empresa acredita que tem chance de celebrar contratos com as distribuidoras de gás do Brasil.
Sócia da Petrobras nos principais campos do pré-sal, a Shell produz, hoje, 12,5 milhões de metros cúbicos diários de gás natural no Brasil, o equivalente a 11% da produção nacional. A empresa tem buscado algumas alternativas de monetização para esse gás.
Em fevereiro, a empresa anunciou a estreia no setor de energia, no Brasil, ao entrar com fatia de 29,9% no consórcio responsável pela construção da termelétrica a gás de Marlim Azul (565 MW), em Macaé (RJ), ao lado de Pátria Investimentos e Mitsubishi. A unidade consumirá gás da Shell do pré-sal.
A companhia vive momento de expansão das atividades no Brasil para além do setor de petróleo e biocombustíveis e tem interesse em fortalecer a posição nos setores de energia elétrica e gás natural.
Na área de óleo e gás, Araujo disse que a Shell olha para oportunidades nos três leilões da ANP neste ano. Na semana passada, notificou a descoberta de indícios de hidrocarbonetos em Sul do Gato do Mato, no pré-sal da Bacia de Santos. O bloco foi arrematado na 2ª rodada de partilha, em 2017, em parceria com a Total (20%). Araujo disse que é cedo para estimar tamanho e relevância da descoberta.
Fonte: Valor