Elevação da moeda deve favorecer retomada de vendas externas
A recente alta do dólar deixou tontos os industriais ligados à produção e distribuição de aço no Brasil. O estado de espírito foi descrito pelo presidente da Associação do Aço do Estado (AARS), José Antonio Fernandes Martins, e pelo diretor comercial da CSN, Luis Fernando Martinez, que admitiram, na sexta-feira passada, ter sido surpreendidos pela escalada da moeda e apontaram que as empresas aguardam um equilíbrio da cotação para estudar eventual revisão de projeções do setor para 2012. Martinez aponta que a CSN trabalha com crescimento de até 10% no consumo aparente no próximo ano.
Um equilíbrio no câmbio é esperado. Martins considera um patamar adequado entre R$ 1,75 e R$ 1,80. Um dos acionistas da Marcopolo, líder na fabricação nacional de ônibus, o dirigente da associação imagina que o valor devolverá competitividade aos produtos. “As exportações representavam 50% das vendas há três anos, e agora não passam de 12%”, contrastou o empresário. Já Martinez preferiu não arriscar na expectativa de câmbio. “Em duas semanas, o dólar saiu de R$ 1,54 para R$ 1,90, melhor não arriscar nada sobre o futuro”, opinou o executivo, que sinaliza como recurso em meio à volatilidade cambial a busca de travas para proteger contratos externos.
Freio na importação de matéria-prima bruta e de produtos manufaturados, esses últimos os maiores responsáveis pela invasão estrangeira e concorrência aos setores internos, é a expectativa que domina os industriais, caso o câmbio mantenha a atual tendência. O corte nas encomendas externas deve ser reforçado pela elevação do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis, editada há mais de uma semana. A indústria de veículos individuais e transporte consome de 35% a 40% da matéria-prima no País, seguida depois pela construção civil. “Temos de avaliar o impacto depois de uma semana em que o mundo ficou diferente”, definiu Martinez, referindo-se à valorização repentina da moeda americana.
Neste ano a previsão é de ingresso de 5 milhões de toneladas de aço por meio de mercadorias prontas - de autopeças a panelas. Há três anos o volume foi de 3 milhões de toneladas. Já a matéria-prima (aço bruto) deve somar ingressos de 3 milhões de toneladas, abaixo dos 5 milhões de 2010. A queda é atribuída a uma migração para os bens acabados. O efeito da concorrência, segundo Martins, é o equilíbrio de preços. Queixa recorrente de demandantes do metal, o maior preço do produto nacional, agora já teria desaparecido. “A diferença já chegou a 20%. Hoje está tudo igual”, observou o presidente.
O equilíbrio deve ajudar nas encomendas internas e reduzir o nível de ociosidade que estaria em 25% da capacidade das plantas que produzem laminados. Já o produto importado responde hoje por 10% a 15% do consumo. A capacidade total instalada de matéria-prima é de 36 milhões de toneladas anuais. Martinez cita que a CSN investiu no primeiro semestre R$ 8 bilhões para ampliar a estrutura produtiva, e chegará a R$ 15 bilhões até dezembro. A produção anual é de 5 milhões de toneladas.
A CSN e a Usiminas, maior fabricante brasileira, com 9 milhões de toneladas anuais, respondem por 70% do mercado interno. O Estado adquire atualmente 11% dos aços planos supridos internamente, bem acima da fatia do PIB na economia, que gira entre 6% e 7%. Parte da demanda deve ser reforçada até 2014 pela preparação para a Copa do Mundo. Martins lembra que 60% dos R$ 115 bilhões de investimentos previstos pelo governo federal para o Mundial serão injetados em obras de infraestrutura.
Os industriais admitem que parte pequena da cifra já se traduziu em encomendas. O segmento também valoriza o estoque de aportes do PAC para o Rio Grande do Sul, que soma R$ 32 bilhões. “O consumo de aços planos no Estado é duas vezes maior que a média nacional”, valorizou o executivo da CSN.
Fonte: Jornal do Commercio (RS)
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