A indústria paulista de transformação fechou o ano de 2010 com alta de 9,9% no Indicador de Nível de Atividade (INA) – denominado oficialmente de 10% pela Fiesp/Ciesp, que divulgaram os dados nesta quinta-feira (27). Este foi o segundo melhor desempenho em oito anos, atrás apenas de 2004 (13,2%).
Parte desse resultado deveu-se à recuperação da queda ocorrida em 2009 (-8,2%), ano que contabilizou os prejuízos da crise financeira mundial. Para Paulo Francini, diretor de Economia da Fiesp/Ciesp, o desempenho foi satisfatório, mas predomina agora a sensação de dúvida com relação ao futuro da indústria em 2011.
“Olhando para trás, ficamos felizes. A base de comparação com 2009 era fraca e permitia uma taxa de crescimento de dois dígitos. Mas, olhando para frente, há incertezas”, admitiu Francini.
Segundo ele, não se trata de pessimismo, mas há um conjunto de variáveis sobre as quais residem dúvidas – taxa de câmbio, juros, preços internacionais, produção doméstica x importada. A Fiesp projeta um crescimento na faixa de 4% a 4,5% para o INA ao final do ano.
Conjuntura
Em novembro e dezembro, o indicador cresceu 1,3% e 0,4%, respectivamente, com ajuste sazonal. Na série sem ajuste, os resultados foram -0,6% e -8,7%.
Os números mostram que a atividade da indústria paulista já deixou para trás todos os efeitos negativos da crise – no último mês de 2010, o desempenho já havia superado em 1% o patamar registrado em setembro de 2008.
Entre as variáveis do levantamento, destaque para o total de horas pagas (+8%) e o total de vendas reais (+9,5%) na comparação 2010/2009. O total de salários reais cresceu 5,8% no período, e as horas trabalhadas na produção subiram 7,8%.
Em dezembro, o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) ficou em 81,6%, na série sem ajuste, e computou queda em relação a novembro (84%). O índice ficou ligeiramente acima do registrado em dezembro de 2009 (79,6%).
Atividade industrial
O segmento de minerais não-metálicos, que concentra materiais da construção civil, conseguiu manter a taxa de crescimento em patamar razoável e cresceu 7,7% no ano. O desempenho ficou 3,4% acima do registrado em 2009, porém, 0,8% abaixo do patamar pré-crise (setembro de 2008). Os dois últimos dados da série foram -0,2% em novembro, e -1,1% em dezembro, com ajuste sazonal.
Em ano de altos e baixos e forte concorrência com os produtos importados, metalurgia básica registrou crescimento de 9,7% no período. No entanto, a atividade ficou 9,2% abaixo da registrada em 2009, e 17,2% menor em relação a setembro de 2008. Em novembro, o setor ficou estável em 0,2% e, no último mês, houve baixa de 4%.
Máquinas e Equipamentos fechou o ano com alta de 24,4%, mais que o dobro do desempenho geral da indústria. Ainda assim, o resultado ficou 6,9% abaixo do crescimento contabilizado ao longo de 2009, e 12,7% abaixo do referencial pré-crise. Em novembro e dezembro, os dados ajustados foram 0,2% e -2,2%, respectivamente.
Segundo Paulo Francini, em três setores industriais o coeficiente de importação já supera a faixa dos 50%, ou seja, a produção importada já ocupa mais da metade do total demandado. Além de máquinas e equipamentos, o fenômeno ocorre também nos setores de produtos eletrônicos e de materiais elétricos.
O segmento de veículos automotores teve 20% de seu mercado tomado por importados em 2010 – cerca de 700 mil unidades. Segundo o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), o Brasil encerrou o ano com déficit de US$ 34,7 bilhões nas vendas externas de produtos manufaturados.
Olhar do empresário
O Sensor, que aponta a perspectiva dos empresários em relação ao cenário econômico do mês corrente, voltou a subir em janeiro: 50,2 pontos. Em dezembro, o indicador havia caído três pontos (47) em relação ao mês anterior (51,2).
O resultado, porém, indica que o Sensor acalmou. A série não havia apurado pontuação semelhante nos últimos 12 meses.
Os itens Mercado (47,5) e Vendas (48,1), abaixo do ponto neutro, refletem baixas na expectativa das empresas. A variável estoque (46,8) voltou a se aproximar da faixa neutra, de equilíbrio. Investimento deu um salto de 46,7 para 58,3 – o que mostra que as empresas tendem a melhorar suas condições competitivas, dada a agressão do mercado externo e dos importados. O emprego, estável em 50,1 pontos, também dá sinais de que não deve seguir em expansão.
“O Sensor aponta mais para estabilidade do que para crescimento, e há muito tempo não indicava um sinal como esse. Estamos curiosos de saber o quanto desse sentimento se dá em função da competição que está ocorrendo com os importados”, resumiu Francini.
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