Depois de um resultado pífio em 2011, a indústria voltou a crescer no último mês do ano. Apoiada nos setores de bens duráveis e de capital, a produção industrial subiu 0,9% entre novembro e dezembro, feitos os ajustes sazonais, mas a melhor notícia no resultado foi o grande número de setores com resultado positivo - dos 27 ramos analisados pela Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física (PIM-PF) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 16 aumentaram sua produção no período (60% do total). O resultado foi visto por economistas como sinal de que, daqui para frente, o setor deve entrar numa trajetória de retomada lenta e gradual, após o ano perdido para a produção: a expansão foi de apenas 0,3% em 2011 na comparação com 2010.
Os principais entraves à indústria no ano passado, afirmam analistas ouvidos pelo Valor, foram o aperto do crédito, que reprimiu a demanda e provocou acúmulo de estoques, o câmbio valorizado, que favoreceu o consumo de importados, e a crise externa, que piorou na passagem do primeiro para o segundo semestre e afetou a confiança de consumidores e empresários. "O real valorizado durante a maior parte do ano favoreceu a presença de produtos importados de têxtil e calçados no mercado doméstico", avaliou André Luiz Macedo, economista do IBGE.
Como o governo tomou medidas de incentivo à economia no fim do ano passado e o Banco Central está cortando os juros desde agosto, o consumo doméstico deve ser a base da recuperação da indústria em 2012, já que a demanda externa e o câmbio não devem ajudar as exportações, dizem os economistas. Para alguns, a disseminação do crescimento no fim de 2011 reforça o quadro de otimismo para o começo deste ano.
Para Fernanda Consorte, do banco Santander, o dado de dezembro é o início de uma trajetória de ascensão da indústria, que está diminuindo seus estoques e deve apresentar taxas positivas ao longo do ano. "Não vai ser todo mês que a indústria vai crescer 0,9%, mas vai sempre registrar crescimento em relação ao mês anterior", projeta ela.
Fernanda aponta que o avanço do setor de bens de capital no último mês do ano, cuja produção cresceu 3,7% frente a novembro, descontados os fatores sazonais, é um indício de que a confiança dos empresários está aumentando, o que resulta em produção maior mais à frente. O resultado foi influenciado pela aceleração na produção de caminhões em dezembro porque em janeiro entrou em vigor uma nova legislação de emissão de poluentes, mas também cresceu o indicador de bens de capital para uso industrial.
A categoria de uso que mais se destacou na passagem de novembro para dezembro foi a de bens duráveis, que cresceu 7% na série dessazonalizada. A redução do IPI para parte da linha branca aumentou a produção nesse segmento (6% sem ajuste sazonal), mas o setor de veículos automotores foi a principal influência positiva para o resultado geral, avaliam os economistas ouvidos. A indústria automobilística, que tem peso de 7% no indicador geral, registrou expansão de 5,2% no período, de acordo com o IBGE, nesse caso descontados os efeitos sazonais.
Segundo Thovan Tucakov, da LCA Consultores, ainda é cedo para concluir que a reversão parcial das medidas macroprudenciais já está soltando as amarras sobre o crédito e impulsionando a demanda, avaliação feita por Fernanda, do Santander. "A indústria responde rápido a isso", afirma a economista, para quem a produção deve aumentar 2% este ano.
Se até agora os efeitos dos estímulos sobre a produção ainda não foram claros, pondera o analista da LCA, eles devem aparecer com mais força no segundo trimestre de 2012, quando a indústria já tiver concluído seu processo de ajuste de estoques e estiver pronta para atender o mercado doméstico, aumentando a atividade nas fábricas. Por outro lado, a demanda externa enfraquecida e o câmbio valorizado continuarão presentes em 2012, dificultando uma retomada mais forte da produção.
A LCA espera um câmbio médio em torno de R$ 1,70 em 2012, diante de R$ 1,67 registrado em 2011. "Não será do lado do câmbio que teremos alívio. Em um cenário de crise, os recursos continuarão sendo direcionados para países emergentes, que terão crescimento melhor do que economias maduras. Além disso, mesmo com o ciclo de redução de juros, o diferencial do Brasil em relação a outros países seguirá grande", explica Tucakov, que prevê crescimento de 2,5% da produção este ano.
A MB Associados trabalha com um cenário um pouco mais pessimista para a indústria em 2012, sem esperar maiores efeitos da política econômica, comenta Sérgio Vale, economista-chefe da consultoria. Para ele, uma retomada modesta do setor deve ocorrer somente no segundo semestre. "Esse 0,9% me parece mais um respiro de fim de ano. Há uma perspectiva complicada para o primeiro semestre, quando ainda continuaremos vendo números bastante fracos."
O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) viu com certo otimismo o resultado de dezembro, mas não aposta em um desempenho brilhante do setor em 2012, ano que será marcado pela volatilidade do câmbio e por nova onda de importações, segundo Rogério César de Souza, economista-chefe da entidade. "É um aumento de importados que não é para completar a produção nacional. É para tomar o lugar, mesmo."
(Fonte: Valor Econômico/Por Arícia Martins | De São Paulo/Colaborou Diogo Martins, do Rio)
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