A ThyssenKrupp CSA - Companhia Siderúrgica do Atlântico teve a entrada em operação do alto-forno nº 2 adiada por questões ambientais. Luiz Firmino Martins Pereira, presidente do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), disse ao Valor que a siderúrgica, controlada pelo grupo alemão ThyssenKrupp e pela Vale, entrou em outubro com pedido no Inea para iniciar operação desse alto-forno, mas o pedido foi negado com receio de ocorrer o mesmo problema do primeiro equipamento. ao entrar em pré-operação, despejou partículas de óxido de ferro na atmosfera de Santa Cruz, no Rio, onde fica a usina.
"Só vamos dar a licença depois que a CSA fizer uma obra para vedar o pátio onde é derramado o gusa e ligá-lo diretamente às centrais de filtragem", declarou o presidente da Inea. Segundo ele, a empresa informou que essa obra levaria seis meses. "Só teremos certeza que não vai vazar nada após nossos técnicos dizerem que está tudo ok. Aí daremos a autorização".
O novo diretor de sustentabilidade da CSA, Luiz Claudio Ferreira de Castro, disse que o início das operações do alto-forno nº 2 não pode, de forma alguma, ser comparado com o que aconteceu no alto-forno nº 1. Segundo ele, "o segundo está pronto e sua entrada em operação depende de testes finais a serem realizados com a presença de técnicos do Inea".
Castro explicou que, quando o alto-forno 1 entrou em pré-operação, a aciaria da siderúrgica, que tem a função de receber o gusa para a produção das placas de aço, ainda não estava operando, razão pela qual o produto precisou ser descartado. Atualmente, a aciaria já está em plena operação e absorverá o gusa a ser produzido pelo alto-forno nº 2, evitando a mesma intensidade de emissões, como as que são resultantes de um descarte prolongado, informou.
Cada alto-forno da CSA produzirá, a plena capacidade, 2,65 milhões de toneladas de gusa por ano. A usina da ThyssenKrupp no Alabama (EUA) receberá 60% da produção total de placas da CSA, que será de 5 milhões de toneladas ao ano. A laminadora americana Thyssen será inaugurada hoje.
Firmino, como é mais conhecido o presidente do Inea, observa que no Estado do Rio as siderúrgicas são potencialmente as indústrias de grande impacto sobre os gases de efeito-estufa. Para produzir o aço, consomem muita energia, disse, referindo-se à CSN e à CSA, as maiores usinas fluminenses. "Elas são imbatíveis", declarou.
Ele pontua que mesmo a CSA, com todo o equipamento do século XXI em funcionamento (foi inaugurada em junho) "tem alto potencial poluidor". Mas reconhece que nesse momento a usina está operando "adequadamente".
Firmino calcula que a CSA emite em torno de 1,7 tonelada de CO2 por tonelada de aço produzida, contra 2,3 toneladas CSN para cada tonelada, construída nos anos 50.
O executivo avalia que os equipamentos de controle ambiental da CSA são de primeira linha e não duvida que a usina vai conviver bem no entorno. Ele reconhece que agora as emissões de partícula de óxido de ferro estão sob controle. O alto-forno nº 1 está funcionando, preparando o coque que faz o gusa e vai para a aciaria, onde sai o aço. "A filtragem está adequada. Mas não vamos deixar acontecer de novo", fala Firmino, referindo-se a poluição do ar que ocorreu quando o alto forno nº 1 entrou em pré-operação, em meados do ano.
"Eles (CSA) estavam autorizados a usar a lingotadora e não sabemos porque ela não funcionou e aí começou a vazar o gusa numa panela no chão e as partículas de óxido de ferro, depois que o gusa secava, eram levadas pelo vento. O pó de ferro foi parar nas comunidades em volta. Chegamos a dar ordem de desligamento da empresa, mas conseguiram contornar o nível de poluição, que baixou quando entrou em carga a aciaria. Multamos a CSA em R$ 1,8 milhão", informou.
A CSA recorreu da multa aplicada pelo Inea. A empresa pediu o cancelamento, que não foi aceito, mas o valor foi reduzido para aproximadamente R$ 1,3 milhão, com base na Lei ambiental 3467, do Estado do Rio, pois o Inea reconheceu que o alto-forno nº 1 estava em fase pré-operacional.
A revisão da multa foi feita na reunião do último conselho da diretoria do Inea, semana passada. Agora, está sendo analisada pelo Inea a possibilidade da siderúrgica da ThyssenKrupp converter parte da multa, R$ 800 mil, em obras de melhoria de drenagem da comunidade de São Fernando, a mais afetada diretamente pelas partículas de óxido de ferro emitidas pela empresa durante a pré-operação do alto forno nº 1. "O restante da multa seria recolhido pecuniariamente direto ao fundo estadual de conservação ambiental do Estado", informou Firmino. A Lei 3467, que regula as multas, permite que se faça a conversão com a assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC). "A CSA já se manifestou favorável".
O diretor de sustentabilidade da CSA disse que até o momento a CSA não foi informada oficialmente sobre o acolhimento do recurso pelo órgão ambiental. Contudo, crê que os argumentos da empresa serão acolhidos pois avalia que "não houve violação dos limites legais de emissão de particulados e tambem porque a saúde da população não esteve em risco". "Vale observar que o conjunto de São Fernando não foi afetado pelo episódio de agosto mas a empresa está disposta a financiar a obra de saneamento por entender a importancia de tal melhoria pra seus moradores e como parte de um acordo com o Inea".
Fonte: Valor Econômico/Vera Saavedra Durão | De Rio
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