Após mais de dez anos sem pagar dividendos aos acionistas, a Inepar deve, no próximo mês, voltar a distribuir proventos.
A empresa deverá retomar o pagamento de R$ 10,5 milhões aos acionistas, ou cerca de R$ 0,11 por ação, que havia anunciado em maio do ano passado, e que tinha sido suspenso.
No ano passado, a empresa foi obrigada a adiar a remuneração aos acionistas, pois possuía debêntures vencidas desde 2002, e por isso não estava apta a pagar os acionistas.
Isso porque, em caso de default, os detentores de debênture têm preferência em relação aos acionistas, que são os últimos a receber. A maioria das dívidas que a empresa possuía foi convertida em aberturas de capital realizadas em 2009 e 2010, mas alguns credores resistiram.
"Pagaremos os dividendos imediatamente após quitar a segunda emissão [de debêntures]", afirma Dionísio Leles, diretor de relações com investidores da Inepar.
"Será um valor importante, mas mais que isso, indica uma atenção maior aos acionistas", diz Rodolfo Amstalden, sócio da casa de análises Empiricus Research.
Um ano depois de anunciar os proventos, a empresa conseguiu um acordo para regularizar a situação. Na sexta-feira (20/7), a assembleia de credores da Inepar aprovou o resgate das debêntures de segunda emissão, pelo valor de R$ 11,2 mil por papel, valor que ainda será corrigido.
O pagamento será feito com os recursos obtidos em outra emissão de debêntures, anunciada na semana passada. A empresa pretende captar R$ 150 milhões, e a oferta será voltada a investidores qualificados.
Desse total, cerca de R$ 20 milhões será usado no resgate das debêntures vencidas, e o restante será utilizado no alongamento do perfil da dívida e no reforço do capital de giro. O prazo das novas debêntures, que não serão conversíveis em ações, será de quatro anos.
"É um alongamento de nossa dívida, parte da reestruturação de nosso passivo", diz Leles.
Teoricamente, o valor dos dividendos deveria receber correção, um ano após anunciado. No entanto, o reajuste deve ser aprovado pelo Conselho de Administração, o que não é garantido. "Governança corporativa definitivamente não é o ponto forte da Inepar", avalia Amstalden.
Pedidos
A empresa anunciou que obteve novos contratos com a Tupi BV e a Guará BV, afiliadas da Petrobras, para o fornecimento de 24 módulos de compressão para seis plataformas, no valor de US$ 720,4 milhões.
Os contratos possuem opções de fornecimento de mais oito módulos para duas plataformas, podendo chegar a US$ 911,3 milhões. O acordo havia sido antecipado pela Petrobras na semana passada.
"Essa extensão será praticamente automática, desde que a empresa cumpra com o acordo", diz Amstalden. O prazo para todos os módulos é de 54 meses, e os pedidos serão atendidos pela Iesa, subsidiária da Inepar para a área de petróleo e gás.
Como a empresa possui limitações de capacidade, esses pedidos são condicionados a um investimento de R$ 100 milhões na construção de uma nova unidade no município de Charqueadas, no Rio Grande do Sul.
Os contratos devem reforçar a carteira de pedidos da empresa - que vinha demonstrando queda a cada trimestre. Em março, a carteira de pedidos da companhia havia se situado em R$ 3,03 bilhões, uma queda de 10% frente ao final de 2011, chegando a um nível preocupante.
"Agora, a carteira de pedidos da empresa ficará ao redor de R$ 5 bilhões, o que é um valor confortável", diz Amstalden.
Reestruturação
Mesmo com os avanços, a empresa está longe de ter suas pendências resolvidas. A Inepar Administração e Participações (IAP), controladora da Inepar, é atualmente alvo de processo da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), junto com os demais controladores.
A autarquia acusa os controladores de terem cometido irregularidades no processo de venda da fatia que detinha na operadora de celular Global Telecom (atualmente Vivo), além de terem se favorecido em processos de aumento de capital.
Segundo a CVM, os prejuízos causados pela IAP aos acionistas da empresa somam R$ 704,8 milhões.
"As ações da empresa ainda ficam sujeitas ao momento desfavorável do setor de óleo e gás. Não é uma ação para o curto prazo", ressalta Amstalden. "Os ativos hoje estão depreciados pela má governança."
Fonte: Brasil Econômico / Felipe Peroni
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