O interesse maior está na atração de investimentos, com a absorção de tecnologia e geração de empregos e de renda
A China está no foco dos interesses da Bahia quando se trata de oportunidades de negócios. E não é para menos: nesses últimos anos, o gigante do Oriente, que se tornou em poucas décadas a segunda maior economia do mundo, passou a ser o segundo parceiro comercial do estado — na frente dos Estados Unidos —, ficando atrás apenas da União Europeia. O governo baiano mantém, inclusive, um escritório em Pequim, a fim de observar de perto as possibilidades de intercâmbio econômico.
O interesse maior está na atração de investimentos, com a absorção de tecnologia e geração de empregos e de renda. E também no outro lado: a identificação de nichos para empresas exportadoras baianas. As exportações da Bahia para a China estão em ritmo ascendente. De apenas US$ 246,3 milhões exportados em 2005, a Bahia vendeu para o exterior em 2010 US$ 1,1 bilhão, ou 13,1% de todas as vendas externas do estado no período.
Agressividade
Por enquanto, o saldo da balança comercial é favorável à Bahia, registrando US$ 687,4 milhões em 2010. Mas as cifras da importação, que já eram crescentes, devem disparar este ano, por conta não só do aumento da renda interna e do câmbio favorável, mas da agressividade comercial da China que, ao subsidiar insumos e manter os salários em níveis insignificantes, coloca seus produtos nos mercados mundiais a preços baixíssimos.
“Precisamos reagir com a mesma firmeza que outros países. Temos 70 mil empregos na área de calçados, que estão sendo ameaçados pelo produto chinês”, reclama o secretário da Indústria, Comércio e Mineração, James Correia. Entre os pontos a serem melhorados está infraestrutura, tema do primeiro seminário do Agenda Bahia, que será realizado amanhã. Os gastos com logística encarecem os custos das empresas, reduzindo competitividade. Os portos chineses, por exemplo, são muito bem montados.
O crescimento econômico chinês é hoje um impulsionador de consumo em várias partes do mundo, principalmente de matérias-primas, o que favorece a balança comercial brasileira. A Bahia tem se beneficiado em vários segmentos, como algodão e o de cobre (confira no infográfico).
Em 2008, com a crise econômica iniciada nos EUA, houve verdadeiro baque nos preços internacionais do cobre. Foi a atuação da China que salvou a situação. De menos de US$ 4 mil no início de 2009, o metal teve o preço recuperado para US$ 10 mil em 2010 – um recorde. Hoje está em US$ 9,4 mil, na média. Cerca de 20% das exportações da Caraíba Metais, única produtora de cobre do estado e uma das maiores do país, vão para a China.
Interesse
Embora apresente superávit em suas relações comerciais com o país, a Bahia se encontra em posição de desvantagem no que se refere ao valor dos produtos exportados. O carro-chefe da pauta é a celulose, papel e subprodutos, seguidos pelos metalúrgicos, soja e derivados, químicos e petroquímicos.
Já a China nos manda sobretudo eletroeletrônicos, máquinas e acessórios. Preocupado em agregar valor aos nossos produtos, o governo do estado tem estabelecido que os investimentos na produção de matérias-primas, como a grande esmagadora de soja que a estatal ChongOing Grain pretende implantar no Oeste a um custo de R$ 4 milhões, contemple a instalação de indústrias, para que o produto final saia da Bahia com preço melhor.
Os chineses já manifestaram interesse também em têxteis e nos charutos. Em resumo, em produtos agrícolas e derivados de recursos naturais, que são escassos em seu país. Se a Bahia souber aproveitar, está aí excelente oportunidade de negócios e geração de empregos.
Produto chinês ameaça Eliane
Os prejuízos causados pela atuação da China são reais para a fábrica de pisos cerâmicos da Eliane, que tem uma de suas plantas instaladas em Camaçari. Segundo o diretor industrial da empresa, Otmar Müller, já foram fechadas duas linhas de produção e, um mês atrás, a empresa colocou alguns funcionários em férias coletivas. “Tivemos nossa produção reduzida em 45%”, relatou.
A invasão dos pisos chineses começou com o porcelanato polido, piso mais requintado, que tem preço bem inferior ao produzido pelas indústrias brasileiras. Segundo Müller, 98,5% do porcelanato vendido hoje no Brasil vem da China, o que representa a criação de 5.600 empregos naquele país. A valorização do real, que barateou a entrada dos importados, traz efeitos negativos para as indústrias. “Há cinco anos, o metro quadrado do porcelanato vinha da China por R$ 23. Hoje, vem por R$ 15”. Já o brasileiro sai por R$ 25.
Outra questão que desfavorece as indústrias é a infraestrutura. “São as más condições das nossas rodovias o que mais impacta”, salienta Müller. Ele fez um relato da situação para o governador Jaques Wagner e o secretário da Indústria, James Correia. “Vamos documentar tudo isso para subsidiar o governo do estado, que defenderá a indústria perante o governo federal”, disse.
Rota ligando Bahia à China contribui para elevar competitividade dos produtos locais
O canal mais importante para a exportação baiana é o porto. No primeiro semestre deste ano foi aberta a primeira rota ligando diretamente a Bahia à China, com frequência de uma viagem semanal, a partir do Terminal de Contêineres (Tecon) do Porto de Salvador. A linha foi inaugurada pela Braskem, que exporta petroquímicos não só para a China, mas para outros países asiáticos.
A simples existência de uma linha ligando os dois países tão distantes contribui para a melhoria da competitividade dos produtos baianos, que antes tinham que fazer escalas em portos europeus, aumentando os custos. Com isso, a tendência é estreitar as relações comerciais da Bahia com a China, o que vale dizer que as importações também deverão aumentar.
Mas importar produtos chineses ou de qualquer outro país no Brasil não deverá ser tão fácil daqui para a frente. Anunciado ontem pelo governo federal, o Plano Brasil Maior, com medidas para incentivar a indústria brasileira, promete colocar o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) para fiscalizar a qualidade dos produtos importados, dentro das mesmas regras observadas para os nacionais. O objetivo é acabar com a concorrência desleal, ao evitar que mercadorias sem qualidade continuem disputando espaço com produtos brasileiros. O Inmetro terá livre acesso às alfândegas nos portos e aeroportos do país.
Fonte:Correio da Bahia
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