O déficit de US$ 1,291 bilhão da balança comercial em janeiro não é nada alarmante, mas recomenda muita atenção para uma possível deterioração do comércio externo.
O principal fato é que as exportações caíram 27% pela média por dia útil, e as importações, apenas 4% - em relação ao mês anterior. O problema situou-se essencialmente nas vendas, e dois fatores importantes afetaram as exportações: a queda do preço das commodities (que já havia começado dois meses atrás) e a retração nos países da União Europeia, que se agravou.
O minério de ferro é incontestavelmente a commodity que vem dominando nosso comércio com o exterior e acusou, em janeiro, uma queda de preços de 13,2%. Essa redução só foi parcialmente compensada pelo aumento de 28% das vendas de petróleo bruto, cujo volume foi sensivelmente igual ao de dezembro, enquanto o do minério de ferro caía 23,7%. As importações recuaram pela terceira vez consecutiva, e não se sabe se foram substituídas por produtos nacionais.
A distribuição das exportações por blocos econômicos apresenta uma mudança importante: a União Europeia continua sendo o melhor cliente do Brasil, mas, em relação ao mês anterior, acusou queda de 38,8%. Os EUA ultrapassaram a China como cliente do Brasil, pois o país asiático reduziu em 50,6% suas compras no Brasil, o que mostra que não podemos depender demais de um país que, comprando minério de ferro, pode acusar tamanha diferença de um mês para outro. As exportações para a Argentina diminuíram 19,1% em relação a dezembro, isso antes da vigência das novas normas protecionistas desse país.
O Banco Central previu a deterioração do comércio exterior do Brasil. Isso não nos impede de buscar melhorar as atuais perspectivas procurando aumentar o valor adicionado dos produtos oferecidos à exportação introduzindo neles maior conteúdo tecnológico - o que exige maiores investimentos em pesquisa para inovação.
O esforço maior deve se dirigir para a substituição de importações. E isso não deve ser buscado por meio de um aumento do protecionismo, como a Argentina faz atabalhoadamente, mas por investimentos para produzir a um custo menor e com melhora de qualidade da produção.
Isso implica uma reformulação de política industrial, com o concurso do governo agindo no custo do crédito; nos incentivos para pesquisa; na política externa de conquista de novos mercados; e nos acordos bilaterais. Cabe à indústria, que perdeu posição na formação do PIB, sugerir medidas que facilitem sair desse corner.
Fonte: O Estado de S.Paulo
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