A incorporadora João Fortes Engenharia entrou na noite de segunda-feira com pedido de recuperação judicial no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ). Na petição inicial enviada à Justiça, os advogados da companhia ressaltam que a dívida do grupo - no total são 63 empresas ou SPEs que constam do pedido - soma R$ 1,3 bilhão, incluídos valores extraconcursais.
A empresa pede também o levantamento imediato de aproximadamente R$ 4 milhões em depósitos elisivos feitos pela companhia, valor que considera essencial ao seu fluxo de caixa para arcar com os custos iniciais da recuperação e com obrigações como o pagamento dos salários dos funcionários. Atualmente a companhia tem 143 funcionários diretos e conta com a Alvarez & Marsal como consultora técnica para a elaboração da recuperação judicial.
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Esses depósitos elisivos foram feitos pela João Fortes em processos nas quais a empresa ou outras companhias do grupo são rés. A petição inicial lembra que, com a proposta de recuperação judicial, “já não podem mais prosseguir os requerimentos de falência, não se prestando mais os depósitos neles efetuados a elidir a quebra”.
A companhia pede que o pedido de recuperação judicial seja distribuído para a 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, devido à distribuição anterior a essa vara de cinco requerimentos de falência.
No comunicado que enviou ao mercado informando sobre a decisão, a João Fortes ressalta que “entende que o ajuizamento do pedido de recuperação judicial é a melhor alternativa para superar a crise financeira atual, uma vez que o processo permitirá a criação de um ambiente seguro para a renegociação com os credores e implementação de mudanças operacionais necessárias.”
O advogado Marcelo Carpenter, do escritório Sergio Bermudes, responsável pelo pedido de recuperação judicial, ressalta que houve uma série de razões para que a João Fortes, cujo primeiro empreendimento imobiliário remonta à Copacabana dos anos 50, tenha terminado por pedir a proteção da lei de RJ. “Houve uma tempestade perfeita no setor. Os juros ainda estavam altos, o desemprego elevado e o mercado imobiliário em crise. Os juros baixos são uma realidade recente. Soma-se a isso o grande número de distratos e dificuldades administrativas”, diz Carpenter, lembrando que o setor imobiliário é muito dependente de autorizações públicas.
O advogado ressalta ainda que o controlador da companhia nos últimos anos vem fazendo seguidos aportes na incorporadora, mas que mesmo assim as condições de mercado levaram À deterioração do ambiente de negócios no setor. “Agora, com a covid-19, a coisa piorou mais ainda, o mercado parou”, destaca Carpenter. “Imóvel é um investimento de longo prazo e ninguém está muito propenso a fazer esse tipo de investimento no momento”, diz.
A companhia também divulgou que o diretor-presidente da empresa, Antônio José de Almeida Carneiro, apresentou ao conselho de administração sua renúncia, permanecendo como membro do colegiado. Ele é presidente do conselho da João Fortes. Para o seu lugar, foi escolhido o atual diretor financeiro e de relações com investidores, Roberto Alexandre de Alencar Araripe Quilelli Correa.
Fonte: Valor