Numa conferência em Nova York sobre o Rio de Janeiro, turismo seria o tema principal alguns anos atrás. Agora, o assunto é infraestrutura.
Empresários, investidores, banqueiros e lobistas de vários países têm se interessado em participar dos investimentos, que alguns estimam chegará a US$ 90 bilhões, necessários não só para atender às demandas da Olimpíada e da Copa do Mundo, mas também para a expansão da indústria petrolífera.
"Há um grande interesse de empresas chinesas" por investimento no Rio, disse o executivo de um banco de investimento novaiorquino voltado a clientes chineses, durante Seminário Invest in Rio, realizado ontem em Nova York numa parceria entre "The Wall Street Journal" e Valor .
Ele citou a crescente demanda da China por energia, especialmente a renovável. "Há uma grande pressão mundial para a China reduzir emissões." O executivo está em busca de empresas desse ramo em que seus clientes chineses possam investir para assegurar suprimento de combustível.
Para que o produto brasileiro chegue à China, porém, é preciso equacionar o gargalo dos portos. Mas se as queixas quanto às limitações de logística do país continuam, agora as palavras "oportunidade" e "investimento" aparecem com mais frequência quando se fala das deficiências de infraestrutura.
"Queremos investir no Superporto do Açu", disse ao "The Wall Street Journal" Priam Sen, presidente da Monarch Holdings, subsidiária do grupo indiano Monarch Worldwide Group, que fornece matérias-primas para indústrias, particularmente chinesas.
Sen afirmou que sua empresa já compra minério de ferro e açúcar em quantidade no Brasil e quer ampliar as compras porque a qualidade dessas commodities no país é atraente, mas, para isso, "ter participação no superporto seria uma grande vantagem".
Sen disse ainda que um eventual investimento de sua empresa seria na casa de US$ 250 milhões. O empresário diz ter sondado o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que teria sido receptivo, segundo ele, à ideia de financiar possível investimento da Monarch.
Por outro lado, a promessa de que a escolha para abrigar a Olimpíada traria uma onda de investimentos em infraestrutura ao Rio começa a se materializar. Do fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil à incorporadora CHL e à rede hoteleira canadense Four Seasons, há uma série de projetos concretos que começam a ser desenvolvidos, como ressaltaram as próprias entidades no seminário.
Se a Olimpíada de 2016 ou, antes disso, a Copa do Mundo de 2014, cuja final será no Maracanã, são o grande chamariz, o fator que deve realmente mover os investimentos na cidade nos próximos anos tem muito a ver com os acontecimentos das últimas décadas. Em outras palavras, com o próprio declínio da Cidade Maravilhosa.
"A falta de investimentos durante vários anos se tornou agora uma oportunidade", resumiu o diretor de investimentos da Previ, Fábio de Oliveira Moser. O fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil tem vários planos para aproveitar essa oportunidade, como R$ 4 bilhões a serem aplicados até 2015 só na área de transporte.
A Previ tem interesse em participar de uma possível privatização do aeroporto internacional do Rio de Janeiro. De acordo com Moser, embora o governo federal tenha anunciado que o aeroporto do Rio seria o primeiro a ser licitado, ainda não há novidades sobre o processo. Momentos antes, o governador Sérgio Cabral já havia chamado a atenção para a necessidade de investimentos na modernização da estrutura aérea do Rio para que o Estado possa receber a Copa do Mundo (a final do torneio será realizada no Rio, que também sediará o centro de mídia) e a Olimpíada.
A grande questão sempre é: o que vai acontecer com todo esse investimento depois dos jogos? Para responder a essa pergunta, também esteve no evento Pedro Fontana, que dirigiu o comitê organizador dos jogos de Barcelona de 1992, até hoje considerados um raro exemplo de sucesso no aproveitamento da infraestrutura criada para a Olimpíada.
Os investimentos relacionados à Olimpíada têm de se sustentar sobre as bases econômicas do município, em vez das expectativas muitas vezes eufóricas que podem acompanhar a hospedagem dos jogos, disse Fontana. "É preciso resistir às pressões", disse ele, aconselhando disciplina fiscal para não promover investimentos além do necessário.
Um exemplo que ele cita é o do aumento da capacidade hoteleira. No caso do Rio, o COI requisita uma oferta de 40 mil quartos, o dobro da atual. Fontana disse que os 20 mil adicionais devem ser vistos como um ideal, mas que é preciso considerar quantos podem de fato ser utilizados durante e depois dos jogos.
A mensagem parece ecoar nas empresas do setor. O diretor de desenvolvimento para a América Latina da cadeia hoteleira canadense Four Seasons Hotels and Resorts, Alínio Azevedo, disse que o interesse da empresa no Brasil é anterior ao anúncio da escolha do Rio para a Olimpíada de 2016 e que seus investimentos em antecipação ao evento se baseiam na capacidade da cidade além dos jogos. A Four Seasons informou em dezembro que planeja investir US$ 235 milhões em três projetos no Brasil, um no Rio, um e São Paulo e um terceiro em outra parte do litoral.
Uma área em que Fontana, de Barcelona, disse ser necessário não poupar é em relacionamento com a mídia - e isso inclui ter a tecnologia apropriada para que as comunicações funcionem perfeitamente durante os jogos. De fato, um dos grandes efeitos dos jogos foi a melhora da imagem da cidade. Barcelona recebia 1,5 milhão de turistas antes dos jogos. Em 1995, o número já havia pulado para 3,1 milhões. Hoje são 6,5 milhões.
O secretário de desenvolvimento do Rio, Felipe de Faria Góes, acredita que a Cidade Maravilhosa possa seguir o exemplo espanhol. Uma vantagem, diz, é que "Rio já é uma marca global".
Mas embora a atual euforia em torno do Rio coincida com a Olimpíada, a Copa e o pré-sal, as discussões sobre investimento vão bem além.
No setor de infraestrutura do Rio, a Previ, por exemplo, tem hoje seu foco em transportes. Até 2015, segundo Moser, o fundo deverá investir R$ 4 bilhões, sendo R$ 1,8 bilhão em rodovias, R$ 1 bilhão no metrô e outro R$ 1 bilhão na área portuária. Todos esses projetos são desenvolvidos pela Invepar, uma companhia controlada pela Previ e que está sendo preparada para abrir seu capital na bolsa.
No radar estão também investimentos no mercado imobiliário. Élvio Gaspar, diretor do BNDES, por exemplo, disse que o déficit habitacional brasileiro poderá cair à metade nos próximos anos. "Também temos a oportunidade de alcançar 100% de tratamento de água e esgoto até 2018. A palavra-chave, no Brasil, é hoje universalização."
A carência de moradias - que é típica de todo o país, não só do Rio - casa com os projetos da CHL Desenvolvimento Imobiliário. A incorporadora carioca foi a maior da cidade em vendas e números de imóveis em 2009 e tem aproveitado a grande demanda reprimida que o programa Minha Casa, Minha Vida do governo federal tem ajudado a saciar. O fundador e presidente da empresa, Rogério Chor, disse que até um ano atrás 100% de sua oferta de imóveis residenciais era voltada à classe média ou alta e, agora, cerca de 40% já estão na classe baixa.
Fonte: Valor Econômico/ Por Paulo Trevisani, Hilton Hida e Raquel Balarin, The Wall Street Journal e Valor, de Nova York
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