Após mais de dez anos sem novas concessões de ferrovias, o governo federal deverá leiloar o trecho central da Ferrovia Norte-Sul nesta quinta-feira (28).
O vencedor da concorrência terá que investir R$ 2,7 bilhões na via em um prazo de 30 anos de contrato. Além disso, terá que pagar à União ao menos R$ 1,4 bilhão –lance mínimo definido pelo edital, mas que tende a crescer à medida que os participantes ofereçam ágios (aumentos) em relação a esse valor.
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A última concorrência do gênero foi justamente de outro trecho da Norte-Sul: em 2007, a Vale (então Vale do Rio Doce) venceu o leilão para operar o trecho norte, que liga Palmas (TO) a Açailândia (MA).
O tramo central, que será concedido nesta semana, liga Palmas a Estrela D'Oeste (SP) e tem 1.537 quilômetros. O trecho é controlado pela estatal Valec, que repassará sua concessão a um terceiro.
A expectativa é que a disputa seja travada entre a VLI (empresa de logística que reúne Vale, Mitsui, FI-FGTS, e Brookfield) e a Rumo.
As duas companhias controlam as ferrovias que fazem conexão com o trecho a ser leiloado.
A VLI opera o trecho norte da Norte-Sul, e a Vale, a Estrada de Ferro Carajás, que conecta a Norte-Sul ao porto de Itaqui, no Maranhão. A Rumo, por sua vez, controla a Malha Paulista, que fará a ligação da Norte-Sul com o porto de Santos.
O benefício das empresas –que tendem a conseguir dar lances mais agressivos por terem essa ligação com o trecho– foi alvo de diversos questionamentos judiciais e administrativos.
A principal crítica é que uma terceira empresa teria dificuldade de competir, porque o edital não garantiria o direito de passagem pelos tramos controlados pelas outras duas companhias.
Nesta quarta-feira (27), a Ferrofrente (Frente Nacional pela Volta das Ferrovias) apresentou ao STF (Supremo Tribunal Federal) um mandado de segurança pedindo uma liminar suspendendo o leilão.
Nas últimas semanas, o certame já havia sido alvo de uma ação popular, de recomendações contrárias do MPF (Ministério Público Federal) e do Ministério Público ligado do TCU (Tribunal de Contas da União).
No entanto, todas as ações até agora foram contornadas pelo Ministério de Infraestrutura: a liminar solicitada pela ação popular foi negada, o MPF firmou um acordo com o governo e o TCU decidiu pela manutenção do certame.
Mesmo com a realização da concorrência, há promessas de judicialização: o autor da ação popular, José Manoel Gonçalves, presidente da Ferrofrente, promete entrar com nova ação pedindo a anulação do resultado do leilão. No entanto, ele mesmo admite que a dificuldade é maior uma vez que o certame aconteça.
A associação, formada por diversos profissionais ligados ao setor, tem entre seus membros Bernardo Figueiredo, ex-diretor da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) e ex-presidente da EPL (Empresa de Planejamento e Logística). Hoje, ele é consultor da empresa russa RZD, que teria desistido de participar da licitação devido à questão do direito de passagem.
Ferrovia Norte-Sul tem estrutura para 9 milhões de toneladas de grãos Falta de vias que levem grãos aos trilhos desperdiça metade da capacidade do país Resolver o gargalo logístico poderia elevar em 35% a produtividade do agronegócio brasileiro, segundo analista Trecho em operação da Ferrovia Norte-Sul Grãos são armazenados antes de transporte pela Ferrovia Norte-Sul Terminal integrador da VLI, empresa de logística que administra concessões de ferrovias, entre elas a Norte Sul Interior de terminal integrador da VLI, empresa de logística que administra concessões de ferrovias Grãos descarregados em terminal da VLI Funcionários trabalham em terminal Terminal integrador da VLI Terminal Portuário São Luís Terminal Portuário São Luís, localizado no Porto de Itaqui Terminal Portuário São Luís, localizado no Porto de Itaqui
O leilão da ferrovia Norte-Sul será o primeiro de uma série de concessões ferroviárias previstas pelo ministro Tarcísio Gomes de Freitas, que promete uma "segunda revolução do agronegócio", que passaria a ter novas formas de escoamento de sua produção.
O governo prevê ainda licitar a Fiol (Ferrovia de Integração Oeste-Leste), entre Caetité e o porto de Ilhéus, na Bahia, e a Ferrogrão, um megaprojeto que ligaria Sinop (MT) a Miritituba (PA).
Além disso, Freitas pretende fazer a renovação antecipada de concessões ferroviárias em curso, em troca de novos investimentos pelas empresas. A medida é polêmica –críticos afirmam que beneficiam as concessionárias que operam atualmente e dificulta a entrada de novos atores no mercado– e ainda terá que ser aprovada pelo TCU.
Fonte: Folha SP