As ações da Petrobras operavam em forte alta nesta quarta-feira, repercutindo a fala do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, sobre a possibilidade de mais um aumento no preço da gasolina neste ano.
Os ganhos nos papéis da estatal, contudo, também seguiam tendência registrada desde que a Petrobras fez uma espécie de "faxina contábil" após anunciar o primeiro prejuízo em mais de 13 anos, e depois de a diretoria reafirmar que buscará novos aumentos nos derivados em busca da paridade para os preços do combustíveis, segundo analistas ouvidos pela Reuters.
Às 14h45, o papel preferencial subia 3,7 por cento, a 21 reais, e o ordinário tinha alta de 4,81 por cento, a 22,01 reais. Enquanto isso, o principal índice de ações da Bovespa subia 1,62 por cento.
A alta ocorria apesar de Lobão ter destacado que não há nada definido sobre o aumento.
"Existe a possibilidade, não existe a decisão", disse o ministro a jornalistas, acrescentando que o aumento é importante para a saúde financeira da Petrobras.
A alta está sendo discutida pelo Ministério da Fazenda e pelo Ministério de Minas e Energia, segundo Lobão, para que primeiro se chegue a um número ante de se tomar a decisão.
Por outro lado, o ministro admitiu a orientação do governo de esperar um pouco para realização do aumento de forma a não haver impacto na inflação.
Segundo o ministro, o aumento que foi dado no preço da gasolina em junho, de 7,8 por cento , não chegou ao consumidor em função da redução da Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico), mas ele não compensa a defasagem que a Petrobras tem em relação aos preços internacionais.
Um novo aumento na gasolina agora acabaria tendo efeito na inflação, considerando que a Cide foi zerada.
A defasagem dos preços dos combustíveis foi apontada como um dos motivos, mas não o principal, para o prejuízo registrado pela estatal no segundo trimestre, o primeiro em mais de 13 anos.
"Não vislumbramos nenhum instrumento que socorra (a Petrobras), senão um aumento", disse o ministro. "Mas a preocupação com o governo na inflação também é permanente", completou.
AÇÕES
Para Ricardo Corrêa, analista da Ativa Corretora, as ações da Petrobras estão subindo desde o anúncio do prejuízo devido a uma conjunção de fatores.
"O discurso da nova diretoria de compromisso com metas e cronogramas, além da busca pela paridade são pontos positivos, e a possibilidade de novo reajuste é uma notícia positiva para a empresa", afirmou ele.
Corrêa disse que o sentimento do mercado é que as perdas da estatal já chegaram a um limite. E, depois do que ele chamou de "faxina contábil", agora a empresa está pronta para a nova gestão. "Agora qualquer notícia pode fazer com que as ações subam", disse ele.
O analista da corretora Geração Futuro, Lucas Brendler, lembra que a possibilidade de um novo reajuste foi colocada em pauta por uma pessoa de dentro do governo, como o ministro de Minas e Energia.
"Isso acaba sendo relevante. A própria presidente da Petrobras já falou na segunda-feira que busca a paridade de preços com o mercado internacional, mas os últimos três aumentos que ocorreram em 12 meses ainda não foram suficientes. Ainda há uma defasagem de 15 por cento entre os preços internos e externos da gasolina", disse Brendler.
Na sexta-feira, a Petrobras divulgou um prejuízo líquido de 1,346 bilhão de reais no segundo trimestre, por conta da desvalorização do real e da defasagem de preços dos derivados no mercado interno. Uma queda na produção e maiores custos exploratórios também pesaram nos resultados.
INFLAÇÃO
O governo, controlador da Petrobras, segurou o repasse da volatilidade dos preços do petróleo no mercado externo para os combustíveis no mercado doméstico para conter a inflação. Há nove anos não há reajuste na bomba para o consumidor, lembrou o ministro de Minas e Energia.
Neste ano já foram realizados dois reajustes do diesel, de 4 por cento e 6 por cento nos meses de junho e julho, além da correção nos valores da gasolina.
Mas esses reajustes não foram repassados ao consumidor, à exceção da segunda alta do diesel.
Mesmo sem margem de manobra para evitar impacto na inflação, já que a Cide está zerada, o governo poderia autorizar uma nova correção considerando que a inflação neste ano está em níveis mais baixos que no ano passado.
Segundo o professor e coordenador do Centro de Macroeconomia Aplicada da Escola de Economia da FGV-SP, Emerson Marçal, o índice de inflação acumulada em doze meses deve cair.
"Como a economia brasileira passou por um momento de desaquecimento, a projeção é que no final do ano a inflação em doze meses feche entre 4,7 por cento a 5,3 por cento, ou seja, menor do que a registrada em 2011", disse em nota à imprensa.
A inflação oficial, medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), registrou alta 0,43 por cento em julho. Considerando os últimos 12 meses, o índice registrou alta de 5,20 por cento, segundo pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgado nesta quarta-feira.
Fonte: Reuters / Jeferson Ribeiro e Leila Coimbra
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