Depois de consolidar uma empresa que nasceu do zero como uma das maiores da América Latina no segmento de locação de máquinas e movimentação de carga pesada, o empresário Julio Eduardo Simões, dono da Locar, começa a acelerar o plano de se tornar também um grande operador no setor de navegação. Ele já opera balsas e barcos, tem uma base de apoio na Ilha do Governador (RJ) e até 2015, dos R$ 750 milhões que planeja investir, vai destinar R$ 250 milhões para ampliação do número de embarcações e na montagem de novas bases. O objetivo é oferecer desde o transporte de carga pesada até serviços de apoio aos setores de petróleo, petroquímica, mineração e siderurgia, entre outros.
A área de navegação é fundamental para a empresa atingir o faturamento de R$ 1 bilhão projetado para 2015. Este ano a Locar deve chegar aos R$ 550 milhões, alta de 58% sobre os R$ 348 milhões de 2010. Os guindastes ainda representam a maior parte da receita, perto de 60%. Enquanto a área marítima fica com apenas 7%. Transportes especiais (15%) e gruas, plataformas e manipuladores (5%) completam o faturamento. A previsão para 2015 é que o marítimo responda por 15%, contra 55% dos guindastes.
A empresa já tem 14 embarcações que fazem movimentação de carga e atuam em trabalhos especiais, como a salvatagem em Vitória (ES) para a Vale - dois descarregadores da mineradora sofreram um acidente no porto capixaba e naufragaram no fim do ano. O plano é chegar a 21 unidades até o fim de 2012 e atingir 35 em 2015. Do total, R$ 60 milhões serão gastos na compra de seis embarcações do tipo Line Handlers, em construção no estaleiro SRD, em Angra dos Reis (RJ), exclusivamente para a Petrobras. A Locar já atende a estatal, mas fechou outro contrato de oito anos para as novas embarcações, prorrogável por mais oito. Os barcos servirão de apoio às plataformas que a estatal tem no alto mar.
Mas o grande xodó de Simões no momento é um barco lançador de tubos, chamado de Locar Pipe, que está sendo construído no estaleiro Rio Maguari e entra em operação no fim de 2012. Ao custo de R$ 55 milhões e participação do BNDES, o barco será usado para lançar dutos em águas rasas até 100 metros, mas também pode servir como um hotel flutuante. A embarcação terá capacidade para acomodar até 150 pessoas e contará com heliporto, refeitório, ambulatório e até sala de ginástica.
Seis novas embarcações serão entregues até o fim de 2012 para atender contrato de oito anos com a Petrobras
Quanto as novas bases de apoio, não existe definição sobre os possíveis locais. A base da Ilha do Governador já recebeu R$ 25 milhões, de um total de investimento de R$ 50 milhões. Por enquanto é usada apenas para os navios da própria Locar, mas a intenção é abrir para embarcações de terceiros.
Simões conta que o modal marítimo complementa o serviço que já oferecia no transporte de cargas pesadas por rodovias. "Agora temos condições de pegar um peça para a refinaria de Suape em Pindamonhangaba (SP), descer de caminhão até o litoral, colocar em um dos nosso barcos e levar até o canteiro da obra. E se o cliente precisar, ainda podemos oferecer serviços de engenharia e entregar a peça montada."
A Locar nasceu em 1988, depois que Simões deixou os negócios da família com planos de trabalhar com grãos em Mato Grosso. Enquanto planejava seus novos negócios, foi convidado por um amigo para "administrar" alguns equipamentos em uma obra e não conseguiu mais sair do setor. Logo foi sondado para assumir outros trabalhos, desistiu de ir para Mato Grosso e começou a comprar suas primeiras máquinas, todas usadas.
"Não havia financiamento fácil naquela época, mas tinha a vantagem de conhecer as pessoas. Comprei equipamento de empresas que queriam deixar o setor. Muitos herdeiros não queriam seguir o negócio do pai e vendiam as máquinas", conta Simões. Nos anos 90 comprou as primeiras máquinas novas e experimentou as importações. Na década seguinte o financiamento ficou bem mais acessível e a dificuldade, admite o empresário, foi acompanhar o crescimento da economia e da própria empresa, hoje com 1,6 mil empregados, 1,3 mil equipamentos e filiais na Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo e Pernambuco.
"Quando me dei conta, tinha 12 diretores respondendo diretamente para mim. Precisava fazer alguma coisa." Simões então criou uma superintendência, montou um conselho de administração (com participação de conselheiros externos), passou a ter os balanços auditados e começou a se afastar do dia a dia da companhia. Mas nem por isso admite vender a empresa. Abrir o capital? Isso é algo para o futuro. "Nosso setor é de capital intensivo e não podemos descartar qualquer tipo de financiamento", afirma, deixando um porta aberta aos interessados.
Fonte: Valor Econômico/Carlos Prieto | De São Paulo
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