O crescimento do mercado de combustíveis exigirá investimentos de R$ 49,5 bilhões até 2030, na expansão da infraestrutura logística em portos, terminais, dutos e ferrovias, segundo a consultoria Leggio. Em meio à redução da presença da Petrobras no setor, a iniciativa privada deve assumir a liderança nesses novos aportes. Diante dessas perspectivas de negócios, a expectativa do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP) é que uma nova indústria se desenvolva no país: a de operadores independentes de dutos.
"Num momento em que a Petrobras está vendendo suas refinarias, não é razoável esperar que será ela a fazer esses investimentos. Precisamos criar no Brasil uma nova indústria, com investimento privado. Não tenho dúvida que se trata de uma atividade atraente para a iniciativa privada", afirma Alberto Guimarães, secretário-executivo de abastecimento do IBP, que contratou o estudo.
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Ele cita que o compromisso assumido pela Petrobras, junto ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), para vender metade de sua capacidade de refino, deve trazer para o mercado brasileiro uma diversificação de atores. E que esse cenário ajuda a criar um clima mais favorável para a vinda de investidores novos.
"Com a redução da posição dominante da Petrobras, a análise de risco do investidor privado muda. Com a desconcentração do mercado, há mais conforto para investimentos privados", comenta Guimarães.
Para que esse investimento, de fato, se concretize, ele destaca que manter um cenário de segurança jurídica e aperfeiçoar o processo de licenciamento ambiental são essenciais. Além disso, a entrada de novos investidores nesse setor dependerá, segundo Guimarães, do desenvolvimento de novas fontes de financiamento, no mercado.
A tendência, para o secretário do IBP, é que os investimentos em dutos sejam assumidos, sobretudo, por fundos de pensão interessados em receitas fixas de longo prazo. Uma inspiração, nesse sentido, seria o setor de transporte de gás natural, que atraiu investimentos do fundo canadense CDPQ, que comprou neste ano 31,5% da Transportadora Associada de Gás (TAG), e da Brookfield - que lidera o FIP que controla a Nova Transportadora do Sudeste (NTS).
"O midstream [transporte, armazenamento e comercialização de petróleo e derivados] costuma ser uma indústria com investidores independentes [separados dos negócios de produção e de refino]. Não acho que no Brasil vá ser diferente", avalia.
O estudo da Leggio, que será lançado hoje na Rio Pipeline, estima que o aumento do consumo de combustíveis líquidos demandará investimentos de R$ 12,3 bilhões em infraestrutura logística, como dutos, terminais e portos, e de R$ 37,2 bilhões em logística multimodal, sobretudo material rodante para transporte de cargas em trens e terminais específicos para ferrovias. Além disso, a consultoria prevê mais R$ 38,5 bilhões na construção de usinas de etanol e biodiesel, para atender as metas da política nacional de biocombustíveis (RenovaBio).
A consultoria aponta 22 projetos como prioritários, sendo oito deles na construção ou expansão de píeres e armazenagem de portos e terminais. A Leggio também mapeou sete projetos para melhorar a infraestrutura de recepção e entrega de cargas em ferrovias; e mais sete projetos de construção ou duplicação de dutos. O estudo é indicativo e traça os projetos mais prioritários para evitar gargalos na infraestrutura para abastecimento, diante da expectativa de crescimento do mercado de combustíveis nos próximos anos.
Questionado se a venda das refinarias da Petrobras a outras empresas muda o cenário de investimentos, Guimarães disse que a entrada de novos operadores pode mudar fluxos de abastecimento, mas que gargalos de infraestrutura existirão, independentemente da mudança no controle das refinarias. "O estudo não leva em conta quem é dono da refinaria. A maioria dos dutos propostos é para atender a fronteira agrícola. Esta é uma carência histórica."
Fonte: Valor