Presidente cita estado exportador nordestino para provocar países que só querem ‘vender’
Rio - Em seu último encontro com líderes do G-20, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recomendou que o próximo governo, da presidenta eleita Dilma Rousseff (PT), viaje mais ao exterior para melhorar as exportações brasileiras, “fazer mais negócio, colocar ministro pra viajar mais, colocar os empresários para vender mais”. Na reunião na Coreia do Sul, Lula apontou uma contradição entre os 20 países mais ricos do mundo: enquanto nações emergentes, incluindo o Brasil, retomaram os investimentos e aumentaram o consumo, os países ricos não conseguiram fazer o mesmo, “porque têm uma margem de manobra de consumo menor”.
“Se os países mais ricos não estão consumindo a contento, e todos querem lastrear a economia nas exportações, o mundo vai à falência, porque precisa de alguém pra comprar. Se todo mundo só quiser vender, como vai ficar o Ceará?”, perguntou, citando um estado brasileiro com tradição exportadora.
Embora também esteja na reunião do G-20 em Seul, Dilma não participou da coletiva com Lula. Mas os dois deixaram o hotel juntos para o jantar oficial da cúpula. Mais cedo, o presidente havia contado que tem a sensação “de dever cumprido” por ter feito sua sucessora e disse que os líderes mundiais não sentirão falta dele nas reuniões do G-20 porque o Brasil será representado por Dilma, “que fará muito mais bonito”.
Estreia
Embora ainda não tenha atribuições oficiais na cúpula, Dilma entrou na cena política internacional de vez ontem. Ao lado de Lula, ela foi recebida pelo presidente sul-coreano, Lee Myung-bak, de quem ouviu o pedido para que Brasil e Coreia do Sul consigam dobrar o comércio bilateral e os investimentos nos próximos cinco anos.
Mostrando que pretende manter a voz ativa do Brasil no cenário mundial, a presidenta eleita criticou a política monetária americana. No entanto, afirmou que a substituição do dólar por uma cesta de moedas como moeda de valor internacional, proposta na quarta-feira pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, é uma “entre várias posições” que serão discutidas hoje, no último dia da cúpula. “A melhor saída seria não haver a desvalorização do dólar. A política do dólar fraco faz com que o ajuste americano fique na conta das outras economias”, disse, no hotel onde está hospedada, o mesmo de toda a delegação oficial brasileira em Seul.
E depois de passar dias dizendo que ele e Dilma iriam a Seul “brigar contra a guerra cambial”, Lula desconversou: “Não tenho mais idade para brigar”.
Dilma defende aumento de salário de ministros
A presidenta eleita Dilma Rousseff (PT) defendeu ontem, em Seul, aumento salarial para os ministros, mas negou que haja a mesma necessidade de reajuste para o presidente da República. Segundo Dilma, se não houver aumento salarial será impossível nomear ministros, pois há uma “defasagem” em relação ao oferecido pelo setor privado. O salário bruto de um ministro atualmente é de R$ 10.748,43. “Alguma coisa tem de ser feita. Caso contrário, não teremos ministros”, disse.
Dilma avisou que não vai comentar sobre sua equipe de governo durante a viagem à Coreia do Sul, ao lado do presidente Lula. No sábado, ela estará de volta ao Brasil e se reúne com os coordenadores da transição em São Paulo. Depois, viaja para Porto Alegre ou Brasília, onde descansa no feriado. Se for para Brasília, pode já chegar na Granja do Torto, onde vai morar até a posse. Um caminhão com sua mudança descarregou no local ontem à tarde. Na terça-feira, ela retoma as atividades da transição.
Embora Dilma esteja silenciosa, o próprio Lula soltou ontem uma frase que deu a entender que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, continuará no cargo. O presidente passou tarefas para Mantega para o ano que vem. “Guido, na próxima reunião de ministros do G-20, é importante que se faça um levantamento para saber o que cada país fez sobre a crise internacional desde a primeira reunião até agora”, pediu.
Fonte: O Dia Online
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