Com o cronograma de implantação da Alpa (Aços Laminados do Pará), no município de Marabá, já atrasado em dois anos, a Vale decidiu não mais esperar pela boa vontade do governo federal em garantir a plena navegabilidade do rio Tocantins. O presidente da Alpa, José Carlos Soares, afirmou ontem, na cidade de Marabá, que a empresa já vem estudando o uso da logística de sua ferrovia, a Estrada de Ferro Carajás, como alternativa ao abortado projeto hidroviário.
A ideia da Vale, conforme frisou José Carlos Soares, é utilizar a ferrovia para trazer até Marabá os insumos necessários à operação da Alpa, como carvão e calcários. Também pela ferrovia deverá sair toda a produção do polo metal-mecânico de Marabá. Para o escoamento, a Vale estuda duas alternativas – o porto de Ponta da Madeira, em São Luís, ou o terminal portuário de Mearim, em Bacabeira.
A obra da hidrovia do Tocantins, que viria complementar as eclusas, deveria ter sido iniciada este ano, a um custo de R$ 520 milhões, para ser concluída em 2013. Ela consistiria no derrocamento de um trecho de 43 km no chamado Pedral do Lourenço, entre Marabá e Tucuruí, e em serviços de drenagem em diversos pontos do rio para remoção de bancos de areia. Se o governo tivesse mantido o seu plano de obras, a Vale poderia ter conservado também o seu cronograma, que previa a entrada em operação da Alpa em 2014. Agora, se prevê que ela possa começar a produzir em 2016.
A hidrovia do Tocantins começou a ir a pique mais uma vez no início deste ano, quando o governo federal anunciou um corte de R$ 50 bilhões no orçamento de 2011. Entre os projetos afetados pela decisão, estava precisamente o da hidrovia do rio Tocantins, que acabou inclusive retirado da relação de investimentos contemplados com recursos do PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento. A reação política encetada no Pará levou o Ministério dos Transportes, através do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), a acenar com uma versão mais edulcorada, embora considerada pouco verossímil desde o primeiro momento. Por essa versão, o projeto estaria apenas suspenso para ajustes técnicos, mas não cancelado.
Este foi o argumento utilizado pelo diretor de infraestrutura aquaviária do Dnit, Adão Marcondes Proença, numa reunião de que participou com empresários de Marabá no mês de outubro. Nesse encontro, promovido pela Associação Comercial e Industrial de Marabá (Acim), Adão Proença disse que as obras da hidrovia seriam futuramente retomadas, mas teve o cuidado de não estabelecer prazos. “O governo está desconversando”, foi a conclusão a que chegaram na época alguns dos participantes da reunião, já incrédulos em relação à retomada das obras.
Tampouco a direção da Vale parece acreditar nessa possibilidade. Ontem, em Marabá, o presidente da Alpa, José Carlos Soares, fez questão de reafirmar o compromisso da Vale com a implantação da siderúrgica, afastando enfaticamente os temores de que o projeto da Alpa também possa vir a ser abortado pela Vale. “O cancelamento da hidrovia do Tocantins não vai parar a Alpa”, disse ele, em entrevista à imprensa, num dos intervalos do I Simpósio do Setor Metal Mecânico de Marabá, o Simpomec. O evento, aberto ontem e cujo encerramento se dará hoje, é promovido pela Associação Comercial e Industrial do município em parceria com o setor privado, Governo do Estado e prefeitura local
(Fonte: Diário do Pará)
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