A Marinha do Brasil (MB) estuda adquirir, na metade inicial da década de 2020, por meio do conhecido expediente das “compras de oportunidade”, de seis a oito fragatas e destróieres atualmente em uso por, ao menos, quatro forças navais estrangeiras.
Em março último, o setor de Material da MB montou uma comissão destinada a identificar até oito escoltas de 2ª mão que poderiam interessar à Força de Superfície brasileira.
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Trata-se, não há dúvida, de uma releitura do Programa de Obtenção de Meios de Superfície, o PROSUPER, elaborado no fim da década de 2000, que previa a construção no país (sob assistência estrangeira) de cinco fragatas pesadas, na faixa das 6.000 toneladas – planejamento que, no semestre inicial de 2015, a então Presidenta Dilma Roussef congelou.
O discurso oficial da MB – encampado pelo próprio Comandante, almirante de esquadra Ilques Barbosa – de que os atuais meios de superfície da Esquadra terão a sua vida útil prorrogada até o limite das suas forças – e que por isso não haverá “compras de oportunidade” –, já não vigora, internamente, há várias semanas.
O motivo é a postura adotada, dentro da discrição possível, pela Alta Administração Naval (Comandante da Marinha + Almirantado).
Esse conjunto de oficiais-generais permanece aferrado à posição de que a Esquadra necessita, como “mínimo aceitável”, de 12 escoltas. E, hoje, as perspectivas para o atingimento dessa meta não são boas.
Deixando de lado os patrulheiros da classe Amazonas (formalmente vinculados às chamadas “forças distritais”), os chefes navais computam para a Esquadra, em um futuro próximo, somente a corveta Barroso modernizada pela indústria naval alemã (offset do programa Tamandaré), três fragatas classe Niterói que já vem sendo (lentamente) revitalizadas e, possivelmente, uma corveta classe Inhaúma – nesse caso, a Júlio de Noronha. Isto é, cinco navios no total.
Diretrizes – O grupo de trabalho montado pelo setor de Material tem um ano para investigar as características dos escoltas de 2ª mão que mais se adequam às necessidades da MB e, sobretudo, sua disponibilidade (prazos de descomissionamento, necessidades de reforma, preços, etc.).
O plano de investimento em escoltas usados deve importar numa aplicação de recursos (a longo prazo) da ordem de 800 milhões a 1 bilhão de dólares, e ainda não há, claro, uma equação para que esses valores possam ser garantidos.
Entre as diretrizes que norteiam a escolha dos navios ficou definido: o ideal seria que todos fossem da mesma classe. Caso isso não seja possível, a comissão aceitará indicar ao Gabinete do Comandante da Marinha duas classes diferentes, mas desde que elas possuam sensores e armamentos iguais ou semelhantes.
O Poder Naval apurou que, até este momento, os estudos do comitê pró-usados estão centrados nas oito fragatas ANZAC, de 3.600 toneladas, da Real Marinha Australiana, e nos nove destróieres (6.200 toneladas carregados) tipo Murasame, do Japão – ou quatro unidades de cada uma dessas classes, para que daí sejam extraídos oito navios.
Os australianos já anunciaram que vão começar a dar baixa em suas ANZAC no ano de 2024. Elas serão substituídas, a partir de 2027, pelos escoltas do Programa SEA5000. (Duas outras ANZAC pertencentes à Marinha da Nova Zelândia só serão desativadas em 2030.)
A meta dos chefes navais brasileiros é bastante ambiciosa, e inclui, até mesmo, uma sondagem, junto à Marinha dos Estados Unidos, sobre a possibilidade de a MB conseguir quatro destróieres de mísseis guiados do 1º lote de navios classe Arleigh Burke, de 154 m de comprimento e 8.900 toneladas de deslocamento (carregados) – que poderiam, eventualmente, se juntar a quatro Murasames.
O Flight 1 dos Arleigh Burke reúne 21 embarcações construídas na metade inicial da década de 1990.
Outra classe que atrai os analistas da comissão é a Halifax, da Marinha canadense.
As 12 fragatas de patrulha tipo Halifax, de 4.770 toneladas e grande autonomia – 17.600 km –, passaram, no período 2010-2016, por um programa de atualização de sistemas. E, até onde se sabe, não há prazos para que deixem a ativa.
Oceana – O leitor mais atento poderá supor que o aperto para a MB não é tão grande, já que, em 2024, a primeira fragata leve da Classe Tamandaré deverá estar pronta para operar.
Mas é preciso levar em conta que esse é apenas o cronograma inicial de obtenção do navio, e que, nesse momento, todos os recursos previstos para o programa Tamandaré estão bloqueados (“contingenciados”).
De acordo com o que o Poder Naval pôde apurar, o estaleiro catarinense Oceana, incumbido da construção da nova série de embarcações, já comunicou à Marinha: precisará de nove meses para reunir todos os recursos materiais e humanos antes de realizar o corte da primeira chapa do navio cabeça-de-série – evento que terá a presença do Comandante da Marinha e está, a priori, previsto para o início do mês de outubro de 2020.
De lá até o lançamento da embarcação ao mar serão dois anos; e depois mais dois, ou um pouco menos, para que o barco possa ser declarado entregue e pronto para operar.
Fonte: Poder Naval