As medidas adotadas pelo Brasil para lidar com os elevados fluxos de capitais decorrentes da política monetária adotada pelos países desenvolvidos no pós-crise "funcionaram muito bem", ao reduzir a instabilidade financeira e a volatilidade do câmbio, mas tiveram custos, disse em Washington, o diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, Luiz Awazu Pereira. Segundo ele, o país teve "que pagar um preço em termos da percepção do investidor estrangeiro, de transparência de política e de previsibilidade", e viu efeitos negativos sobre o "espírito animal" dos empresários locais - algo ruim para as perspectivas de investimento.
Segundo Awazu, no caso do câmbio o Brasil usou "essencialmente" o IOF para investimentos em carteira de não-residentes e sobre depósitos de margem em derivativos. "Muitos outros países emergentes fizeram o mesmo, acrescentando algumas vezes controle de capitais", afirmou ao comentar alguns dos desdobramentos da crise de 2007-2008.
Awazu lembrou que os países desenvolvidos levaram os juros para próximo de zero e adotaram a política de afrouxamento quantitativo, medidas que evitaram e depressão e conduziram a alguma recuperação da atividade. A questão é que isso causou efeitos colaterais para os emergentes, com fluxos de capitais colocando "pressão incomum" sobre os preços de ativos, o mercado de crédito e a inflação.
Nesse cenário, países emergentes reagiram com medidas fiscais, monetárias e macroprudenciais para controlar a demanda e preservar a estabilidade financeira. "Entre esses instrumentos, intervenções no mercado de câmbio, que incluíram controles de capitais, com o objetivo principal de reduzir a volatilidade da taxa de câmbio", afirmou ele.
De acordo com a Awazu, foi uma escolha difícil para os emergentes, mas necessária para evitar riscos à estabilidade financeira. Os países em desenvolvimento enfrentaram um dilema. De um lado, dada a deterioração de estabilidade financeira, indicadores sugeriam riscos como bolhas de preços de ativos e do crédito fácil, precursores de crises. De outro, a necessidade de tomar medidas não necessariamente tão amigáveis como o histórico do país sugeria, disse Awazu. "Acho que, depois de um tempo, isso realmente afetou o sentimento do mercado em relação ao Brasil." Foi um preço que o país teve que pagar.
Awazu disse acreditar que isso acabou. "Estamos falando um pouco do passado." O diretor do BC disse que o Brasil está crescendo e se recuperando e que o BC espera expansão do PIB de 3% neste ano. Segundo ele, os indicadores antecedentes de investimentos mostram um cenário favorável.
Fonte: Valor Econômico/Sergio Lamucci | De Washington
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