As ações ordinárias da Usiminas lideraram as altas do Ibovespa ontem, com valorização de 8%, para R$ 23,65. Voltaram ao mercado conversas sobre as investidas de Benjamin Steinbruch, dono da Cia. Siderúrgica Nacional (CSN), sobre a empresa.
Os controladores da Usiminas - Nippon Steel, Camargo Corrêa e Votorantim - terão de definir o futuro societário da empresa. Já é unânime no setor siderúrgico que os constantes avanços de Steinbruch para entrar no bloco de controle da siderúrgica mineira tumultuam e afetam a credibilidade da empresa. É um problema que terá de ser solucionado e, para o bem da companhia, não pode demorar muito.
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Enquanto a CSN faz suas compras na bolsa, o jogo parece estar mais favorável ao grupo Gerdau, que é visto como o contra-peso a Steinbruch e tem a simpatia da Nippon Steel para um futuro compartilhamento de gestão da Usiminas. Mas a Gerdau, depois de uma primeira avaliação de uma fusão da controlada Açominas com a Usiminas, aguarda melhores condições por parte dos japoneses. Segundo apurou o Valor, o grupo se retraiu há cerca de dois meses e não há consenso na família Gerdau sobre a viabilidade da união das empresas.
O governo não quer ver a Usiminas parar nas mãos de um grupo estrangeiro. Com livre trânsito e aproximação no Planalto, Jorge Gerdau tem todo o apoio para unir os dois ativos e ser a parte brasileira no controle da empresa. As sinergias operacionais de ambas são apontadas como fatores de aumento de competitividade - desde produção de matéria-prima própria (minério de ferro) à modal logístico.
Por mais que neguem, como fizeram em comunicado conjunto em abril, Camargo e Votorantim não conseguem convencer o mercado de que vão continuar sócios da Usiminas. As duas companhias têm, juntas, 26% do capital votante da siderúrgica.
Na época, informaram que receberam "indagações de terceiros sobre eventual interesse de venda de participação acionária na companhia". Informaram que não existia nenhuma proposta em aberto ou processo de alienação em curso. Essas indagações foram feitas por assessores financeiros da CSN. Recentemente, uma nova sondagem foi feita por Steinbruch, ao mesmo tempo que o empresário vem ampliando sua participação na Usiminas com compras na bolsa de ações ordinárias (ON, com direito a voto) e preferenciais (PN, sem direito a voto).
Após o pregão de ontem, as ONs da Usiminas valem quase o dobro (98%) do preço das PNs. Historicamente, as cotações das duas sempre foram próximas. Elas passaram a se distanciar desde que Steinbruch iniciou suas aquisições. No último comunicado divulgado, em agosto, a CSN informava ter 15,15% das PNs e 11,29% das ONs da Usiminas. Com isso, ficaram livres para circulação no mercado 78,33% das preferenciais e 12,60% das ordinárias. A liquidez das ONs, que já era pequena, ficou ainda mais reduzida e como, aparentemente, a CSN segue com interesse nas compras, o preço fica com tendência de alta.
A questão é que apenas as ONs da mineira possuem o tag along (prêmio de controle) de 80% previsto por lei. As PNs não.
No mercado, as apostas são de que a com a possível saída futura de Votorantim e Camargo do bloco de controle da Usiminas, a permanência da Nippon na empresa será suficiente para não configurar troca de controle.
No começo do ano, a CSN pagou ainda mais caro pelas ordinárias da Usiminas na bolsa e se essas ações voltarem até o nível das PNs, poderão ser uma perda de investimento. A CSN tem 13,13% do capital total da Usiminas, ou cerca de R$ 2,2 bilhões.
Em relatório, os analistas Rodrigo Barros e Silvia Baracaldo, do Deutsche Bank, avaliam que a Nippon (dona de 27,8% do capital votante) deverá exercer seu direito de preferência para a compra das fatias dos sócios. Eles lembram que a convivência com a CSN é improvável, uma vez que a Nippon recentemente encerrou uma parceria com a empresa de Steinbruch na Namisa, entre outros razões, por conta de divergências em visões estratégicas.
A grande questão, segundo o Deutsche, é se a Nippon chamará um novo sócio para o negócio.
Apesar de ninguém no mercado apostar em sua estratégia, ainda misteriosa para muitos, Steinbruch avança em sua tentativa de vir a controlar a Usiminas. Ele explica que as duas empresas terão muitos ganhos de sinergias juntas - por exemplo, uso de minério de ferro da mina Casa de Pedra, terminais portuários e acesso aos trilhos da MRS, na qual são sócias, além de complementação de mix de produtos.
Fonte:Valor Econômico/Por Ivo Ribeiro e Ana Paula Ragazzi | De São Paulo
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