O mercado interno de produtos siderúrgicos passará por forte acomodação em 2022, conforme projeções do Instituto Aço Brasil, anunciadas ontem. A entidade estima crescimento de 2,5% das vendas internas, no próximo ano, para 23,35 milhões de toneladas. Para 2021, a expectativa é que a comercialização interna de aço encerre em 22,78 milhões de toneladas, com expansão de 17%. O consumo aparente também tende a se acomodar, com alta de 1,5%, para 27,05 milhões de toneladas, ante o aumento de 24,3%, para 26,65 milhões de toneladas neste ano.
“Acreditamos que os patamares de demanda se sustentam em 2022”, disse o presidente do conselho diretor do Aço Brasil, Marcos Faraco, em entrevista coletiva. Segundo ele, inflação e juros são pontos de atenção, mas os sinais são de um “ano bom” para o setor. Há “nuvens de atenção a serem acompanhadas ao longo do ano”, segundo Faraco, que serão monitoradas.
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O presidente executivo da entidade, Marco Polo de Mello Lopes, informou que a entidade trabalha com a expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) acima de 2% no próximo ano. A projeção supera as estimativas do mercado que vão de retração da economia até expansão máxima inferior a 1% em 2022.
A perspectiva de vendas para setor imobiliário, no início de 2022, segue positiva, de acordo com Faraco. Questionado sobre o impacto, a partir da segunda metade do ano, da desaceleração do setor imobiliário que já começa a ocorrer, disse que tem havido acomodação de lançamentos e vendas. “Ainda é cedo para fazer previsões para o segundo semestre”.
O Aço Brasil aposta também em aumento da demanda por aço para obras de infraestrutura, além de bens de capital e implementos agrícolas - as exportações de grãos tem aumentado.
Segundo Lopes, o grau de uso da capacidade do setor está muito baixo. Considerando-se o período de janeiro a outubro, a média de utilização da capacidade ficou em 71,4%. A média mensal de vendas de laminados, no período, foi de 1,906 milhão de toneladas, com expansão de 19,6% na comparação anual.
Com o início da pandemia de covid-19, em março de 2020, houve queda na demanda e consumo de estoques de aço. “Em seguida, vieram a retomada em V da economia e a recomposição de estoques”, disse o presidente executivo do Aço Brasil. Com o aumento da demanda e o “boom” dos preços da commodities, houve elevação de preços do aço no Brasil e no mundo.
Segundo Lopes, a entidade não aceita “colocação de especulação de preços”. Ele ressaltou que os incrementos resultaram de altas no mercado internacional decorrentes das variações dos valores de matérias-primas como minério de ferro e carvão. Ao ser questionado sobre expectativas em relação aos preços de aço, o presidente executivo limitou-se dizer que “a pressão cessou porque o ‘boom’ de commodities se exauriu”.
“Na guerra de narrativas em 2020, o setor foi acusado de estar aumentando suas exportações. Mas diminuímos as exportações para atender ao desbalanceamento da cadeia”, disse Lopes. Os embarques cairão 4,3%, em 2021, para 10 milhões de toneladas.
Em janeiro, uma missão com presidentes das siderúrgicas brasileiras irá aos Estados Unidos em busca da retirada da cota de 3,5 milhões de toneladas de semi-acabados do país para que seja possível elevar as exportações. O setor já recorreu ao Ministério das Relações Exteriores (MRE) para informar que a produção norte-americana de aço não é suficiente para atender ao plano de US$ 1,2 trilhão para infraestrutura anunciado pelo presidente Joe Biden.
“Estamos tendo intensas conversas com o MRE e com a área econômica”, disse Lopes. O Brasil é o maior fornecedor de semi-acabados para os Estados Unidos e tem direito ao embarque de 3,5 milhões de toneladas sem tarifa. Caso não for possível retirar a cota, os representantes das siderúrgicas brasileiras buscarão elevá-la para 4 milhões de toneladas.
Segundo o Aço Brasil, os investimentos no setor projetados de 2021 a 2015 somam R$ 45 bilhões.
Fonte: Valor