Os recursos levantados pelas companhias de mineração e metalurgia caíram mais de 25% no ano passado em comparação a 2011, na primeira queda anual desde a crise financeira mundial de 2008-09. Trata-se do primeiro cálculo anual divulgado pela consultoria Ernst & Young.
A queda na captação de recursos foi tão crítica no segundo semestre do ano que fontes do setor chegaram a mencionar, em tom de brincadeira, uma "greve de capital", uma vez que muitas empresas cancelaram projetos.
A Ernst & Young estima que o volume de capital levantado pelas companhias mineradoras e metalúrgicas chegou a US$ 249 bilhões em 2012, em comparação a US$ 340 bilhões em 2011, fruto de uma grande queda nos recursos oriundos de ofertas públicas iniciais de ações e empréstimos bancários sindicalizados.
A "greve de capital" foi particularmente sentida pelas companhias mineradoras em início de atividade listadas nas bolsas de valores de Toronto, Londres e Sidnei. Essas mineradoras arcam com a maior parte dos esforços de exploração na indústria mineradora e executivos temem que a falta de recursos possa resultar em menos descobertas de depósitos de minério de ferro.
Lee Downham da Ernst & Young diz: "A suspensão dos investimentos por muitas companhias mineradoras e metalúrgicas, diante da alta dos custos e da queda dos preços em 2012, continuará enquanto os preços das commodities não se recuperarem o suficiente para encorajar novos investimentos."
A maior queda na captação de recursos atingiu o mercado de ações, tanto no segmento de ofertas públicas iniciais de ações, quanto no de emissões de direitos de subscrição. O valor das IPOs recuou no ano passado ao seu menor patamar desde 2007, com uma queda de 81% nos recursos captados, para US$ 1,3 bilhão. "É difícil encontrar lógica na natureza indiscriminada da retirada das ações", disse a consultoria.
Além disso, a grande aversão ao risco resultou em redução de 48% nos recursos obtidos com operações no mercado secundário de ações, para US$ 26 bilhões. "Cerca de 20% das emissões feitas pelas companhias mais novas foram vendidas a preços menores que os pretendidos, indicando o tamanho das dificuldades para se conseguir recursos."
Os empréstimos bancários também diminuíram bastante, já que os bancos reduziram sua exposição ao setor para fortalecer seus balanços em antecipação às novas regras do Acordo da Basileia III.
Os bancos emprestaram US$ 106 bilhões às mineradoras e metalúrgicas no ano passado, uma queda de 43% em relação a 2011. "Para essas companhias, a disponibilidade reduzida de endividamento bancário inevitavelmente aumentou os custos dos empréstimos e resultou em cláusulas contratuais cada vez mais restritivas", disse a consultoria em sua análise trimestral do setor minerador.
As emissões de bônus foram o único ponto positivo, com os recursos atingindo recorde de US$ 113 bilhões, em comparação a US$ 83 bilhões em 2011, uma vez que as companhias usaram os mercados de bônus para reduzir sua dependência do endividamento bancário. A consultoria disse que o cupom médio sobre os títulos de 5 e 10 anos em dólares, das companhias mineradoras e metalúrgicas com grau de investimento, caiu para 3,9% no ano passado, depois de chegar a 4,7% em 2011.
A capacidade do setor de captar recursos pode melhorar este ano, uma vez que o crescimento da economia mundial ganha força. "Em última análise, o jogo do financiamento mudou."
Fonte: Valor / Javier Blas
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