Martins, diretor da Vale: "Depender da Ásia e da China nesse cenário incerto que estamos vivendo não é um mau negócio"
A crise que afeta Europa e Estados Unidos deixa um cenário indefinido para os preços do minério de ferro em 2012. "Estou moderadamente otimista, mas tudo depende do impacto da desaceleração do Ocidente sobre a Ásia, com destaque para a China, nossa maior cliente", disse José Carlos Martins, diretor executivo de marketing, vendas e estratégia da Vale. O minério de ferro retomou alta de preços desde 2009, após crise de 2008, e no segundo trimestre bateu em US$ 145,30, o maior preço médio já alcançado na história da mineradora.
Para os últimos seis meses de 2011, a tendência é de estabilidade nesse patamar elevado de preço. O terceiro trimestre deve repetir ou até superar a média de preço do segundo. Já transcorridos dois meses, a indicação dada pelo comportamento do mercado spot chinês até agora é de que o minério deve ficar mais três meses com preço estabilizado. "Se tal ocorrer, serão nove meses seguidos com o mesmo preço", constata Martins. Na sua avaliação, isto sinaliza que o mercado de minério encontrou equilíbrio nesse patamar e até agora não revelou nenhuma tendencia mais definida para baixo ou para cima. "O mercado está andando de lado".
Do ponto de vista do diretor-executivo da Vale, se o preço do minério vai decolar ou ceder depende do quanto esta crise pode contaminar a Ásia, que continua em processo de crescimento. "Na China, a grande preocupação é a inflação. Se houver desaquecimento na Europa e nos Estados Unidos a tendência é reduzir a inflação e isto é bom para a China. Mas no momento está difícil de ver a direção do mercado. O cenário não está claro. A crise está estimulando a migração de ativos e, depois do acordo da dívida americana, está havendo uma corrida para os títulos do Tesouro e para o ouro. Todas as commodities industriais, como cobre e níquel, caíram um pouco por causa do fantasma da recessão. Sexta-feira, o preço do minério no 'spot' chinês caiu um pouco. Está oscilando. Mas não creio em queda brusca das commodities nem em desaceleração brusca da economia chinesa. Aposto mais num ajuste temporário. Esta crise não será igual a de 2008, que derrubou os mercados", prevê.
Regionalmente, a demanda pelo minério de ferro estabilizou no Ocidente - Europa e Américas -, mas num nível 15% mais baixo que o nível pré crise de 2008. Esta queda foi compensada pela Ásia, considerando China, Índia, Coreia e Japão, onde a procura pelo insumo cresceu 25% em relação ao nível pré crise. O resultado é um crescimento de demanda de 10%. Isto levou a um aumento da dependência da Vale em relação a China, que absorve mais de 30% das vendas de minério da companhia.
Martins não vê este fato como negativo e acredita que esta dependência só tende a aumentar. "Depender da Ásia e da China nesse cenário incerto que estamos vivendo não é um mau negócio. É melhor do que ficar dependente dos Estados Unidos e da Europa. Mas ninguém pode achar que quando a maior nação do mundo enfrenta problemas isto não tenha um impacto sobre os outros países. Estamos num 'turn point' perigoso, porque embora os Estados Unidos estejam em decadência, não há ainda no mundo uma nação que possa vir a substituí-los em termos de liderança global. Acho que a China chega lá, mas não está totalmente preparada para isso."
Martins acredita que a economia chinesa, mesmo frente a uma potencial redução das exportações americanas, ainda tenha um espaço de manobra grande em termos de variáveis econômicas. "E isto não é ruim para a Vale". Ele acredita que uma queda das vendas para o mercado americano vai levar o governo chinês a acionar outros mecanismos alternativos para estimular mais a economia interna, como aconteceu em 2008. Naquele ano, quando as exportações da China caíram violentamente porque o mundo todo entrou em recessão os chineses sacaram um plano de crescimento para recuperar o país. Agora, pode acelerar o processo de urbanização. "E isso pode nos garantir mercado", espera o executivo.
Segundo informou, a Vale deve produzir este ano 311 milhões de toneladas de minério de ferro e, num cálculo muito preliminar, embarcar cerca de 260 milhões, dos quais 75% para a Ásia.
Fonte: Valor / Vera Saavedra Durão
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